Ireneu Barreto apela a apoios a empresários e a boas remunerações a trabalhadores

O representante da República, Ireneu Barreto, sublinhou, nas comemorações do Dia do Concelho do Porto Moniz, a idade do assentamento na localidade: foi, disse, quase 600 anos desde que o povoador Francisco Moniz se estabeleceu na então chamada Ponta do Tristão e aí edificou, junto ao mar, a primitiva capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição.

“A capela original desapareceu há muito, o nome da povoação cedo mudou para Porto Moniz, em justa homenagem ao seu fundador, mas a fé do povo na sua Padroeira manteve-se inalterada”, sublinhou.

“E é essa fé, esse respeito pelas suas tradições e pelo seu passado, que tanto caracteriza os porto-monicenses e que hoje aqui celebramos”, afirmou.

As condições do lugar eram “duras”, acrescentou. “Uma terra fértil e rica, mas inacessível e indomável. Um mar imenso e generoso, mas inconstante e bravio. Os acessos caprichosos, que levaram a que esta comunidade se tivesse de valer a si própria em inúmeras circunstâncias. A distância física dos centros de decisão, que tantas vezes acarretou o esquecimento dos poderes públicos.  Dificuldades que esta comunidade soube, como poucas, vencer ao longo dos séculos, mercê do trabalho de tantas gerações. Dos seus agricultores, dos pescadores, dos seus criadores de gado. Dos seus trabalhadores da construção civil, que construíram, tantas vezes com as mãos nuas, muros de pedra, estradas, túneis e levadas. Dos seus emigrantes, que partiram para ganhar o pão, e das mulheres, que ficavam aguentando com coragem a família, à espera de dias melhores. De professores, médicos, funcionários públicos que, colocados numa zona então remota, aqui se integravam e se esforçavam para que todos tivessem uma vida melhor.  E todas as grandes dificuldades se ultrapassaram, através do espírito de união e cooperação que esta comunidade sempre soube manter, com trabalho e entreajuda”, elogiou.

“Este concelho é hoje um exemplo de desenvolvimento sustentável e de qualidade de vida dos seus residentes, e conquistou um lugar ímpar no coração dos madeirenses e dos turistas que nos visitam”, sentenciou.

“Hoje o Porto Moniz é uma referência para todos”.

No entanto, apontou “sombra no futuro do verdadeiro paraíso que é o Porto Moniz”.

“Esta é uma situação que não é estranha nem ao Porto Moniz, nem à Região, nem sequer a Portugal; é hoje um grave problema que paira sobre toda a Europa desenvolvida e próspera.  A assustadora erosão demográfica quer da população em geral quer da população jovem constitui uma situação que a todos deve preocupar.  As condições de que o Porto Moniz hoje beneficia, tudo aquilo que se conseguiu com as décadas de desenvolvimento que a Autonomia trouxe só fazem sentido se os seus residentes não deixarem o concelho”, sublinhou.

“É, portanto, fundamental tentar estancar e inverter esta situação, numa responsabilidade que deve ser das instituições públicas, mas também das empresas privadas e dos cidadãos”, disse.

“Reconheço que já muito foi feito pelas entidades públicas, Governo Regional, Câmara Municipal e Juntas de Freguesia, desde importantes investimentos nas acessibilidades, na Educação, na Saúde, nos apoios sociais, até incentivos específicos, como a criação de apoios à natalidade.  E, recentemente, com a aprovação do diploma que vem permitir a fixação de uma taxa de IRC mais baixa para as empresas com sede na Costa Norte e no Porto Santo, e com o anúncio, pelo Governo Regional, de novas habitações a custo controlado neste Concelho.

Da minha parte, permito-me adiantar duas ideias, que pouco têm aliás de original.

Primeiro, a importância de uma estratégia sustentável de desenvolvimento local para os Concelhos do Norte da Ilha da Madeira, aqueles onde a erosão demográfica é mais notória, pensada, decidida e implementada sem egoísmos e protagonismos políticos ou pessoais, permitindo criar empregos e novas iniciativas empresariais, não só na área do turismo, mas também na agricultura, na criação cultural e no artesanato, nos pequenos serviços, nas empresas familiares e mesmo na descentralização de serviços públicos.

Finalmente, é importante que, cada vez mais, possam ser concedidos apoios ainda mais significativos e diferenciados aos empresários que investem nos Concelhos mais pequenos e com menos habitantes. Como é também fundamental que esses empresários possam utilizar essas ajudas para modernizarem e tornarem mais competitivos os seus negócios, mas também para melhor remunerarem os seus trabalhadores, por forma a evitar que os filhos da terra em idade activa tenham de sair daqui em busca de uma vida digna”, sugeriu.