Crónica de Viagem: Urfa, cidade histórica numa zona da Turquia mais árabe que otomana

Urfa e Harran são locais que passam despercebidos à maioria dos viajantes que se deslocam à Turquia. Tenho feito nos últimos anos de Istambul a plataforma para viajar  para outros países do Médio Oriente.
Tudo o que é  histórico e bíblico desperta em mim um apetite em conhecer profundamente. Hoje vou dar-vos a conhecer duas cidades importantes, que dividi em duas crónicas.
As colunas coríntias
Viajei de Istambul  para Sanliurfa num percurso de 1h55 de avião. O problema é que estou no Curdistão e o turismo na região é a primeira vítima do conflito entre PKK e o estado turco. De cada vez que as acções armadas ameaçam regressar, os turistas deixam de vir. Mas em quem é de Deus, o medo não existe.
A gruta de Abraão
Na designação Sanliurfa, “Sanli” significa “grande, gloriosa”. Mas a cidade continua a ser conhecida pelo antigo nome  Urfa Esta é uma Turquia diferente, mais árabe do que otomana. Aqui terão nascido Abraão e Jó, sendo estas a cidade dos profetas. Chamam-lhe assim do judaísmo, do cristianismo e do islamismo, a cidade onde passaram sumérios, babilónicos, hurritas, hititas,seljúcidas,  macedónicos, romanos, bizantinos, árabes e otomanos.
No grande Bazar

Do meu hotel vejo duas colunas coríntias, no topo da colina  do castelo que a crença local diz terem sido parte da catapulta com que o rei Nimrod terá tentado matar Abraão, lançando-o para uma fogueira que logo se transformou num lago (e os troncos em peixes). Subi ao castelo e percorri as ruas da antiga Urfa, o seu bazar, passeei junto ao chamado lago de Abraão (Baliki Gol), um local com peixes sagrados, que dizem trazer sorte a quem os alimentar. O espaço aos pés da colina da muralha está rodeado de jardins e de estruturas religiosas.
O lago Baliki Gol e os peixes sagrados

Aqui fica a Gruta de Abraão,onde se diz que este terá nascido e a mesquita que leva o seu nome (que já foi igreja), a mesquita Rizvaniye, otomana, e um convento dervixe que já foi uma igreja ortodoxa arménia  que albergou o chamado Mandílio (sudário) de Edessa (o nome clássico de Urfa).
Mesquita
Sapatos não faltam à entrada da mesquita, mas ninguém os quer engraxar…
Trata-se de um pano no qual Jesus terá limpado o rosto que aí ficou marcado (e que está agora no Vaticano). Há mais Urfa para ver e toda uma região para escancarar ,a planície de Harã aqui ao lado com mais histórias bíblicas e imperiais, um dos berços da civilização,  será o tema da próxima crónica.
A mesquita Rizvanye: o lava-pés é obrigatório

É em Urfa que temos o melhor jantar otomano, podendo encontrar a excelente comida do país, os kebabs, que são os primeiros da Turquia. O segredo, dizem, está nos pimentos e no corte da carne.
O conhecido Kebab, apreciado também no Ocidente…
E as menos apreciadas cabeças de borrego no mercado…