Hoje, Dia dos Namorados, além de comercial é de reflexão. Um estudo nacional sobre violência no namoro, divulgado neste dia, dá conta daquela que é sensibilidade prática do que vemos e ouvimos, dá corpo, por assim dizer, ao que nos é permitido verificar nas ruas, nas escolas, nas casas, nos relatos que são feitos durante abordagens que permitem aquilatar da dimensão do problema. Há muito a fazer no combate à violência doméstica, há muiuto a fazer na conceção de uma faixa relevante da juventude, relativamente à violência no namoro.
Pelo terceiro ano consecutivo, a Madeira participou neste Estudo Nacional da Violência no Namoro, com a colaboração de sete escolas de três concelhos da Região: Funchal, Câmara de Lobos e Machico. Conseguimos reunir uma amostra de 454 jovens (236 raparigas e 212 rapazes, e 6 jovens que não indicaram o seu sexo), com uma média de idade de 14 anos. Uma equipa técnica de estudo, composta por Cássia Gouveia Carina Jasmins Joana Martins Valentina Silva Ferreira, da UMAR Madeira, desenvolveu os dados relativos à Região. E constatou várias situações verdadeiramente relevantes para merecer reflexão, prevenção e intervenção.
Dos elementos disponibilizados hoje, constantes do estudo nacional mas referentes à Madeira, regista-se que “32% dos/as jovens inquiridos/as consideram normal, em relacionamentos de intimidade, o controlo, 27% considera normal a perseguição, 22% normaliza a violência sexual, 18% acha normal a violência através das redes sociais, assim como a violência psicológica e 9% a violência física. Como podemos verificar, todas as categorias são mais legitimadas pelos rapazes”.
Naquilo que diz respeito às tipologias “proibir de vestir determinada peça de roupa” é a mais legitimada, com 38% (29% raparigas vs. 48% rapazes), seguindo-se o “pegar no telemóvel ou entrar nas redes sociais sem autorização” (37%: 35% raparigas vs. 40% rapazes); “proibir de estar ou falar com amigos/as” (34%: 27% raparigas vs. 42% rapazes) e “proibição de sair” (32%: 21% raparigas vs. 43% rapazes)”.
O estudo considera “preocupante verificar que 21% dos/as jovens, que estiveram ou estão numa relação de intimidade, já sofreram violência psicológica, sendo esta a categoria com maior percentagem, e as raparigas sofreram mais do que os rapazes, com uma diferença de 11%. Esta é, aliás, uma tendência em todas as categorias da vitimação, destacando-se a segunda maior discrepância entre raparigas e rapazes no controlo, com uma diferença de 10%. É de realçar que 20% dos/as jovens dizem ter sofrido controlo e 18% perseguição numa relação de intimidade”.
Analisando cada categoria estudada, “é possível verificar que as situações mais frequentes em relações de intimidade são “insultar durante zanga” (30%); “proibir de estar ou falar com amigos/as” (30%) e “pegar no telemóvel ou entrar nas redes sociais sem autorização” (22%). Relativamente à diferenciação por sexo, apenas na tipologia “proibir de estar ou falar com amigos/as”, são as raparigas com maior percentagem (36% vs. 24% rapazes), sendo que nas restantes duas as percentagens são similares para ambos os sexos. A tipologia “pressionar para ter relações sexuais” é a que apresenta menor percentagem mas, ainda assim, 4% da amostra (6% raparigas vs. 2% rapazes) diz já ter sofrido esse tipo de violência”.
Os dados analisados do Estudo Nacional da Violência no Namoro, onde se incluem também os da Madeira, constituem uma amostra de 4.598 jovens (2577 raparigas e 1975 rapazes), com uma média de idades de 15 anos. O estudo Salienta, como primeira conclusão, que “os indicadores de vitimação, de um modo geral, apresentam números preocupantes entre os/as jovens, sendo que 58% do/as jovens que já namoraram, reportaram terem sofrido, pelo menos um dos comportamentos de violência questionados. 30% das raparigas e 28% dos rapazes, reportaram já terem sido insultados durante uma discussão ou zanga e, 25% das raparigas e 20% dos rapazes reportaram que já foram proibidos/as pelo/a (ex)namorado/a de estar ou falar com amigos/as durante a relação.
Em segundo lugar, refere o memso estudo, “importa realçar que 67% dos/as jovens não considera violência no namoro pelo menos um dos comportamentos questionados. No que diz respeito à legitimação dos comportamentos de violência em que a diferença entre rapazes e raparigas é maior, destacam-se os comportamentos de violência sexual, nomeadamente o “pressionar para ter relações sexuais”, onde a legitimação entre os rapazes é quatro vezes superior em relação às raparigas (16% vs. 4%). O mesmo acontece no que se refere aos comportamentos de controlo, como “pegar no telemóvel ou utilizar as redes sociais sem pedir autorização do/a outro/a”, (30% raparigas vs. 42% rapazes)”.
A partir destes resultados, “compreende-se que a violência no namoro está presente quer pela experiência vivida nos relacionamentos íntimos — com a vitimação entre 6% (violência física) e 20% (violência psicológica) – quer pela legitimação e naturalização destes comportamentos, em que os dados se situam entre 5% (que legitimam comportamentos de violência física) e 26% (que legitimam comportamentos de controlo)”.
Este estudo foi realizado pela UMAR nas Escolas, em todo o país, integrado no Projeto ART’THEMIS.