Breves apontamentos sobre as visitas à diáspora

Prometemos anteriormente abordar o tema, e cá estamos para vos falar das visitas às comunidades madeirenses. O “pai da criança” foi José Luís Cabrita, em 1977, que escreveu sobre as Ilhas do Canal, a sua autonomia e moeda própria, numa altura que as ideias independentistas reinavam nas mentes de diversas classes da sociedade madeirense. Daqui nasce o Madeirem, Congresso dos emigrantes madeirenses, na sala de congressos do Casino da Madeira, há 44 anos.
Recordamos Sá Carneiro ao lado de Alberto João Jardim, falando aos emigrantes madeirenses espalhados pelos quatro cantos do mundo. Sá Carneiro disse que os mesmos “levaram uma mensagem de trabalho, de honestidade e seriedade, portugueses e madeirenses de língua, civilização, de costumes e de história”.
Quanto a Alberto João Jardim, sublinhava que mais que pedir aos emigrantes que mandassem dinheiro, era importante dar-lhes a conhecer o que se passava na região, informá-los com verdade, e então deixá-los optar livremente, se na verdade a situação e a conjuntura merecessem confiança.
Cabrita indica Virgílio Teixeira, actor madeirense de carreira reconhecida, a AJJ,  sendo o primeiro presidente das comunidades madeirenses, com escritório na Rua 5 de Outubro.
A presença da Madeira e Alberto João Jardim na África do Sul começou com a presença nas feiras do Rand Show em Joanesburgo, no mês de Abril. Presto aqui homenagem ao Dr. Constantino Palma, do Instituto do Vinho, ao Dr. Feliciano Abreu, do Instituto do bordado e ao Dr. Telmo, do Fundo de Fomento de Exportação, que levavam os produtos madeirenses a esse certame internacional.
Em 1983 o Marítimo, no final de época, desloca-se a Joanesburgo nas comemorações do 10 de Junho, para disputar dois jogos no velho Rand Stadium em La Rochelle, com uma selecção de jogadores portugueses que militavam em diversas equipas do campeonato português.
Acontece que devido ao Apartheid, a FIFA e outras federações ameaçaram os clubes com sanções. O Marítimo realizou somente um jogo com uma selecção recrutada de jogadores que militavam em diversas equipas do campeonato português, ao qual assistiu Emanuel Rodrigues, presidente da Assembleia Regional na altura em que estava na África do Sul, a representar o presidente Ramalho Eanes no Dia de Portugal.
Os empresários deste evento desportivo fugiram porém aos seus compromissos, deixando o Marítimo sem recursos para regressar, uma vez que o cachet ficou sem efeito. Chefiava a caravana verde rubra o Dr. Fernão Freitas, que tinha nos braços o pagamento do hotel e refeições dos atletas e o regresso imediato à Madeira.
Como fui integrado na caravana madeirense, acabei por ser interlocutor na  apresentação do dirigente maritimista Dr. Fernão Freitas ao empresário Horácio Roque, no escritório  do comendador, a duas centenas de metros do hotel em que estávamos hospedados.
Horácio Roque nem conhecia a Madeira, mas tinha grandes contactos com a comunidade madeirense na África do Sul. O comendador emprestou o dinheiro ao clube madeirense  e o Marítimo depositou o respectivo valor na Caixa Económica do Funchal. Foi na Commissioner Street no centro de Joanesburgo que encontrei o director geral do Diário de Noticias, que regressava de uma viagem à Rodésia, motivada pela venda de uma fazenda dos seus avós, e que pisava pela primeira vez o solo sul-africano, de regresso à ilha.
Nas nossas conversas já na Madeira, incuti a ideia da presença do Diário em futuras feiras, e quando os governantes madeirenses iam em visitas à África do Sul.
Nascem então os suplementos sobre a diáspora e realiza-se a deslocação de uma equipa a diversas cidades da África do Sul, como Joanesburgo, Pretória, Durban, East London, Port Elizabeth e Capetown. Entrevistámos o arcebispo Desmond Tutu, líderes de diversos partidos, o “Speaker” do Parlamento sul-africano, presidentes de diversos “Town Hall”, madeirenses de todos os extractos, associações portuguesas e Casa da Madeira. Foi o maior suplemento do género até os dias de hoje, com 90 páginas. Um marco na história da imprensa regional, de tal ordem que os distribuidores negaram-se a distribuí-lo, devido ao peso.
Mais tarde, nascem sempre a “reboque” de Alberto João Jardim, no mercado de Joanesburgo, nas Casas da Madeira em Pretória, Joanesburgo e Associação Portuguesa do Cabo, os encontros gastronómicos, onde levámos o peixe espada preto da Madeira à mesa dos nossos emigrantes, bem como outras iguarias.
Tudo isto tinha um patrocinador: na transição da  Caixa Económica do Funchal para o Banif, o administrador residente Dr. Marques de Almeida foi o grande facilitador dessas deslocações. A TAP era outro parceiro na carga e em passagens. Foi a maior divulgação escrita da história da comunidade, na época.
Estes eventos continuaram, levando artistas madeirenses para actuar nas comunidades. Quero aqui manifestar que se deve ao ex-líder madeirense Alberto João Jardim integrar nas suas deslocações jornalistas a expensas pagas pela Presidência, através de uma agência de viagens, a Wagon Lits, que planeava a visita presidencial. Se assim não acontecesse, os jornalistas madeirenses só conheceriam nessa altura a Calheta e o Porto Moniz, e mesmo assim viajando nas “rancheiras” (viaturas automóveis) do Governo Regional, onde se deslocavam antigamente às inaugurações, dado que os jornais tinham poucos carros próprios.
Hoje o DN-Madeira tem uma firma de eventos que programa e sugere as viagens da Presidência e Vice-Presidência do GR. Quanto a Jardim, deixou de integrar jornalistas nas comitivas em 1997, após uma viagem à Venezuela, Curaçau, Aruba e Panamá.
Já quanto à Venezuela, o “pai da criança” é um um jornalista luso-venezuelano,  criador do Correio de Caracas. O DN-Madeira aproveitou a ideia, em colaboração com emigrantes. Mas o jornal das comunidades já existia há muitos anos e era pertença do Governo Regional, que tinha três jornalistas, duas mulheres e um homem, do quadro redatorial do Jornal da Madeira, que recebiam cada um a modesta verba de 80 contos mensais.
Ultimamente, estas visitas às comunidades têm alternado entre o PS, Governo Regional e Câmaras Municipais, em idas às Ilhas do Canal e Londres, capital do Reino Unido.
Agora temos o 10 de Junho à porta. É a segunda vez que comemoramos o Dia de Portugal na RAM. Deixo por último uma referência a Marcelo Rebelo de Sousa, que, presidente do PSD, propôs o direito de voto para os emigrantes portugueses nas eleições presidenciais na próxima revisão constitucional. Mas só este ano, pela primeira vez, o desejo de Marcelo se cumpriu na sua recandidatura.
Muito havia ainda para contar. Simplesmente levantámos, por agora, o véu sobre a história das visitas às comunidades.