Esta data, no ano da graça de 2017, para os madeirenses em geral, e os Funchalenses em particular, é o dia da Carochinha. Ela encerra uma versão muito nossa da velha história da jovem que, tendo ido à missa, deixou o caldeirão ao lume e também um solene aviso ao glutão do seu príncipe encantado para que não lhe tocasse. Não resistiu o João. Tombou no caldeirão, como todos sabemos!
Este intróito provocará duas reacções nos leitores. Uns acharão uma perda de tempo prosseguir. Pois muito bem, parem a leitura. Outros, mais curiosos, gostarão de conhecer a fundamentação.
Consequência da “Revolução dos Militares Comunistas de 1974”, a Madeira teve uma cozinha colectiva totalmente nova. Maria “Vilhoa” que se habituara a cozinhar na “furna” a escassos metros do tugúrio que servia de habitação, ouve à exaustão que esse tempo de submissão e “Madeira Velha” não voltará. Um palavroso e bem preparado grupo de cozinheiros ficou à frente da “cozinha colectiva” – conceito que casa muito bem com comunismo – da “Madeira Nova”. Entre todos eles destacava-se o Chefe João. Tinha larga experiência anterior e conhecia, como ninguém, as desgraças da “Madeira Velha”. Era meio caminho andado para confeccionar os pratos bem ao paladar dos comensais.
O Grande Mestre da Culinária, cujos dotes foram várias vezes ratificados pela maioria dos comensais entre 1978 e 2015, enxotava a concorrência dos chefes menores cuja presença na elaboração das iguarias era imposição da malfadada “constituição comunista”. João, inicialmente, ignorou-os. O Mestre da Culinária, recorrendo aos assalariados que contratara directamente, confecciona manjares de deuses onde nem a quantidade de sal pode ficar à responsabilidade de gente menor. Boicotariam, podem crer, só pelo prazer de deixar mal quem mandava na cozinha.
A roda da vida move-se. O Chefe, sempre pronto a servir ao Povo aquilo que de melhor havia na cozinha da “Madeira Nova”, não se poupou a esforços. Achava essencial o controlo total da cozinha. Tivemo-lo a chamar a si arruamentos e jardins para que um seu assalariado não ousasse levantar a crista. Esmagou como seu “poder regional”, tutelar do poder autárquico – com as consequências que se conhecem hoje, expressas nas litigâncias entre Câmaras e GR – para manter a sua hegemonia. Em 2005, com a voluntariosa participação do cozinheiro-chefe, inicia-se, finalmente, a confecção da Obra-prima da culinária político-administrativa-regional onde, livre da interferência de Lisboa, nem dinheiro foi pedido, a esplendorosa “Autonomia com todos” se mostrou. Iniciava-se a confecção do excelente prato: Savoy para Totós.
Um assalariado do poderoso Chefe João, sem que o dito invocasse o seu “poder de tutela”, recebeu na Câmara do Funchal o projecto de remodelação do Hotel Savoy, um ícone do Turismo da “Madeira Velha”. Sábios juristas, alguns acumulando com funções de vereadores, produziram pareceres na defesa dos interesses dos seus clientes. Mas, atentos ao Bem Comum, S. Exªs os seus Vereadores, e os partidos que a pertenciam, desdobravam-se em afirmações que nos sossegavam. Finalmente, a “cozinha colectiva”, com a participação dos cozinheiros que desde 1976 andam nisto – com excepção dos vermelhuscos amigos do Maduro – homenageia a Autonomia que, como sabemos, “é todos”.
Dia 21 tem de ser o dia reconciliação dos Madeirense. Chefe João, pelo destaque que atingiu, deve presidir às cerimónias que não podem ficar aquém das Festas do PPD/PSD-M Partido da Autonomia Regional no Chão da Lagoa. Haverá foguetes e música a partir das oito da manhã, naquela obra-prima do Direito e da retórica política, não da arquitectura. À noite, com música clássica e fogo-de-artifício, e na presença de todos aqueles que contribuíram para isto, encerrar-se-ão as Festividades.
O João glutão da Carochinha, não resistiu à comida. Os nossos cozinheiros, gulosos por votos, criaram esta situação ridícula pela qual não querem responsabilizar-se. V. Exªs querem votos, querem? É pior engolir isto do que aquela do passarinho reencarnando Chávez. Tenham juízo, mas do bom. Do outro têm que sobra.