As pontes entre a teoria e a prática cultural

Luís-Guilherme-de-Nóbrega-icon

Foram muitos os contributos teóricos que vieram a público nestes últimos anos e em especial os relacionados com o evento promovido pela ordem dos economistas da Madeira. Lembro-me que na  VI Conferencia Anual do Turismo (2012) foi abordada a vertente cultural onde não faltaram intervenientes de cá e do continente português para teorizar e refletir sobre uma possível estratégia nesta área.

Coincidência ou não, passados que estão três anos, alguns destes participantes fazem hoje direta e indiretamente parte do atual governo regional o que leva-nos a perspetivar para breve um resultado promissor no que respeita ao desenvolvimento da nossa cultura que irá proporcionar resultados estratégicos para a economia da nossa região que está altamente dependente do factor económico associado ao turismo.

Como referia na altura o economista Eduardo Jesus,  atual secretário com a pasta da Economia, Turismo e Cultura: “Convictos de que as oportunidades serão muitas, na riqueza, variedade e singularidade do nosso património, só encontramos razões para acreditar que a Cultura assume um papel preponderante em qualquer modelo que se venha a encontrar para governar esta região, não só pelo turismo, que neste consideramos, mas, fundamentalmente, por fazer parte da alma deste povo humilde, estóico e valente.”

No entanto e como conhecedor da nossa realidade política, muitos anos ainda serão necessários  até que os resultados possam surgir porque entre a teoria e a prática faltam como na via expresso entre a Fajã da Ovelha e a Ponta do Pargo as importantes infraestruturas de ligação que neste último caso denominam-se por viadutos.

Sem estes importantes instrumentos de ação por muito boa teoria que haja a prática está totalmente condicionada pois faltam os eventos e gentes capazes de os tornar como foi referido na conferência anual do turismo: “ O evento cultural como produto cultural”, logo também como uma importante fonte de rendimento.

O maior desafio para que esta e outras ideias possam ser desenvolvidas passa por dar total liberdade a quem de facto apresenta não só capacidades de teorizar mas também de pô-las em prática à escala universal. A nossa oferta cultural depende de uma avaliação comparativa com outros destinos quer europeus, quer de outros continentes onde grande percentagem do seu turismo cultural resulta de um eficaz investimento em excelentes infraestruturas culturais e num programa cultural susceptível de atrair visitantes .

Por outro lado e segundo notícias vindas a público dando conta de um investimento de mais de trinta milhões de euros única e exclusivamente para as comemorações das descobertas da ilha e consequentemente dos seiscentos anos da ilha da Madeira que serão orientadas por um Ilustre conhecido da nossa praça com provas dadas e que terá o seu epicentro no ano de 2019, fico totalmente perplexo pois referimo-nos ao responsável dos vários museus sediados na capital da ilha e que até  hoje  continua passivo quanto à aceitação de um horário de função pública para estes espaços ou seja de um horário não só incompatível com a população local mas também com muitos dos turistas que nos visitam.

Se tivermos presente declarações da antiga secretária que tutelava esta pasta, a natureza dos turistas que nos visitam são turistas virados para a prática ligada à natureza nomeadamente caminhadas nas serras e levadas da nossa ilha. Esta atividade é realizada durante o dia como é compreensível. Fazer uma levada durante a noite é impensável logo o período de estadia em que este turista e  residentes têm para visitar museus é durante a tarde e a noite.

Perspetivo desta forma que estamos muito longe de atingir uma prática cultural capaz de produzir efeitos quer económicos, quer estratégicos para a nossa região porque continuamos a apostar na mesma receita de sempre em que o objetivo é meramente eleitorista e que as comemorações citadas serão uma mera diversão para promover e entreter os dois poderes que desde há muito coagem e coabitam nesta ilha.

Ilha esta que há muito deixou de ser uma pérola no atlântico mas que continua por conveniência a ter um povo humilde, estoico ( adequação submissa ao destino) no entanto pouco valente no que respeita às exigências dos seus direitos como contribuinte e responsável pela construção do tão elogiado património que ainda hoje traz tantos turistas à nossa região.