A vivência política no CDS Madeira está num ambiente pesado, no mínimo. Irrespirável mesmo, para alguns. A manutenção de Lino Abreu como secretário-geral, assunto discutido na reunião de emergência da Comissão Política do partido, realizada na sexta-feira e que o Funchal Notícias noticiou em primeira mão, é encarada por vários militantes centristas como altamente prejudicial aos interesses partidários.
João Catanho, em discordância com a actual gestão do CDS-PP e situado numa linha mais próxima do histórico Ricardo Vieira, é um dos centristas que entraram claramente em choque com Lino Abreu e com a actual liderança regional, que permite manter-se como figura central do partido alguém que foi condenado por corrupção, e que, embora vá recorrer e tenha direito à presunção de inocência, não suspendeu por iniciativa própria o exercício do cargo de secretário-geral, como o fez livremente – e bem – com o cargo de deputado.
Ontem, nas redes sociais, João Catanho denunciava ser “vergonhoso” que o CDS – Madeira se tornara uma “máfia” dominada pela actual direcção.
Referindo-se à reunião da Comissão Política, dizia que a mesma veio confirmar a “falta de democracia interna”, pelas suas indecisões e pela forma como decorreu, a fazer lembrar, em seu entender, os defeitos do PSD, “em que tudo já está previamente cozinhado, mesmo que seja contra a maioria”.
De resto, também Nuno Morna, que ainda recentemente se desvinculou do partido, agastado com o seu rumo, publicou na sua página do facebook considerações de que “percebe-se muito mal que Lino Abreu não tenha também suspendido, ou mesmo se demitido do cargo de secretário geral do CDS. Percebe-se ainda menos que em nome de nada nem de coisa nenhuma a Comissão Política deste partido não lhe tenha pedido que tomasse essa atitude”.
“Tudo isto”, frisou, “parece uma novela mexicana, tresanda ao mais baixo dos jardinismos. Todos se renovaram e o CDS esqueceu-se de o fazer. Ele são jogadas, tramóias, trapalhadas, tontices, umas atrás das outras (…)”
Entretanto, João Catanho divulgou um documento no qual se insurge contra Lino Abreu, dando conta de que apelará à liderança do partido a nível nacional para que demita o mesmo.
Na missiva, tornam-se transparentes as discordâncias em relação a posições protagonizadas pelo actual secretário-geral, numa variedade de matérias importantes, e bem assim o azedume que já caracteriza o relacionamento interno no CDS-Madeira:
“Lamento que por parte do atual CDS, pela pessoa do seu secretário geral, senhor Lino Abreu, as explicações apresentadas ou ausência delas, sobre a não entrada de inscrições tenha sido um redondo vazio baseado em argumentos saloios e irresponsáveis. A dita resposta, não clarifica a inadmissível situação, pelo contrário, tendo ficado claro a má fé, falta de ética e grave atropelo aos princípios de transparência democrática de quem a deu””, afirma. “Tenho pena que a mesma venha dar razão a grande parte da sociedade civil, ao olhar com desconfiança e reduzida credibilidade para a classe política, e para este “novo” CDS-M. Porém, para que fique bem claro, gostaria de esclarecer:
1- Não são apenas três, foram rejeitadas, perante votação em concelho regional antes do congresso, cerca de duas centenas de inscrições, não podendo estes potenciais militantes possuir direito a voto no referido congresso. Passados sete meses, estas pessoas não são militantes;
2- O critério de aceitação não é o mesmo, tendo o presidente do partido em recente entrevista ter referido que, desde janeiro foram inscritos mais de uma centena de novos militantes;
3- Desconhecia que o processo de filiação era tão moroso para algumas pessoas e tão pouco conhecia que estas estavam sujeitas a uma avaliação e respetivos pareceres, tendo ficado na mesma quanto aos respetivos critérios;
4- Também não conhecia que haviam proponentes, fazendo lembrar os padrinhos de certos “batizados de avental”, que o referido senhor tão bem conhece e prática;
5- Quanto à minha pessoa ter uma “nula ação política”, retribuo a crítica dizendo a esse político de longa carreira, que nunca trouxe consigo um único militante, tendo afastado muitas pessoas do partido e tirado muitos votos em atos eleitorais;
6- Nula também é a ética de um político que deveria pedir a demissão de secretário geral do partido ou então a direção tomar essa iniciativa, defendendo a abalada credibilidade da instituição;
7- Quanto ao meu passado como militante base, apenas digo que o pouco que dei ao partido, não foi olhando a projetos e ambições pessoais, muito menos a interesses de forças ditas “ocultas”:
8- Quanto às contas do CDS-M, voltava a deixar bem claro que não é o relatório enviado ao Tribunal de Contas, que descrimina e comprova a origem dos gastos, muito menos a aplicação das receitas. A responsabilidade pelas mesmas é da sua competência, pois é secretário geral do CDS-M há 19 anos;
9- Darei entrada na sede nacional do partido um duplo pedido: que averigúe o que se passou com estas inscrições e que demita este senhor do cargo de secretário geral.”