Rui Carita alerta: Património religioso está a saque em Portugal

Rui CaritaO património religioso está a saque em Portugal. Todos os dias é roubada uma igreja. O alerta é de Rui Carita, historiador e investigador, que estará no Porto, esta sexta-feira, dia 20 de novembro, a participar num simpósio sobre património sob a chancela do Patriarcado de Lisboa. Quanto à Madeira, lamenta a falta de interesse da Diocese na criação de uma Comissão de Arte Sacra.

Na opinião do também professor catedrático da Universidade da Madeira, a situação é muito grave, quando se fala da segurança das obras de arte sacra que existem espalhadas pelo país. “O património religioso é o mais valioso que nós temos e é o que está mais saqueado”, sublinhou. “Não há padres e os que existem deixaram de fazer História. Por outro lado, uma vez que são sobretudo objetos de devoção deixaram de ter interesse para uma geração mais nova, afastada dos lugares de culto. Estes espaços passaram também a estar fechados e inacessíveis à população. Todos os dias é roubada uma igreja, O património está a saque”.

Relativamente à Madeira, Rui Carita lamenta que seja das poucas regiões do país onde não exista uma comissão de arte sacra. “Nunca consegui acionar uma comissão de arte sacra, com muita pena minha”, confessa, atribuindo tal ausência ao pouco interesse manifestado pela Diocese do Funchal, entidade que se debate também com falta de respostas quanto a algum património edificado e já degradado. Nesta linha, Rui Carita deixa perceber algumas críticas ao anterior prelado. “Com efeito, tenho de reconhecer que D. Teodoro de Faria foi quem mais defendeu o património da Igreja nos últimos 500 anos. Conseguiu ficar com parte do Colégio dos Jesuítas e com o Seminário, mas não basta dizer que é meu. É preciso saber o que vai fazer, ter projetos. O antigo seminário continua fechado e qualquer dia cai”.

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Christus – Irmandade dos Clérigos, Porto

A segurança e proteção do património serão questões incontornáveis no encontro de comissários científicos a ter lugar na Torre dos Clérigos, o local onde Rui Carita montou este ano um núcleo museológico de arte sacra com 400 imagens de valor inestimável doadas à Irmandade dos Clérigos por António Miranda, um grande antiquário de Lisboa. Intitulada “Christus”, esta exposição tem sido um sucesso em termos de visitantes, registando cerca de duas mil pessoas por dia. Um número que, embora expressivo da qualidade do trabalho realizado e do espólio em exposição, obriga a reequacionar procedimentos e recursos face aos riscos que representa para a segurança das peças. “O museu está feito, mas é preciso defendê-lo agora dos turistas”, sustenta o investigador. “Temos cinco colaboradores no espaço, mas é incontrolável face ao grande número de visitantes. Compreendo que seja uma importante fonte de receita para a Torre dos Clérigos, mas receio que não aguente a pressão”.

O problema diagnosticado na Torre dos Clérigos estende-se a outros monumentos nacionais, fruto da falta de visão estratégica por parte das autoridades, levando nuns casos a uma grande pressão humana e noutros a um completo esquecimento. “A Torre de Belém, por exemplo, foi feita para 20 pessoas. Neste momento, está com 500 visitas por dia. Pelo contrário, na Madeira temos museus fantásticos mas sem visitantes, para além das escolas, como é o caso do Museu Francisco Franco. Por isso, falar de reabilitação do património é altamente perigoso. É preciso saber como salvaguardá-lo depois”.