Câmara e Direcção Regional da Administração Pública do Porto Santo “não funcionam”, diz o vereador social-democrata Nuno Baptista. “Está tudo por fazer”

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Fotos: Rui Marote

Nuno Baptista, vereador da oposição social-democrata na Câmara Municipal do Porto Santo, tem ideias bem concretas sobre o que é mais premente concretizar para aquela ilha. Na sequência dos artigos que temos publicado sobre a situação que se vive presentemente na ínsula vizinha, fomos ouvi-lo, e deparámos com alguém frontal nas suas opiniões.

“Tenho uma posição sobre esse assunto, que alguns podem considerar um pouco radical, mas que corresponde de facto àquilo que se está a passar. No Porto Santo, em todos os assuntos, neste momento, está tudo por fazer”.

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E porquê, questiona-se o leitor? O político responde que “nos últimos vinte anos, o Porto Santo desenvolveu-se à custa do sector da construção civil e tinha, também algum turismo… mas o turismo nunca foi, no Porto Santo, o sector principal empregador, nem de produção de riqueza”. Na sua pespectiva, o arquipélago caiu na crise global que afectou drasticamente a construção civil a nível europeu, sendo particularmente próximo o exemplo da Madeira, onde neste momento está praticamente tudo parado no sector, com imensos profissionais desempregados.

O Porto Santo, diz Nuno Baptista, tem de arranjar uma forma de tentar resolver os problemas da sua população, que neste momento passa por uma situação de desemprego, particularmente entre aqueles que, de uma forma ou de outra, estavam ligadas à área da construção, desemprego jovem também, porque há falta de novos postos de trabalho… “e nada foi feito”.

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O Porto Santo, refere o nosso interlocutor, teve um plano integrado de desenvolvimento quando houve o ‘boom’ de construção civil. Depois, apenas foram tomadas “medidas avulsas ou esporádicas” que podem “ter algum retorno, mas pouco”, porque não entroncam no planeamento do que é essencial para que a ilha possa sair da grave situação em que se encontra. Amenizam, “mas nunca podem resolver o problema de fundo”.

Naa sua leitura, o turismo, apesar de ainda fortemente condicionado pela sazonalidade, é talvez actualmente o único sector que pode proporcionar aos porto-santenses alguma diminuição do desemprego, mas “a verdade é que trabalhamos muito mal o turismo”.

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É fundamental, diz, a formação profissional, os aviões, o número de camas, tudo isso, mas… “Como podemos dizer que o Porto Santo quer trabalhar o turismo, e está para ele vocacionado, quando se pode considerar zero o investimento na praia, o ex-libris da ilha, nos últimos vinte anos?”, questiona-se.

E, sem se deter, prossegue as críticas: “O Porto Santo quer ter turismo o ano inteiro, mas tem as praias vigiadas durante três meses; não temos balneários abertos o ano todo para quem nos visita; a falta de planeamento, de estratégia para implementar aquilo que é de facto necessário para que o Porto Santo se transforme numa ilha turística está, de facto, tudo por fazer, no que se refere à parte pública”, sentencia. Se analisarmos o que é feito pelos privados, por exemplo pelo grupo Pestana, pelo grupo Sousa ou pelo grupo Ferpinta, diz, “eles continuam a evoluir, a crescer; porque é que neste momento a criação de emprego em relação aos porto-santenses é pouca? Porque a nossa parte não está feita, e o nível, o ritmo a que eles vão não lhes permite esperar por nós”.

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O vereador acrescenta que não se pode esperar dos porto-santenses que pessoas de meia-idade, que toda a sua vida estiveram sobretudo ligadas ao sector da construção civil, estejam de um momento para o outro, preparadas para trabalhar num hotel de 5 estrelas.

“O turismo é um negócio, e nele não se faz acção social”, constata. É preciso criar as condições, diz “para que as pessoas, de facto, desenvolvam o seu trabalho, e bem, porque é isso que faz promover o Porto Santo, que é as coisas funcionarem”.

Este ‘status quo’, um pouco uma ‘pescadinha de rabo na boca’, traz situações extremamente graves, do ponto de vista social, de envelhecimento da população, da vida cultural e social das pessoas, “que está totalmente parada”.

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Cada dia que passa, afirma, em que não pomos mãos à obra naquilo que realmente tem que ser feito, causa que, quando se decida efectivamente arrancar, se vá demorar o dobro do tempo.

Numa comparação com os concelhos da ilha da Madeira, o vereador do PSD entende que os mesmos “traçaram o seu caminho’, e têm hoje bem definido, na maior parte dos casos, o que é importante. Há muito mais descentralização de diversas actividades, inclusive culturais, que outrora só aconteciam no Funchal. Entretanto, o Porto Santo continua a oferecer, quase que só e exclusivamente, a praia.

O Porto Santo, entende Nuno Baptista, tem de apostar também fortemente no turismo da Madeira, mas “hoje, com o nível de actividade que existe nos diversos concelhos daquela ilha, é muito mais fácil aos madeirenses deslocarem-se de carro dentro da própria ilha para usufruírem da oferta existente, do que estarem a dispender numa viagem de barco para ir ao Porto Santo, apenas para fazer praia. A maior parte vem apenas durante o Verão, e é preciso criar condições para que venham mais vezes”, defende.

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As palavras de Nuno Baptista fazem pensar que Miguel Albuquerque chamou a si, há um ano, a tutela directa dos assuntos do Porto Santo. Até agora, não se vê grande coisa feita.

“Eu reconheço a boa vontade e a intenção do presidente do Governo”, esclarece Baptista. “Na minha opinião, o problema está no Porto Santo, que neste momento não tem voz. Existe uma enorme dificuldade em fazer chegar ao presidente do Governo aquilo que realmente são os problemas do Porto Santo. Nesse aspecto, penso que o acompanhamento local que está a ser feito não é o melhor”, critica. A transmissão ao Governo Regional “daquilo que realmente são as soluções possíveis para os problemas porto-santenses não está a ser passada da forma que devia ser”.

Confrontámo-lo: há duas vias principais para isso, ou seja a Câmara Municipal do Porto Santo, e a Direcção Regional da Administração Pública do Porto Santo. Nuno Baptista reconhece-o. E não é meigo nas suas palavras:

“Na minha opinião, nenhuma delas funciona. Funcionam mal, muito mal” – condena.

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Nuno Baptista considera o subsídio de mobilidade ao passageiro regional para ir ao Porto Santo algo “importantíssimo”. E, em seu entender, é a única “que o Governo pode tomar em matéria de transportes”. Mas depois, essa medida, se não for acompanhada por um planeamento e um trabalho local eficientes, “não tem qualquer retorno”.

O entrevistado queixa-se de que, de cada vez que Miguel Albuquerque vai ao Porto Santo e pergunta como estão as coisas, “as pessoas não têm a frontalidade de lhe dizer quais são os reais problemas”, pelo que ele não irá ter um real conhecimento dos problemas. “E isso já se passou várias vezes na minha presença”, denuncia.

Estas são indirectas óbvias ao presidente da autarquia, Filipe Menezes, e ao director regional da Administração Pública do Porto Santo, Jocelino Velosa.

“As pessoas votaram um plano nas últimas autárquicas, que está muito longe de ser cumprido”, aponta o candidato que perdeu a CMPS para Menezes. “Os problemas estão mais do que identificados, mas o que continuamos a ter hoje, são reuniões para levantamento dos problemas existentes…”, lamenta.

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Sobre a praia, e sobre as propostas, polémicas, de recargas de areia na praia nos sítios onde a mesma se encontra mais emagrecida; sobre a proposta deslocalização do porto de abrigo, da qual já demos conta; Nuno Baptista diz que compete aos técnicos avaliar. Mas sempre vai dizendo novamente que em vinte anos não se tratou da praia. “Zero”, repete. “A verdade é que não passamos das opiniões. Ainda ninguém teve coragem de pegar naquele que é talvez o maior problema do Porto Santo, e que é a manutenção e revitalização da praia”, assume. “Porque é realmente da praia que vivemos, e é ela que vai alimentar o turismo. Chega de ponderar, temos de passar à acção. E quando falo da praia, falo da agricultura, da promoção, de todas as situações que estão totalmente paradas, e para as quais não se vê qualquer tipo de estratégia, para estancar o problema social do Porto Santo. A minha previsão é de o negócio do turismo continuará a crescer, irá beneficiar os investidores que o fizerem, mas isso nunca irá resolver o problema fundamental do Porto Santo”.

Temas como a existência do “all inclusive”, praticado pelos hoteleiros durante certos períodos do ano, “realmente prejudica” a Ilha Dourada, opina Nuno Baptista. Mas também reconhece que dificilmente o Porto Santo de hoje, nos meses de Julho, Agosto e Setembro, teria capacidade de resposta para o número de pessoas que já vem à ilha nessa altura.

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“A pior coisa que poderia acontecer seria, dum momento para o outro, passarmos duma fase de ‘all inclusive’ para ‘não all inclusive’, e termos um tipo de serviço [na restauração] que não está ao nível do que espera um cliente de 5 estrelas”, concretiza.

Um conselho municipal de turismo que envolvesse empresários e pessoas de real capacidade de decisão ajudaria. A actualização do presente suscita as maiores dúvidas a Baptista, que não acredita que a partir dele se parta para uma real acção no sentido de resolver os problemas.

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Uma maior aposta na promoção da ilha no mercado nacional é também preconizada por este vereador, que critica, no entanto, que a Sociedade de Desenvolvimento, a Câmara Municipal e o Governo Regional tenham, todos, ideias diferentes sobre o que deve ser a promoção turística do Porto Santo. Criticando o divisionismo entre o Porto Santo e a Madeira, Nuno Baptista entende que a promoção deveria ser feita, inteligentemente, e de forma articulada, englobando o Porto Santo na promoção da Região, “sem perdermos a nossa identidade”.

“Como é que podemos falar de evolução do turismo, quando temos uma delegação de Turismo com 30 metros quadrados e um funcionário? Quando não temos sete miradouros, dos quais dois são do município, dois são da autarquia, três estão ligados à Secretaria Regional do Ambiente (Florestas), um está em cima de terrenos particulares, e não há uma entidade que supervisione as intervenções necessárias. Cada um trabalha para si, mas por vezes parece que nem todos trabalham para o mesmo”, denuncia, criticando, mais uma vez, a “forma desorganizada e sem planeamento como se faz turismo no Porto Santo”.

Até os emblemáticos moinhos parecem algo degradados e 'cansados'...

E questiona directamente o FN: “Disso mesmo dou-lhes mais um exemplo: encontraram, dentro da cidade, um mapa com a identificação dos principais sítios a visitar no Porto Santo? Nem o temos”.