O monumento ao Infante D. Henrique

Desde Julho de 2015, têm surgido diversos protestos sobre a degradação do monumento dedicado ao Infante D. Henrique, na cidade do Funchal. Mas, até hoje, nada foi feito em favor da sua dignificação. Danilo Matos, Emanuel Gaspar, João Baptista, Raimundo Quintal e Rui Marote assinaram algumas dessas chamadas de atenção na imprensa e nas redes sociais.

No passado, quando se publicava um reparo sobre determinada situação, havia, quase sempre, o cuidado de resolver (ou esconder) o assunto, principalmente se se tratava de obra com fácil remedeio e pouca despesa. Alguns governantes de agora desdenham opiniões idóneas e fingem desconhecer erros, anomalias ou casos problemáticos, amplamente fundamentados e divulgados. Consideram-se portadores da máxima sabedoria em várias matérias e acima dos cidadãos. Assim sendo, os alertas da cidadania activa vão caindo em saco roto, com prejuízos para a democracia e para a comunidade.

Na verdade, o monumento ao Infante deveria merecer a atenção urgente da Secretaria Regional do Turismo e Cultura e da Câmara Municipal do Funchal. A necessária intervenção não pode ser constantemente protelada, principalmente no âmbito das comemorações dos 600 anos do povoamento do Porto Santo e da Madeira.

Fotos: NV, Abril de 2019

Penso mesmo que, em vez daquela anacrónica escultura do Infante que, desajeitadamente, foi colocada no Porto Santo sobre uma palete, na festa de Todos os Santos do ano passado, seria mais útil uma intervenção cuidada no monumento a D. Henrique, da cidade do Funchal. Sim, porque aquela bonita alameda modernista da ilha dourada, idealizada pelo arquitecto Raul Chorão Ramalho em 1955, dispensava, sob todos os títulos, a excrescência concebida para a Exposição Colonial Internacional de Vincennes, de 1931, e desenterrada, com mau gosto e desconhecimento da arte pública, pela Comissão Executiva da Estrutura de Missão para as Comemorações dos 600 anos do Porto Santo e da Madeira.

Projectado pelo arquitecto Francisco Caldeira Cabral, o monumento a D. Henrique da cidade do Funchal mereceu pomposa inauguração em 28 de Maio de 1947, um dia com grande significado para a ditadura do Estado Novo. A escultura em bronze, concebida por Leopoldo de Almeida e fundida em 1941, foi adquirida pela Câmara Municipal do Funchal, conforme deliberação de Novembro do ano anterior.

A Praça do Infante, a rotunda com a fonte e o motivo escultórico alusivo aos signos do Zodíaco, de António Duarte, bem como o monumento a D. Henrique decorrem do prolongamento da Avenida Arriaga e de diversas intervenções nesta área urbana, executadas na década de 40 do século passado.

O arco em cantaria mole (blocos de tufo de lapilli do Cabo Girão) apresenta marcas dos danos irreversíveis causados pela pregagem de braçadeiras para suporte das gambiarras das iluminações natalícias. Nos blocos de cantaria, persiste a numeração a azul feita aquando das obras de desvio do curso da Ribeira de São João, e já lá vão uns cinco anos. O modelo de iluminação do monumento é demasiado antiquado e inestético. A floreira na parte posterior encontra-se bastante danificada.

Num tempo de celebração dos 600 anos da ocupação do Porto Santo e da Madeira pelos portugueses, e sendo inquestionavelmente reconhecida a acção do Infante D. Henrique no povoamento e na organização social e económica destas ilhas, não é admissível que o monumento escultórico, dedicado ao primeiro donatário do arquipélago, se apresente em mau estado de conservação e com sinais de intervenções que revelam falta de respeito pela salvaguarda do Património Cultural.