Ainda sou do tempo… da telescola (em cassetes)

Em 1982/83 fiz a antiga telescola (atuais 5.º e 6.º anos) na minha freguesia de nascença, a Ribeira da Janela.
E os conteúdos não eram transmitidas como noutras paragens, pela RTP, nos dias úteis entre as 14 e as 19 horas. Não! No caso da Ribeira da Janela -e presumo que noutras localidades da costa norte da Madeira- os conteúdos vinham em cassetes.

Lembro-me das cassetes das disciplinas que eram semanalmente entregues por uma “rancheira” (Peugeot) da Secretaria da Educação que calcorreava o norte da Madeira com essa missão de troca de cassetes.
No caso da Ribeira da Janela, a coisa ficava mais difícil porque a escola ficava no alto, não havia a actual estrada para o Fanal, e era necessário descer até à ponte (estrada regional que liga o Seixal ao Porto Moniz) para recolher as cassetes.

Todas as semanas, a professora escolhia um a dois alunos, para essa tarefa cívica de descer à ribeira para levar as cassetes para a escola. Havia professoras da terra mas outras que vinham de fora e eram obrigadas a alugar casa na freguesia para desempenhar a sua missão.

A “fotocopiadora” para imprimir as fichas e testes era uma bandeja duplicadora de gelatina, antes mesmo do mimeógrafo. Ainda me lembro, curioso, de assistir à preparação da bandeja, dos cristais de gelatina, glicerina, latas e água (doce e salgada).

A televisão era uma raridade na freguesia. O primeiro aparelho tinha chegado cinco anos antes. E toda a vizinhança se juntava para ver, sobretudo, a telenovela “Gabriela”.

Por isso, ir para a escola para ver televisão (telescola), mesmo que para ver conteúdos pré-definidos, era um regalo. Foi assim que aprendi as primeiras palavras em francês.

A telescola funcionou entre 1965 e 1987, permitindo a milhares de alunos completarem o ensino do quinto e sexto anos de escolaridade.

Já não me lembro se existiam dois professores, um da área das ciências e outro das letras, mas creio que era “dois em um”. Era o mesmo professor que completava as lições televisionadas, com fichas e mais informação. O mesmo professor que, mesmo antes de se “inventar” a escola a tempo inteiro já estava a tempo inteiro ao serviço dos seus alunos. Era através dele que passavam as primeiras regras de saúde pública, da vacinação obrigatória aos remédios para as lombrigas e ao famoso óleo de fígado de bacalhau.

Hoje, 38 anos depois, quem diria que uma pandemia (Coronavírus) iria “ressuscitar” a telescola?!. É certo que com outras nuances, mas com a mesma ideia universalista e dando oportunidades a todos de APRENDER.