Estepilha: a dentadura e o resgate em montanha…

O Estepilha não tem por hábito incentivar o “clickbait” na “concorrência”, mas adorou a notícia, publicada esta quarta-feira num matutino regional, sobre a recuperação de uma dentadura que caíra no leito da Ribeira de João Gomes. O feito foi protagonizado por uma equipa de resgate em montanha dos Bombeiros Voluntários, que fez “rappel” até lá abaixo para buscar o precioso objecto, aparentemente caído no dia anterior.

Colocada em destaque online, a matéria atraiu-nos o olhar. Não há dúvida que o investimento e a renovação de quadros melhorou imenso o jornalismo regional, para começar. Por outro lado, a insólita notícia fez-nos lembrar dois episódios distintos. O primeiro passou-se há uns trinta e tal anos, quando eram poucos os que faziam escalada em rocha na Madeira. Na altura, havia uns poucos experts (como o dr. Rui Silva, seu irmão Isamberto, Rui Dantas) e depois alguns correligionários menos experientes, a fazer escalada ou canyoning. Hoje em dia, a prática desses desportos de montanha generalizou-se na RAM, e ainda bem. Mas então, não existiam equipas especializadas nos bombeiros, como hoje existem, nem na Polícia.

Eis então que o modesto protagonista deste texto acompanhou o amigo Rui Dantas numa reunião com o então comandante dos Bombeiros Voluntários, Rui Pedro, para sugerir que se formasse uma pequena equipa disposta a acorrer a acidentes em montanha, em zonas de difícil acesso. Isto até porque temíamos que, caso nos acontecesse algo em tais zonas, fosse difícil socorrerem-nos por falta de formação especializada. A dita equipa depois formaria bombeiros, etc.

Rui Pedro até gostou da ideia, só que com uma nuance: teríamos, retrucou, nós próprios de nos tornarmos bombeiros voluntários. Ora, isto não queríamos fazer, pois não estávamos para estar de turno no quartel. E ainda bem que não o fizemos. Porque, se um dia fôssemos convocados para recuperar uma dentadura caída num abismo ou numa ribeira, com equipamento de montanha, é certo que soltaríamos sonoros palavrões…

Por outro lado, a disponibilidade amável dos bombeiros hoje em dia recordou-nos uma história engraçada de um antigo colaborador do mesmo matutino que publicou a notícia. Reza a dita que um dia, numa travessia entre o Porto Santo e a Madeira, ou vice-versa, enjoado, o dito colaborador teve de vomitar e com o vómito, lá foi borda fora a dentadura, para profundidade assinalável. Depois comprou outra, com uns dentes de tal tamanho que faziam lembrar um verdadeiro cavalo.

Estamos em crer que procedeu mal. É verdade que os tempos eram outros, mas se tivesse chamado a Capitania, a Marinha Portuguesa talvez tivesse deslocado para o local um navio-patrulha, com mergulhadores ou mesmo escafandristas e eventualmente um batiscafo, que pudesse recuperar tão essencial objecto. Afinal, é para isso que estas entidades especializadas existem… para ajudar o cidadão!