O ser humano como ser cultural é, claramente, um fazedor de cultura. Agora que há seres humanos anti culturais, lá isso há e muitos, infelizmente.
Podemos dizer que os fazedores de cultura são todos aqueles que constroem ativamente pontes de diálogo com os outros, seja através das manifestações artísticas, da religião, da gastronomia, entre outras tantas áreas. Segundo Edward Tylor (1832-1917), “a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade.”
Uma boa política de educação cultural, acontece quando a cultura e o ensino andam de mãos dadas. Porque a escola é, evidentemente, um espaço fazedor de cultura.
Os verdadeiros fazedores de cultura são os que conseguem criar uma relação de proximidade de saberes, de comportamentos e de modos de fazer entre as escolas e os criadores e estruturas culturais locais. Nas prudentes palavras de Guilherme d’ Oliveira Martins não há “nada melhor do que garantir uma aprendizagem viva, baseada no contacto dos estudantes com os nossos melhores no domínio da criação”.
Por isso é que não entendo, porque é que muitos são contra os subsídios dados aos agentes culturais. Se estivermos minimamente atentos, vimos que os subsídios dados aos projetos culturais é constantemente criticado, de uma forma atroz, por vezes, até por agentes culturais, ligados ao sector público, quando estes são os que têm tudo o que é necessário e muito mais para as produções, à custa dos contribuintes. Claro que é importante, o apoio das entidades públicas aos projetos das associações e agentes culturais. Porque o estado também deve ser um fazedor de cultura, o que não deve é politizar a mesma, substituindo-se às associações culturais e artistas. Há politização da cultura, quando a aposta recai, somente, nos espaços culturais da tutela governativa.
Na verdade, com projetos bem enquadrados com a comunidade todos ficam mais habilitados, com mais competências para aplicar na vida. Por isso é que as pessoas devem ter interesse em participar e produzir ativamente cultura e não somente a usufruir da mesma de forma passiva.
O facto da cultura não ser estática é influenciada por novos hábitos. Mas a cultura também constrói-se com novas ideias, novos fazeres que perpetuam no tempo. A cultura está intrinsecamente com o povo e é adquirida através das relações sociais, por isso devemos ter a consciência do valor da cultura, para que a mesma seja transmitida para as gerações futuras.
Devemos cada vez mais sensibilizar as comunidades para a importância da consciencialização cultural, como alavanca de desenvolvimento que cria uma marca, uma identidade, que nos distingue dos demais.
Faz-me também alguma confusão o vangloriarem-se com a denominação de companhias residentes, num determinado espaço cultural, quando estas, só lá aparecem quando o “rei faz anos”. Para merecerem o título de companhia residente, devem apresentar estreias de forma regular no espaço que as acolhe.
Se a cultura significa numa palavra: cultivar, há, no entanto, que não esquecer, que não basta cultivar para se colher bom fruto. Para se colher bom fruto, há que cultivar, cuidar, regar, mondar, podar e deixar a melhor semente para outras cultivações, num processo contínuo, hoje e amanhã.