Fotos: Rui Marote e Luís Rocha
No seguimento da série de reportagens que temos vindo a publicar sobre os problemas que afectam o Porto Santo, hoje aqui registamos as opiniões de Roberto Silva, ex-presidente da Câmara Municipal do Porto Santo, antigo deputado na Assembleia Regional e actual assessor de Susana Prada, secretária regional do Ambiente e Recursos Naturais, nas áreas do ordenamento do território e fiscalização ambiental.
Roberto Silva comenta a polémica em torno estado da praia, com a perda de areia de forma acentuada ao longo das últimas quatro décadas, assumindo que é um tema que o preocupa, como porto-santense e como pessoa que já teve responsabilidades autárquicas.
“Tive oportunidade de ter conhecimento de alguns estudos que foram feitos, inclusive pelo Laboratório Regional de Engenharia Civil, (LREC). Realmente, a praia é a nossa ‘galinha dos ovos de ouro’, se assim o podemos dizer. Muito do que o Porto Santo é está associado à praia, pelo que compreendo que isso seja uma preocupação… E sinto também, por parte do Governo, essa preocupação”, refere.
Roberto Silva diz saber que há, da parte da Secretaria Regional do Ambiente e Recursos Naturais, uma “preocupação em relação a isso”, e afirma que “está a ser encetado um conjunto de estudos científicos e de iniciativas” para se ter uma ideia o mais precisa possível sobre o que admite ser “uma realidade que é visível a olho nu”.

“Mais cedo ou mais tarde”, declara, “serão tomadas algumas medidas para garantir a praia nas melhores condições”.
Confrontado com a opinião de que o regular e natural abastecimento de areias à praia, através da circulação dos ventos e das correntes, foi prejudicado com a implantação do porto de abrigo no local onde actualmente se encontra, o antigo autarca constata que “há muitas opiniões em relação a essa situação”. A questão do porto foi, realmente, muito falada, mas “nunca se conseguiu realmente ter certeza se isso é real, mas é uma situação que tem de ser ponderada, como é evidente”. Existem, diz, opiniões divergentes. Há quem defenda que o porto de abrigo devia ter sido construído na zona do Porto dos Frades, mas também quem tenha defendido a sua implantação na zona da Calheta. “É uma preocupação da população, sinto isso; mas é realmente um tema que requer um estudo e bases científicas muito sólidas para realmente se avançar para as medidas que têm de ser tomadas”.
O nosso interlocutor confirma as mesmas perspectivas que ouvimos de outras pessoas sobre o modo como foi efectuada exportação de areia da praia e grande utilização da mesma na construção civil, “inclusive na construção do aeroporto”. Mas diz que quaisquer medidas concretas têm realmente de assentar em estudos científicos. A voz popular fala no assunto, e a preocupação, confirma, aumenta de ano para ano. Mas soluções radicais e muito caras como a deslocalização do porto para outro sítio têm de assentar em bases muito sólidas, defende. “A praia é, sem dúvida, uma preocupação constante, dada a sua importância para a ilha”, assume.
Do seu ponto de vista, o emagrecimento da praia é variável, observado a olho: “Há anos em que isso efectivamente se nota, anos em que há menos areia num lado, mais areia noutro, às vezes do porto de abrigo ao cais está mais preenchido, outros, como aconteceu no ano passado, em que havia mais areia do Hotel Porto Santo até à Calheta, coisa que nos últimos cinco anos não tinha acontecido…”, constata.
Sobre a possibilidade de efectuar recargas da praia, por exemplo através de sistemas de sucção através de tubos, que iriam buscar a areia a uma cota inferior para a recolocar a uma cota superior, diz-nos ter conhecimento de estudos que indicam onde fica depositada a areia, e como é possível ir buscá-la para a colocar de novo na praia. Mas admite não ter conhecimentos técnicos suficientes para explicar essa viabilidade. Elogia, no entanto, o trabalho do engenheiro geólogo João Baptista – um dos apologistas de recargas artificiais deste tipo – dizendo que ele “tem um grande trabalho feito nesta matéria”. A possibilidade, no entanto, não o choca.
Já em termos da realidade sócio-económica do Porto Santo neste momento, diz olhar para a mesma com grande preocupação. A taxa de desemprego tem vindo a aumentar. “Infelizmente há muitos jovens do Porto Santo a ter de emigrar. E o comércio passa hoje por dificuldades muito grandes. Os estabelecimentos são praticamente os mesmos, e penso que nos últimos três anos, terá havido uma diminuição de 50 por cento na receita anual dos mesmos. Atrás de tudo isto, os restaurantes e os bares não contratam pessoas, essas pessoas que não trabalham, muitas vão para o fundo de desemprego, e outras nem direito a fundo de desemprego têm”, refere. A população também vai envelhecendo, embora “nós tenhamos, neste momento, cerca de 600 jovens nas escolas do Porto Santo”.
Agora, admite, “não há dúvida que os jovens já em idade de trabalhar, de dezoito anos para cima, muita gente sai daqui. Os que vão para os cursos superiores já não voltam, e aqueles que não têm cursos superiores, têm embarcado, vão para Inglaterra, França, para aqueles países onde neste momento há alguma hipótese de conseguir algum trabalho. E isso envelhece claramente a população”.
Relativamente a outras queixas que ouvimos, como a de o navio Lobo Marinho parar um mês por ano para manutenção, considera que, de facto, o grosso do abastecimento ao Porto Santo é feito por via marítima, “e, quando o barco não vem, isso obviamente causa alguns transtornos”.
Os cruzeiros de um dia, diz, trazem entre 150 a 200 pessoas. “É evidente que o barco não vindo durante um mês, isso ainda se reflecte mais no comércio. Isso sente-se claramente. Esse assunto teria de passar pela revisão do contrato de concessão, que quando foi feito inicialmente apontava para a substituição ser feita por barcos que eram da Região, o ‘Pátria’ e o ‘Independência’… Ora, entretanto eles foram vendidos, e a situação tem sido resolvida com a possibilidade de as pessoas viajarem de avião nesse período, mas não é a mesma coisa do que ter o barco todos os dias aqui”. Esta solução tem sido a possível, “mas para os interesses do Porto Santo e para a sua economia, tenho consciência de que não é a melhor”, admite.
Roberto Silva considera que, da parte do Governo Regional, tem havido uma preocupação mais efectiva com as questões que afectam a ‘Ilha Dourada’. Foram tomadas algumas medidas importantes, que “já deviam ter sido tomadas há mais tempo e que infelizmente não foram tomadas pelos anteriores governos. É o caso do subsídio de mobilidade, quer no caso marítimo, quer no caso aéreo, ou a reposição dos 15 por cento do subsídio de insularidade. Mas este é um processo progressivo. Os problemas do Porto Santo não são de fácil resolução, nem há varinhas mágicas para os resolver”. O Porto Santo é uma ilha com especificidades próprias, com problemas próprios. Mas não tem dúvidas que o facto de Miguel Albuquerque ter chamado a si a responsabilidade directa sobre os problemas do Porto Santo têm ajudado o dia-a-dia e a pequena economia da ilha.
Ainda sobre matéria ambiental, diz que tem sido feito grande investimento na ilha nos últimos anos, a nível da recolha e tratamento dos lixos ou das águas residuais, por exemplo… “O Porto Santo tem uma situação de excelência. O lixo indiferenciado que é produzido aqui nem permanece na ilha, é enviado para a Meia Serra… Nós temos três níveis de tratamento de águas residuais… Existe o reaproveitamento das mesmas, no caso do campo de golfe e da agricultura, se os agricultores assim o entenderem… A recolha de lixo processa-se convenientemente…”. Confrontado com denúncias de supostas descargas para o mar, diz desconhecer, e sublinha que não faz sentido, tendo em conta que há quatro estações elevatórias que recolhem os esgotos, que depois são bombeados para uma Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) que tem apenas cinco anos, e que “faz um reaproveitamento total das águas”.