Governo tem o maior corpo redactorial

Escrevia há dias um nosso colega que o “Além” nos últimos anos tem acumulado uma Redacção muito volumosa.
No mundo dos vivos, é o Governo Regional que está no podium.
Prometemos que o capítulo da comunicação social estava encerrado nestes artigos de opinião, para não batermos mais no ceguinho. Mas isto é como os caramujos, não enche barriga quanto mais se come.
Quando Alberto João Jardim iniciou funções governativas em 1978, não existiam assessorias de imprensa. Foi criado um gabinete com um jornalista e duas funcionárias, no 1º andar do prédio da Avenida Zarco, em frente à tesouraria do governo, que coordenava todas as notícias emanadas das secretarias regionais e da Presidência do Governo.
Tudo era ali filtrado e enviado então aos órgãos de informação. Assim funcionou durante anos. Quando a Presidência se instalou na Quinta Vigi, anos mais tarde, AJJ nomeou o primeiro assessor de imprensa, e assim funcionou até o final do seu mandato. Nos últimos governos da era Jardim,  nasceu em algumas secretarias pela primeira vez o hábito de requisitar jornalistas para assumir esses cargos.
Na era de Miguel Albuquerque, a Presidência tem um gabinete de comunicação social composto por sete elementos.
A Vice Presidência não fica atrás, e as restantes secretarias regionais, a uma média de dois, totalizam mais de 22 trabalhadores nessa área.
É a maior Redacção informativa da RAM.
Mais, não ficamos por aqui: a Assembleia Regional e os grupos parlamentares enfermam da mesma “doença”.
Os jornalistas, quando requisitados para essas funções, são obrigados a suspender a carteira profissional, enquanto exercem essa actividade.
Acontece que os regressados ao jornalismo contam -se pelos dedos de uma mão. Renegam quase todos o seu trabalho de origem e integram os quadros da função pública como segurança de um emprego para toda a vida.
No tempo dos “fenícios e dos cartagineses”, as Redacções dos diários eram compostas na maioria por profissionais que faziam do jornalismo uma segunda profissão ou part- time. Eram bancários, professores e empregados de escritório que ao final do dia faziam umas horas na Imprensa. Hoje a debandada é ao contrário: deixam-se as Redacções para ir para a Função Pública. Mas afinal o que é um assessor de imprensa?
A ideia é que sejam profissionais capazes de transmitir informações claras e precisas dos departamentos governamentais para a sociedade, e serem responsáveis pela escrita de press-releases e comunicação melhorada com os organismos da comunicação social. Não se sabe exactamente quando esta profissão se terá iniciado, mas especula-se que essas tarefas iniciaram-se já em 1772, num grupo comandado por George Washington.
Teria sido nessa altura que pela primeira vez os estadistas se terão começado a preocupar em repassar informações oficiais de forma mais correcta, e então se terá procedido à contratação de profissionais incumbidos de organizar este tipo de  comunicação.

Apesar do crescimento e reconhecimento dessa actividade no sector público e governamental, até 1906 havia pouca actuação da assessoria de imprensa empresarial, diz-se. Tal cenário começou a mudar nesse mesmo ano, com o jornalista Ivy Lee.

Cá na Madeira, no entanto, Alberto João Jardim era, no seu tempo, o único e verdadeiro assessor de imprensa da Quinta Vigia, embora no seu gabinete existisse um profissional. Desde o nascer ao pôr  do sol, o seu gabinete era uma Redacção de um  só jornalista. Do seu punho, saiam mensagens em folhas de papel que substituíram os saudosos “linguados” ainda usados na Redacção do Jornal da Madeira, e numa caligrafia muitas vezes difícil de decifrar, que só o linotipista Ernesto Berenguer entendia (e mais tarde a secretária pessoal do seu gabinete).

Dava resposta a tudo: a tinta da impressão dos jornais ainda não tinha secado e já caíam nas Redacções os “contraditórios”. Era uma autêntica turbina, ainda antes do tempo dos computadores, não dominando essas tecnologias.

Hoje tudo é diferente vem som (áudio), vem fotos e às vezes até vídeos. Com o “batalhão” de jornalistas ao serviço do governo, temos porém dúvidas se a mensagem está a ser entendida. Hoje anunciam: O governo amanhã faz uma visita aqui e acolá. No dia seguinte confirmam que visitou isto e aquilo, muitas vezes não para falando do evento  em si, mas sim de outros assuntos que acabam por ser notícia, remetendo para segundo plano o que o responsável acabou de visitar.

Os jornais são, entretanto, as caixas de ressonância que vão preenchendo as páginas com a agenda devido à escassez de notícias realmente significativas. Acontece, aliás, o mesmo com a Assembleia Regional e os sucessivos votos de congratulação, em vez de trabalho realmente importante. Assim vai hoje a comunicação social em geral, instalada nos seus “bunkers” e praticamente sem sair à rua. Tudo se resolve com simples telefonema. Muito diferente do antigamente, em que se dava por bem empregue o tempo passado nas esplanadas dos cafés, de onde se regressava muitas vezes carregado de notícias…

Uma realidade bem distante do ideal do jornalismo que questiona, critica e aponta deficiências. Mas é difícil ser de outra maneira, hoje em dia. E a debandada dos jornalistas para “o outro lado da barricada” ajuda pouco a que as coisas sejam diferentes.