O “Contrapoder” e “Ser Governo”: impossibilidade comprovada?

Paulo Pita da Silva Foi com enorme sentido de humildade que aceitei o desafio que me foi proposto pelo colega e amigo Emanuel Silva. Aceitei este pequeno desafio de enorme responsabilidade. Pequeno, pois certamente poucos serão aqueles que irão ter a maçada de ler estas tristes linhas, e enorme responsabilidade porque acredito neles e neste projeto tão nobre como é o de fazer notícias e dar opinião na nossa ilha. Faz falta no panorama jornalístico artigos de elevada qualidade, afastados da caneta de um qualquer corretor/censurador, livre de receios e dos interesses instalados. A vocês todos que compõem este projeto os meus votos de felicidades e sucessos.

 Após as últimas disputas dentro do meu partido, e escolhido o nosso líder, muito foi dito nas redes sociais, na imprensa e na boca de todos. Uma certeza ficou: o PSD Madeira está mais forte, mais coeso, mais vivo, e é o único partido com cultura de poder. Já nestas eleições pairava no espectro político europeu uma mudança vinda da Grécia, onde o partido contrapoder – SYRIZA – Coligação da Esquerda Radical – , de pendulo radical usava slogans como “ …a esperança está a chegar…”; “…fim da austeridade…”. Pela voz de Achilleas Gkriziotis, 25 anos, cabelo cortado à escovinha, membro destacado do SYRIZA durante a campanha, disse em debate televisivo estar tudo planeado “desde o primeiro dia do Governo até ao futuro”. E depois de anos sendo encarado com “suspeição generalizada”, é agora no quiosque do SYRIZA que as pessoas se revêm, e porque (como disseram os mesmos): “… somos os únicos que têm um plano que não é a austeridade.”

Na Europa e durante a campanha eleitoral na Grécia, o que mais se ouvia falar era no perdão da dívida, em não pagar mais nada à Europa, da saída do Euro, entre outras coisas. Mas hoje, dia 5 de fevereiro, nessa mesma Europa, o SYRIZA é Governo. Parabéns aos eleitos.

Destes eleitos destaca-se um homem no corpo governamental, que além de professor universitário, é um comunicador nato, homem inteligente (segundo escreve a impressa europeia), é ele o senhor ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis.

Pela primeira vez na história da Europa um partido de contrapoder passou a ser ele próprio poder. O que trouxe de novo? Uma enorme esperança. Mas mais do que esperança, foi ver o seu reflexo quando no parlamento europeu o líder grego Tsipras foi inundado por beijinhos (não se sabe se por ter sido eleito ou por questões estéticas) das mulheres de esquerda que deliraram à sua passagem pelos corredores.

Mas vamos ao que interessa. Foram propostas medidas logo de início como o aumento do salário mínimo; medidas de saneamento básico às camadas mais desfavorecidas da Grécia; travagem de algumas privatizações; combate à ineficácia dos serviços públicos; reformas urgentes na administração pública, entre outras. Foi esta a constância do programa de Tsipras, e por cá é o que temos feito desde há quatro anos, em muito dos casos.

Posto isto, o discurso mudou. Já não grita aos quatro ventos que vai deixar de pagar. Já não grita que não se importa com a Europa ou com o que ela pensa. A forma de diálogo mudou. Porquê? Porque hoje é poder e já não contrapoder, e isso muda. Como muda!

O mais flagrante ato de inteligência é que do político de contrapoder nasceu um homem que se preocupa com os seus. O Ministro das Finanças da Grécia traçou o primeiro plano do novo Governo para a renegociação da dívida grega. Perdão direto já não está em cima da mesa. Na Inglaterra numa grande entrevista a um jornal económico explica as novas propostas, sendo a mais emblemática a substituição da dívida por obrigações indexadas ao crescimento da economia e obrigações perpétuas. Yannis Varoufakis diz que a Grécia pretende apresentar um leque de operações de troca de dívida.

O partido muito embora prometesse o perdão da dívida, esta sim é uma medida, ainda que desigual para os outros devedores já pagadores, realista e exequível. Porque quem governa tem e deve pensar nos seus eleitores. É bom saber que alguns políticos pensam nas necessidades do povo que os elegeu.

Ao contrário deste Governo que dá esperança, aqui nesta terra, a dita Mudança, também ela advinda de um contrapoder mudou. Mudou da ação ao marasmo. Pior do que não saber usar o privilégio/obrigação e dever da cousa publica, é nada fazer. Foi constrangedor assistir à reportagem da RTP-Madeira sobre as dificuldades pelas quais a ilha dourada passa. É constrangedor saber que quem tem o dever de governar ao nível autárquico anda em guerras estéreis, sem fundamento, através de frases vazias sem conteúdo, com palavrões caros apenas para fugir à realidade. Não têm capacidade de liderança. São brigas internas, acusações, e infantilidades. E quem paga? O povo.

Na metrópole madeirense é mais do mesmo. Hoje resta uma manta de retalhos daquilo que foi eleito. A credibilidade já caiu, com a saída da Vice entre outras saídas de peso. Os que lá estão preferem fazer de conta que tudo está mal, proferindo acusações à anterior edilidade, na tentativa de chacina política, mas de fundamento muito duvidoso. Parecem mais interessados noutros poleiros políticos onde sejam notícia, mas trabalho que é bom, nem vê-lo. Tanto laboratório de ideias, e mas ação zero. Que tristeza!

Lá na Grécia, o contrapoder é poder e já Governa e apresenta soluções. Já não berra. Governa com trabalho.

Aqui, brigam e acusam-se. Governar “tá” quieto.

As autarquias não são rampas de lançamento (por muito que tenham em mente Lisboa), são sim a forma de executivo governamental mais próximo das populações, e os eleitores devem e têm de ser respeitados.

Senhores por favor governem-se e Governem. Disse.