A semana passada fomos todos Jesus. O Jorge, não o Cristo.
Até eu, que não sou nada dada ao desporto da bola nos pés, senti-me contagiada pela onda portuguesa que varreu o Rio de Janeiro.
Porque foi isso que aconteceu, Portugal em grande no Brasil. E isso todos nós gostamos de ver. Um português que não se “abrasileirou” para ser entendido, continuando a fazer valer o português de Portugal. O portugês do Jorge Jesus, pelo menos.
É bom ver um conterrâneo vencer, ser reconhecido, festejado e agraciado.
Todos gostamos de ver a bandeira de Portugal a ser erguida bem alto. Mesmo aqueles que não gostaram de ver a bandeira da Guiné-Bissau por detrás da Joacine.
Todos gostamos de ver um português bem sucedido no estrangeiro, contra tudo e contra todos. Mesmo aqueles que não gostam de ver ninguém bem sucedido ao pé de casa.
De repente, os cabelos loiros com madeixas até não lhe ficam mal. Como assim, os anos 90 estão na moda. Ou não fosse eu uma fã do Revenge of the 90’s.
Os seus trejeitos e expressões faciais passam de absurdos a caricatos e engraçados. É uma personagem maior que a vida. E as grandes personagens são assim. Únicas.
O discurso passa de anedótico a característico. E o “otchencha e otcho”, o “nunca tinha ouvisto um homem a dizer I Lave you a outro homem” e o “Cinco? Com fraturas?” passam a clássicos instantâneos. A par e passo com aquela do prognóstico e a do calado é um poeta.
Tudo muda. A eterna lógica da pessoa vista à luz dos seus feitos. Ou da galinha do vizinho que é sempre melhor que a minha. Ainda não sei.
Seja como for, é algo que nos orgulha. Mais ainda quando percebemos a magnitude, o impacto que tem uma torcida como a do Flamengo. Olhar para aquele mar de gente e ver um dos nossos dá aquele arrepiozinho bom no braço.
E depois o futebol. A importância do futebol para os portugueses.
Futebol, Fado e Fátima. Os três pilares da ditadura.
Dei por mim a pensar nesta frase esta semana. Por causa da história das barracas de Natal.
Acho que se deveria atualizar a frase. Mas Futebol, Fado, Fátima e Festa já não soa tão bem. Vamos ter de deixar o Fado ou Fátima para trás. Não vai ser fácil.
Caiu que nem uma bomba a noticia de poder não haver mercadinho de Natal na Placa Central. Eu sei que me indignei.
Não se conhece a verdadeira fúria de um madeirense até se meterem entre ele e a sua poncha. Não nos testem. Muito menos na altura da Festa.
Quer dizer, passa uma pessoa onze meses à míngua, à espera do momento em que finalmente beber às seis da tarde não é alcoolismo, é Natal, e agora nada?
Estava a ver que iria ser coisa para um levantamento popular. Como os da Catalunha. É só substituir a independência pelo direito de beber uma Coral na Placa Central. De resto é o mesmo.
Coisas para fazer cair Câmaras e Governos. E como isso se sabe. Querem ver?
Não tínhamos. Depois até já tínhamos dois. Não há fome que não dê em fartura. Ou sede.
Agora já só temos um, no sítio e como de costume. Os costumes são bons. Eu gosto.
Já pensei bem. Vai ter de ficar mesmo Futebol, Fado, Fátima e Festa. Mesmo que soe mal.
As pedras basilares da alienação e pacificação do povo.
Confessem, leram o título e acharam que eu vinha para aqui dizer se era a Câmara ou o Governo quem tinha razão.
Ou que parecia que estávamos num concurso infantil de medição de comprimento de …. de…. como é mesmo o nome daquilo? Que os homens esgrimam quando se querem fazer sobressair? Medir…. Ai, está debaixo da língua….. Ah, argumentos. É isso, claro. Medir e esgrimir argumentos.
De que é que acharam que estava a falar?
Vemo-nos na Placa Central. Serei aquela com uma Coral na mão. Às seis da tarde.
Só porque é Natal.