
Na passagem do ano, contava assistir a um grande espectáculo pirotécnico, como tantos outros que vi. Fui, porém, brindado com fumaça, outros dirão neblina, num local estratégico e recomendado do anfiteatro do Funchal. Depois do primeiro minuto, não vi fogo-de-artifício. Apenas o ouvi, ao longe.
Restou-me ver a reportagem pela televisão e pensar o que tinha sido para os que puderam presenciar aquelas imagens.

Recordo-me de outras noites de fim do ano com nevoeiro, por vezes até com chuva miudinha, que caía insistentemente. Mas, com ou sem guarda-chuva, sempre conseguíamos admirar os vários postos de fogo, dispostos pelo anfiteatro funchalense e a Avenida do Mar.
Quem, este ano, optou pelas zonas altas, ficou decepcionado. E foram muitos os insatisfeitos!
Se, para o ano, temendo a fumaça, se concentrarem mais pessoas na baixa, outros problemas surgirão. Daí a pertinência (e também o risco) da manutenção de postos ao longo do anfiteatro e a importância dos miradouros, locais nas vias públicas com vistas privilegiadas, quintais, varandas e terraços das zonas altas, para assistir ao espectáculo pirotécnico.
A Secretaria Regional do Turismo e Cultura gastou quase um milhão e cem mil euros com oito minutos de fogo-de-artifício. Quem pagou tão avultada importância verificou, com um perito, se o produto adquirido correspondia, ou não, ao que tinha sido adjudicado? O próprio caderno de encargos para o concurso público de concepção do fogo-de-artifício para as festas de passagem do ano 2022-2023, na Região Autónoma da Madeira, garante a qualidade dos produtos pirotécnicos e atende aos impactes ambientais, prevendo os efeitos da poluição e a gestão dos resíduos? Só a SRTC poderá proceder ao devido esclarecimento, evitando suspeitas sobre a empresa, com a qual o Governo Regional da Madeira habitualmente adjudica este espectáculo. Contudo, a SRTC disse «estar satisfeita com o resultado.» (DN-Madeira, 03-01-2023, p. 3)
Nem todos partilham essa «satisfação», aliás já manifestada noutros eventos que correram mal. Convinha, pois, esclarecer o público desiludido, principalmente quem assistiu à queima dos fogos acima da cota da VR1 (Via Rápida). Se os produtos pirotécnicos eram de qualidade, mostra-se relevante analisar se a causa foi o nevoeiro. Sei bem que atribuir culpas à Natureza é estratégia fácil e habitual. Ademais é incontrolável. Contudo, exige-se rigor científico nas afirmações do tipo «tecto de nuvens baixo que impediu o fumo de subir». Os meteorologistas podem explicar. Todavia, recorde-se que antes da meia-noite havia visibilidade e que, nem trinta minutos depois da queima do fogo-de-artifício, da meia montanha avistava-se com clareza o Funchal. Se, porventura, há outras razões, inclusive a localização dos postos, importa equacionar o problema.

Em suma, os contribuintes, afinal quem tudo paga, merecem uma explicação.
A falta de informação propicia o boato. Tratando-se de verbas públicas, tudo deve ser clarificado e escrutinado. Além do mais, evita-se a repetição do mesmo erro.