
Na maioria das escolas gregas os telemóveis estão proibidos, mas as ferramentas digitais começam a ganhar terreno quando em jogo está a inclusão de alunos com necessidades especiais. Realidades que foram conhecidas recentemente por professores madeirenses, no âmbito de um projeto do programa Erasmus+.
O projeto designa-se “Let me think/Let me be myself – ICT as a tool of inclusion and opportunities”, é coordenado por Portugal e conta já com várias deslocações a países europeus. Desta vez, o encontro dos parceiros deste projeto, no qual se inclui a Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos dos Louros, do Funchal, teve lugar em Trikala, Grécia, de 14 a 18 de maio.
Uma semana intensa de visitas, contactos e formação, em estreitas colaboração com docentes, técnicos e alunos locais, o que permitiu conhecer e refletir sobre práticas pedagógicas e intervenções articuladas entre vários parceiros do sistema educativo grego.
Do grupo fizeram parte duas professoras da Região, nomeadamente da Escola dos Louros, a entidade coordenadora em representação de Portugal.
Durante essa semana, o grupo de docentes, dois de cada escola/país parceiro, teve oportunidade de conhecer o funcionamento do sistema educativo grego, de participar em aulas e de receber formação sobre as tecnologias de comunicação e informação ao serviço da Inclusão.

Os participantes puderam conhecer a carga horária dos alunos, currículo das diferentes disciplinas e distribuição de horários pelos docentes. verificaram, por exemplo, que os alunos têm aulas apenas no período na manhã, não havendo almoços na escola.
Outra curiosidade prende-se com a utilização dos telemóveis, uma questão atual e em debate pelos diversos atores educativos. Na maioria das escolas gregas, os alunos estão proibidos de utilizar este dispositivo quer na sala de aula, quer nos espaços comuns do estabelecimento.
A razão, esclarece a coordenadora do projeto, terá a ver com o facto de as autoridades gregas considerarem que os alunos não estão ainda devidamente informados acerca das regras de segurança e utilização das redes socias e outras ferramentas tecnológicas. “Apesar de as salas de aulas estarem equipadas com quadros interativos e internet, só os professores podem aceder”, contou ao FN Alexandrina Gonçalves.
No entanto, começam a ser dados passos importantes na afetação dos recursos digitais ao processo de ensino-aprendizagem. Os docentes convidados puderam participar em aulas de Matemática com recurso à aplicação Geogebra para trabalhar estatística, de Física, com recursos a tecnologias no sentido de abordar o tópico dos tipos de onda, e nas aulas de Grego, onde os alunos são motivados, através do Google e outras ferramentas, a traduzirem textos em grego antigo.
“À semelhança do que verificámos nas nossas salas de aula e na Dinamarca”, explica Alexandrina Gonçalves, “as aulas com dinâmicas diferenciadas e com recurso a diversas ferramentas têm uma fluência muito mais leve e ativa, nas quais os alunos participam de forma espontânea e natural”.

Ao FN, a docente destaca a visita à biblioteca de Kalambaka, um edifício cedido por um mecenas, para fins de serviço à comunidade, e que foi apetrechado com tecnologia de ponta, desde ecrãs com consolas de jogo, mesas interativas, robótica e salas de trabalho/conferências com wi-fi. Nesta instituição, promovem-se sobretudo workshops relacionados com a internet para os alunos e comunidade em geral. Projetos que surgem da necessidade de ocupar as crianças e jovens nos tempos livres, prevenindo comportamentos de risco.
Outro projeto considerado interessante na alçada da biblioteca tem a ver com a promoção a literacia em zonas mais remotas daquele país, um projeto que conta com a colaboração da polícia, que seleciona livros e os leva a aldeias e lugares mais distantes.
Os docentes estrangeiros tiveram ainda a oportunidade de visitar a Universidade de Trikala, onde foram surpreendidos com o trabalho de inclusão que é feito, no âmbito do curso de Desporto Adaptado, em que os estudantes cumprem estágios semanais em escolas de educação especial. Embora este modelo de escola esteja já ultrapassado no sistema educativo português, a parceria da universidade foi encarada como positiva. “Consideramos ser uma mais-valia esta articulação entre universidade e escola, preparando os estudantes universitários de uma forma mais interventiva e possibilitando aos alunos momentos diferentes todas as semanas, já que cada estagiário tem perspetivas, dinâmicas e posturas diferentes”. Contributos que poderão ser adaptados a outros contextos e necessidades, sintetiza.

A concluir, a coordenadora realça ainda a participação em momentos culturais que contribuíram para melhor perceber as vivências do povo grego e a forma como estas moldam a sua postura na educação.