
O secretário regional do Ambiente e dos Recursos Naturais, Manuel António Correia, abordou ontem a questão de um eventual regresso da presença de gado nas serras da Madeira expressando o seu desacordo.
“Não tenho dúvidas que se as pessoas se informarem devidamente, terão uma opinião mais esclarecida, e que não seja condicionada por oportunidades políticas, que são sempre situações em que se diz mais o que se pensa que as pessoas gostam de ouvir”, considerou.
A situação a que o governante aludia, quando questionado pelos jornalistas, foi recentemente lançada pelo CDS-Madeira, pela voz do seu dirigente José Manuel Rodrigues, que, conforme relatou o Funchal Notícias, considerou que a pastorícia não é incompatível com a protecção da natureza num encontro com populares, supostos criadores de gado, intitulado ‘Festa do Mundo Rural’, na Bica da Cana, Paul da Serra.
Na ocasião, José Manuel Rodrigues considerou mesmo que os criadores de gado foram apresentados a uma luz desfavorável por quem defende ecologia, como se fossem os ‘maus da fita’, o que considerou ser uma falácia.
Já as declarações de Manuel António Correia foram proferidas ontem, à margem da apresentação do Plano Regional de Ordenamento Florestal da Região Autónoma da Madeira (PROF-RAM), que ainda esta semana ou na seguinte será colocado em consulta pública e sujeito a sugestões por parte dos cidadãos. Terá um período de vigência de 25 anos, mas poderá ser revisto de 5 em 5 anos, anunciou o engenheiro Tiago Silva, que com o também engenheiro Carlos Caldas, faz parte da equipa que realizou este plano, e que já tinha sido responsável pela realização de outros similares no continente.
Para Manuel António Correia, o voltar a colocar-se esta questão do gado na serra depois de tudo o que o Governo fez relativamente a esta matéria terá mais a ver com entusiasmos eleitorais do que realmente com o interesse das populações.
“Na minha opinião, deve-se cuidar estruturalmente desta e das próximas gerações, e da Madeira como um todo, não só nos aspectos ambientais mas económicos. Porque a nossa principal actividade económica é o turismo, e não há dúvida de que uma boa floresta, uma floresta pujante, natural, que respeite as nossas espécies e a nossa biodiversidade, será sem dúvida um factor de fortalecimento ambiental mas também de crescimento económico, e nós precisamos de crescimento económico e de emprego na Região”, declarou.
Porém, considerou que se trata de uma “questão legal”. O presente governo aplicou um decreto legislativo regional que proíbe o pastoreio desordenado na serra. Mas, com o novo ciclo político, admitiu, serão os deputados na Assembleia Legislativa Regional a decidir se a situação merece ser mantida, ou deve ser alterada.
Quanto ao Plano de Ordenamento Florestal, esclareceu que em Novembro último foi lançado o procedimento para elaboração do mesmo. “Hoje entramos numa nova fase, de discussão pública, do primeiro ‘draft’ que está feito sobre o mesmo (…) uma proposta ainda inicial de plano, a qual será agora sujeita durante 30 dias a audição pública”. Por isso, convidou os madeirenses a pronunciarem-se sobre o mesmo, desde cidadãos a associações, agentes económicos, entidades públicas e privadas.
Este plano, referiu, tem a ver com os próximos passos que serão dados no planeamento da floresta, nos anos seguintes. Isto, apesar do muito que considerou já ter sido feito pelo governo a que pertence, e que incluiu a florestação de 1560 hectares, plantando mais de milhão e meio de árvores.
O Funchal Notícias ouviu também sobre esta questão polémica do gado na serra, que inclusive mereceu alertas por parte dos ecologistas Raimundo Quintal e Thomas Dellinger no nosso site, o engenheiro Carlos Caldas.
“O PROF não se debruçou especificamente sobre esse assunto. Sei que é um assunto que já vem de há muitos anos, e que aparentemente estaria resolvido, com a retirada do gado asselvajado que estava nas serras. No continente, em condições normais, essa incompatibilidade do gado [com a preservação das espécies da florest indígena] não existe. Existem restrições que têm que ser tidas em conta, quando se utiliza gado em espaço florestal. Mas não é tão preocupante como seria na Madeira”, referiu. Na ilha, existe o “muito grave” problema da erosão, que acredita que tenha sido altamente potenciada, no passado, pela existência desse gado não controlado no maciço montanhoso central. “Actualmente, não sei se seria possível, viável ou desejável”, declarou, referindo-se a um eventual regresso do gado. “Reavivar esse tipo de situação aos níveis que existia antigamente, não creio que tecnicamente seja viável (…) No caso da Madeira, parece-me acima de tudo uma opção mais política do que técnica (…) Mas pessoalmente não creio que seja uma solução a reavivar neste momento”.
