Fotos: Rui Marote
O historiador e académico madeirense Nelson Veríssimo encheu hoje a sala do Museu de Arte Sacra do Funchal (MASF), onde decorreu a sua conferência intitulada “Padre Pita Ferreira (1912-1963): o seu contributo para a historiografia madeirense”. A palestra inseriu-se no âmbito de um ciclo de conferências que o MASF vem realizando sobre a obra do Pe. Pita Ferreira (1912-1963).
Na perspectiva de Nelson Veríssimo, e entre as várias temáticas históricas abordadas pelo Padre Pita Ferreira, sobressai o seu particular interesse pelo descobrimento e povoamento do arquipélago da Madeira. “Sobre esta matéria”, diz o historiador, “publicou seis títulos editados entre 1957 e 1962, sob o formato de livro, e alguns artigos. Nestas obras, valorizou o conhecimento do arquipélago madeirense antes da viagem de Zarco e Tristão, dando particular atenção à ‘Relação de Francisco Alcoforado’, que considerou autêntica, e também à lenda de Machim”.
A sua investigação veio a ser fortemente contestada pelo Visconde do Porto da Cruz, o Padre Eduardo C. Nunes Pereira e o Dr. Ernesto Gonçalves, importantes intelectuais da época, referiu o orador.
“Por dar crédito à lenda de Machim, foi acusado de antipatriota, pois, segundo os seus detractores, colocava em causa o protagonismo de Portugal no descobrimento do arquipélago, atribuindo essa “glória” a estrangeiros”, refere Nelson Veríssimo.
Conforme explica este estudioso, apesar das críticas violentas, nomeadamente do Visconde do Porto da Cruz, o Padre Pita Ferreira reagiu vigorosamente, defendendo as suas posições com base em fontes históricas. “Todavia, Pita Ferreira não alinhava num “descobrimento” inglês do arquipélago – como o acusavam – mas defendia, sim, que antes de Zarco e Tristão, já outros navegadores tinham conhecimento do arquipélago, inclusive os portugueses que, desde os tempos do rei D. Afonso IV, navegavam para as Canárias e provavelmente faziam aguada nestas ilhas”.
Valorizando o documento e a interpretação, Pita Ferreira pôs em causa algum do saber, tido como indiscutível e largamente seguido na sua época, o que lhe valeu muitas críticas, na sua maioria, pouco fundamentadas. Enquanto para Pita Ferreira, a História escrevia-se «com documentos à vista.»
“Vivia-se então uma época de grande interesse pela Expansão Portuguesa, despertada principalmente pelo enorme apoio oficial às comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, efeméride que serviu também para justificar a política colonial de Salazar”.
É certo que ‘A Sé do Funchal’ constitui o livro mais conhecido do Padre Pita Ferreira e é, para muitos, o seu maior contributo para a historiografia madeirense, refere Nelson Veríssimo. “Contudo o relevo que deu ao conhecimento trecentista do arquipélago da Madeira foi muito importante para as posições actuais da historiografia sobre o descobrimento e povoamento destas ilhas, temática que, por certo, voltará a ser discutida com as comemorações dos 600 anos”.