Faz hoje 500 anos que morreu D. Manuel, o rei que elevou a vila do Funchal a cidade, ordenou a criação da Confraria da Misericórdia, com o seu Hospital e, junto da Santa Sé, requereu a fundação da diocese funchalense. Instituiu também os municípios da Ponta do Sol, da Vila Nova da Calheta e de Santa Cruz. Motivos mais do que suficientes para não deixar passar em branco a efeméride.
D. Manuel faleceu em 13 de Dezembro de 1521, no Paço da Ribeira, com 52 anos de idade, vítima da peste que então grassava em Lisboa. Está sepultado no Mosteiro dos Jerónimos, que fundou. Foi aclamado rei nas Cortes de Montemor-o-Novo, de Novembro de 1495. Sucedeu, por direito, a D. João II (1455-1495), seu primo e cunhado, visto o filho legítimo do Príncipe Perfeito e herdeiro da Coroa ter falecido em 1491. D. Manuel descendia da Casa Real, sendo neto paterno do rei D. Duarte e bisneto, por via materna, de D. João I, o Rei de Boa Memória.
Antes de ascender ao trono, foi donatário do arquipélago da Madeira, após a morte do seu irmão, o duque D. Diogo. Na qualidade de Senhor das ilhas da Madeira, D. Manuel, em 1485, traçou para a vila do Funchal um plano urbanístico, no qual determinou a construção de uma igreja (a Sé), um adro, uma praça e a Casa da Câmara, tendo, para o efeito, cedido ao concelho um terreno que lhe pertencia, o denominado Campo do Duque.
Em 1493, ordenou a construção de uma cerca e muros, entre as fozes das ribeiras de São Francisco e de Santa Luzia, para defesa da vila, o que não se concretizou a pedido dos moradores e com a anuência do rei. Contudo, o monarca e o duque insistiram na necessidade de alguns baluartes para segurança da terra.
Mandou construir um novo edifício para a Alfândega do Funchal, em 1508, ficando a sua obra a cargo de Pero Anes, o mestre da Sé.

A ilha da Madeira vivia então um período de prosperidade económica, devido à bem-sucedida cultura da cana sacarina. Antevendo a riqueza que poderia desfrutar, D. Manuel preparou o Funchal para ascensão à categoria de cidade e sede de uma diocese com jurisdição sobre o arquipélago da Madeira e demais territórios ultramarinos, do Bojador à Índia.
Já como rei, D. Manuel, por carta de 27 de Abril de 1497, incorporou o arquipélago da Madeira na Coroa, extinguindo-se, assim, a figura do duque-donatário na administração insular.
Entre a abundante legislação do seu reinado, para a Madeira, saliento os diplomas referentes à protecção das ribeiras e da floresta, nomeadamente o Regimento das madeiras, de 14 de Janeiro de 1515.
Chegaram até aos dias de hoje representações da arte manuelina na Madeira, em especial na arquitectura, mas também nas alfaias religiosas, como se pode observar no Museu de Arte Sacra do Funchal. Arte ornamental, a decoração manuelina caracteriza-se, fundamentalmente, pela utilização exuberante de motivos da Natureza, emblemáticos e heráldicos, seres fabulosos e fantásticos e elementos da actividade marítima.
D. Manuel viveu um tempo de riqueza e de glória. O açúcar da Madeira, o ouro da Mina e as especiarias do Oriente permitiram grandes rendimentos à Coroa. O seu poder estendeu-se por quatro continentes e três oceanos, com o domínio das rotas marítimas, conferindo a Portugal uma dimensão imperial.