Memórias: Onde estava a 25 de Abril de 1974?

Nesse dia estava na Província de Tete, no aldeamento do Songo – Cahora Bassa, na messe, tomando o pequeno-almoço.
Naquele refeitório circulavam muitas nacionalidades: ingleses, franceses, americanos, suecos, alemães e até russos, que trabalhavam na construção e montagem da barragem que ficava a poucos quilómetros de distância. Corriam uns “zunzuns” de algo que se passava em Lisboa, mas ninguém se preocupou. As pessoas estavam era preocupadas com o trabalho.
Nesse dia viajei do Songo  para o aldeamento em Estima, sobrevoando o desfiladeiro de Cahora Bassa e aproveitando para captar imagens aéreas do paredão em fase de conclusão.
Quando aterrei em Estima, um avião Fiat da Força aérea ainda com o pára-quedas de aterragem aberto, tinha acabado de pousar numa das margens da pista.
Já em terra, fiquei a saber que esse caça era pilotado pelo general chefe de Estado da Força Aérea em Moçambique, Diogo Neto.
Nem o general sabia que em Portugal estava uma revolução na rua. Mais tarde tornar-se-ia um dos elementos da Junta de Salvação Nacional.
Era um autêntico saco de gatos. Os oficiais da Junta, na sua maioria, foram promovidos para poderem exercer as funções. Nem se conheciam. Reuniram-se pela primeira vez na Pontinha, à noite. Menos Diogo Neto, que estava em Moçambique, não sabendo o que se passava.
Alguns nem sequer conheciam o Programa do MFA: eram os casos de Diogo Neto, Galvão de Melo, Silvério Marques. Nessa mesma noite, por iniciativa de Costa Gomes, foi convidado Spínola para Presidente da República.
Costa Gomes seria CEMGFA. Aceitaram. Primeira discussão, difícil, do Programa, que sofreu algumas alterações “suavizadoras”, sobretudo no capítulo da descolonização. Spínola até já tinha escolhido um novo director para a Pide/DGS que, entretanto foi decidido que após expurgada, continuaria em funções no Ultramar com a designação de Polícia de Informação Militar.
As negociações arrastaram-se e atrasaram, o que não era conveniente, a proclamação pública da Junta. Mas a Comissão Coordenadora não abdicou do seu direito de manter ou não a confiança nos membros empossados. Essa reserva acabou por ter efeitos práticos no 28 de Setembro, quando foi retirada a confiança a três deles: Diogo Neto, Galvão de Melo, Silvério Marques. Como Spínola renunciou, a Junta ficou então reduzida a três.
Permaneci em Estima até o final da tarde e voei de helicóptero para Chimoio -Vila Pery, roçando a copa das árvores a muita baixa altitude para que não sermos atingidos pelo fogo da Frelimo.
Voltei meses mais tarde a Cahora Bassa para captar imagens do fecho do paredão e o enchimento da albufeira. Cahora Bassa era a menina dos olhos de Marcelo Caetano. Nesse ano tomei conhecimento que estava nomeado para receber o prémio do Ultramar por publicações em 1973 no Jornal da Madeira, da construção da barragem de Cahora  Bassa, onde se incluía a visita do presidente Hastings Kamuzu Banda, do Malawi.