A “Corte do Norte” e a sua origem

 Em princípios do século XVIII, Norberto António d’ Ornellas, Senior, deixou a freguesia da Calheta onde vivia – talvez local dos seus antepassados, os Aires de Ornellas. Segundo vem registado, Aires de Ornellas aportara no Caniço nos finais do século XV e descendentes seus espalharam-se pela Ilha. Um deles, um Morgado, casou-se na Fajã da Ovelha, com uma senhora daquela freguesia, D. Joana d’ Ornellas e Vasconcelos, de quem teve grande descendência.

  Então, um dos descendentes – Norberto António d’ Ornellas Sr, veio ao norte da Ilha, onde comprou meia freguesia na Ponta Delgada. Aqui se fixou e constituiu família. Como a primeira esposa, D. Joana, morreu de parto, casou ele em segundas núpcias com a cunhada, mas não houve descendência. Porém, o filho mais velho, meu bisavô, ficou tutor dos irmãos e aumentou as terras da família ao ponto de mais de metade da freguesia do Calhau, até às Lombadas, ser tudo dos Ornellas.

 Meu bisavô, Norberto António d’ Ornellas Jr, comprou terras  da família Bermudes, que vivia na Corte e vinha passar o Verão à “Corte do Norte”, assim como a família Castel-Branco… Esses nobres apadrinharam o primeiro casamento do meu bisavô Norberto António d’Ornellas Jr. com a D. Maria Teresa de Freitas e Abreu, na igreja de S. Pedro, Funchal, e viveram na velha Rua das Mercês. Não tiveram descendência, pois a D. Maria Teresa casou já idosa.

 Ainda em vida da esposa, meu bisavô adquiriu a grande fazenda ligada ao Solar do Ladrilho que, primitivamente, teria tido capela da Senhora Sant’ Ana, isto no dizer do ilustrado Padre Fernando Augusto da Silva (Elucidário Madeirense). Havia duas casas, nas quais foram feitas obras (comprovado em correspondência epistolar no espólio da Casa-Museu); as únicas referências dessas alterações são visíveis no edifício actual. As paredes são delgadas, os tectos de gesso, ligeiramente trabalhados, mas o lado antigo da casa tem tectos de madeira e a espessura das paredes é grande.

Na velha Casa do Pico com o seu minarete, donde se avista desde Porto Moniz a S. Jorge, nasceram ali todas as famílias gradas da freguesia: os Freitas, os Henriques de Freitas, os Abreus, os Cabrais, os Freitas e Abreu, e muitos outros cujos descendentes já não existem.
Da “Corte” vinham as famílias nobres que aqui tinham as suas propriedades e escolhiam o bom clima e sossego e amenidade da região.

 O meu trisavô Norberto António d’Ornellas Sr veio da Calheta (onde muitos descendentes dos primeiros Aires de Ornellas, donatários do Infante, vieram povoar a Ilha) foi um dos maiores senhorios da Ponta Delgada. A segunda esposa do meu bisavô foi a irmã da D. Joana, que morreu de parto, e quem criou os filhos menores. Ficou como tutor após a morte dessa senhora.

O meu bisavô Norberto António d’Ornellas Jr, casou em primeiras núpcias com D. Maria Teresa de Freitas e Abreu, ainda sua prima em 3º grau de consanguinidade, mas não houve filhos, pois era idosa. Ele tornou a casar-se mais tarde com D. Balbina Cândida de Freitas, igualmente  parente da D. Maria Teresa de Freitas e Abreu, pelo que só pôde casar em 1895. Ele ia por vezes à “Corte”, segundo relatos da correspondência existente no espólio da Casa-Museu; numa dessas missivas à esposa, dos seus amigos … “o Sr. Norberto ia com o fato novo, parecendo muito bem”… Parente de D. Aires de Ornellas e Vasconcelos, compadre do Visconde da Calçada e, também, da família Castel-Branco.

 O primeiro Engenho a vapor em Ponta Delgada foi do avô materno de meu pai, Horácio Bento de Gouveia. No seu maior romance “CANGA” tudo vem relatado, pois é uma das suas autobiografias.

 A título de memória e saudade, recordo a grande Agustina Bessa-Luís e marido, Dr. Alberto Luís, amigos que connosco passaram uns dias na Ponta Delgada e inspiraram a escritora no seu romance ” A Corte do Norte “. Com eles celebrámos a título particular o nascimento da Casa-Museu Dr. Horácio Bento de Gouveia, juntamente com os casais Dr. Henrique de Freitas e esposa, e Dr. António Rebelo Quintal e esposa… A “Corte do Norte” está ligada a todos os que no passado, e agora, a visitam e admiram.