Março Macaronésio marca a História na Aviação

Março é um mês histórico da aviação, com a Macaronésia no spotlight. No dia 22 celebraram-se os 100 anos desde que os intrépidos Sacadura Cabral, Gago Coutinho, Roger Soubiran e o açoriano Manuel Ortins Torres de Bettencourt franquearam pela primeira vez, por via aérea e sem mácula, a porção de água que separa a Madeira de Lisboa. 55 anos e 5 dias depois, num dia tenebroso em Tenerife dá-se o acidente mais impressionante da aviação. A meio de nevoeiro, um Boeing 747 da KLM inicia a corrida de descolagem no aeroporto de Los Rodeos, rumo a Amsterdão, após várias horas de espera. Tinha, tal como uma aeronave idêntica da americana Pan Am, divergido para Tenerife em consequência de um atentado bombista no aeroporto de Las Palmas, na vizinha Gran Canaria. No meio de comunicações rádio cortadas por distribuída interrupção, e imprudência, o KLM começa a ganhar velocidade na mesma pista em que se encontra o 747 da Pan Am, a taxiar em sentido inverso. Poucos segundos antes do impacto, o comandante americano desvia o avião para a relva, e o holandês antecipa a rotação, tirando o nariz do solo. O resultado final é o embate do trem principal, da parte inferior da fuselagem e dos motores 1 e 2 do KLM na fuselagem do Pan Am. Do inferno flamejante, sobreviveram 61 pessoas, cerca de 10% das 644 almas que povoavam as duas aeronaves. A fraseologia das comunicações aéreas foi alterada para prevenir o uso leviano da expressão “take off”, mais uma regra da aviação assinada com sangue.

Muita página tem sido lavrada acerca da Groundforce nos últimos dias. A Groundforce é uma marca desenvolvida pela TAP em parceria com a espanhola Globalia.  Legalmente é uma spin-off da TAP, a SPdH – SERVIÇOS PORTUGUESES DE HANDLING, S.A. Foi criada em 2003, quando a TAP decidiu separar a parte da operação e manutenção aérea do handling. Desde então, por associação à Globalia, têm sido os funcionários trajados de azul e preto a coordenar o check-in, embarques, desembarques, carga, push-back, e até venda de bilhetes.

O leitor tirará as suas conclusões sobre a sinceridade do apoio que se está a dar aos funcionários da Groundforce, que experienciam uma aflita situação, por motivos totalmente alheios a eles. A sua vida é jogada num tabuleiro, praticando-se um jogo em que são peões, desarmados daquilo que sempre ofereceram: profissionalismo e dedicação ao passageiro. Há 20 anos atrás eram todos TAP e assim trajavam. Pilotos, tripulantes de cabine, técnicos de tráfego e staff do balcão de vendas.

Muitas das pessoas da Groundforce a quem se jura solidariedade no presente são as mesmas que eram insultadas no aeroporto quando havia atrasos. As mesmas que o madeirense ignorante e primitivo acusava de serem da TAP que desrespeita o ilhéu. As mesmas que sofreram até agressões na gare, e a quem objetos foram arremessados. Nas portas de embarque no aeroporto de Lisboa, protegidas pela PSP (a segurança privada seria cilindrada) de madeirenses enraivecidos por não conseguirem chegar à sua ilha, devido às ventanias que certamente não poderiam ser atribuídas aos continentais. Aquele que defende o funcionário da Groundforce, mas que é contra injetar dinheiro na TAP transportadora é o pior.  A Groundforce vende serviços de handling a companhias áreas. É o seu negócio. Tem como principal cliente o grupo TAP,  mas presta assistência a airlines terceiras, em competição com a Portway, que tem fama de apresentar uma tabela de preçários mais em conta.

Escada da Groundforce na Madeira (Crédito: José Luís Sousa Freitas)

Pois bem, ao se rejeitar a sustentabilidade da TAP, por arrasto sofrem os seus fornecedores. Quanto menos aeronaves a TAP operar e menos voos fizer, menos embarques, carga, push-back, haverá.  Cá na Madeira ficaria o (Blue) Lounge VIP e o balcão de vendas.

Sem a Groundforce ninguém voa.

São parte da família TAP.