Com este escrito vou “comprar” uma guerra… Na semana passada, uma das noticias que fez eco nos medias foi a doação do monumento do combatente á Câmara Municipal do Funchal. Uma iniciativa do coronel Ramiro Morna, pessoa que muito respeito e que põe em prática os seus sonhos sem ouvir a Associação de Combatentes. Inventa uma comissão ad hoc responsável pela sua elaboração, que inclui, entre outros, o coronel Ramiro Morna dom Nascimento, e em que mete os nomes do coronel tirocinado Gil Nunes e do superintendente Homem da Costa.
Ora, vou contar a história desta peça escultórica, que nasceu na Associação de Comandos, na Rua dos Ferreiros nos finais dos anos Setenta do século passado, uma época muito conturbada, com a descolonização.
Não foi fácil recolher verbas e a Câmara do Funchal liderada por Virgilio Pereira, o “Virgilio amigo o povo está contigo”, lá concebeu uns “escudos” que nem davam para o escultor comprar o barro.
Arranjou-se uma forma para quem contribuísse receber em troca uma medalha gravada. Ricardo Veloza foi recebendo aos “soluços”. Levou alguns anos…
Em finais dos anos 80, o monumento chega à Madeira, encaixotado. É o então presidente da Câmara de Santa Cruz, Luís Gabriel, que a alberga num armazém junto ao campo de futebol ate que se arranjasse um local para a sua colocação.
Mas esse local caiu no esquecimento, talvez por medo do monumento não ser aceite, por ser um reavivar da história da descolonização.
Com a construção do hotel na área do campo de futebol, o armazém foi demolido e o caixote do monumento dos combatentes foi transferido para a ribeira de Boaventura, junto a um casebre com materiais de construção.
Há 39 anos descobri o monumento desencaixotado e com as peças escultóricas espalhadas pelo local, e camufladas por ervas abundantes, como se fosse um tesouro escondido.
A 12 de Janeiro de 1994 a revista do Diário de Noticias do Funchal na sua última página, numa secção intitulada “O Serrote”, da autoria do professor João Lucas, abordava o assunto, com fotos a ilustrarem e a fazem fé a toda esta descrição.
A partir daqui entra em acção o coronel Morna, que, indignado, recolhe o monumento .
Só oito anos passados o monumento foi inaugurado em 2002 na Mata da Nazaré.
Ramiro Morna andou de construtor em construtor civil uma vez que a região passava por um período de obras, para construir a base e proceder à colocação.
O coronel Morna esperava contar com a vigilância diurna e nocturna do esquadrão de Lanceiros aquartelado no forte de São Tiago, que a isso disse Ámen… e depois baldou-se.
O monumento ficou a servir de casa de chuto e de WC.
Com a vinda de Paulo Portas à Madeira, na qualidade de Ministro da Defesa, a mata foi limpa para receber este ilustre membro do governo que veio á Madeira anunciar o subsídio ao combatente.
Mas o monumento continuava exposto aos toxicodependentes.
Aqui surgiu mais uma vez Morna Nascimento. O monumento é transferido para a frente da porta de armas do RG3, contando com uma vigilância dos sentinelas. Nada contra isso e como as estátuas na Madeira “andam” sempre de um lado para o outro, o monumento ao combatente não foi excepção.
Todos os monumentos instalados na cidade do Funchal em locais públicos são à partida pertença da Câmara.
Agora doar para proceder à sua “recuperação e manutenção”, é ridículo quando compete à autarquia, por inerência, zelar por estes espaços.
Sou combatente de Moçambique, fiz recruta na Escola de Aplicação Militar de Lourenço Marques e ali jurei Bandeira, frequentei o curso de sargentos milicianos e fui colocado no Niassa em Olivença, na 3ª companhia do 20 junto ao Tanzânia. Cumpri 4 anos e três meses de serviço militar e digo Glória a Portugal.
Conheço muitos monumentos à ideia da mãe Pátria, como os que existem ao combatente em Kiev, em Ervan, Arménia e na Moldávia. São de encher o olho. Termino fazendo uma observação, como os outros combatentes: não passei procuração para doar seja o que for…