Ano novo, vida nova. É esta a esperança que todos nós, de uma forma ou de outra, depositamos naquilo que, na prática, não passa de um número. Mas vale pela renovação dessa mesma esperança, num enquadramento de algo que aparentemente vira e parece que dá a volta a qualquer coisa, verificamos depois que até pode dar a volta a muita coisa mas também pode trocar-nos as voltas da vida num abrir e fechar de olhos. Feliz Ano Novo, Bom Ano, são votos que ouvimos passar nos dias, nas horas, nos minutos e nos segundos que antecedem e precedem o fogo, um marco importante que nos faz viver como se estivessemos a saltar para um outro lado entre o brilho dos foguetes e o fumo que estes trazem como que fazendo chegar o que é bom e levando o que não presta, para falarmos numa linguagem popular naquela que é a ilusão do 31 de dezembro e do 1 de janeiro.
E é por falar em esperança de ano novo que nos lembramos, também, da forma como os governos exercem a gestão, a sua gestão interna e a gestão do eleitorado, de maneira a garantir que este mantenha aquela imagem, caricaturando claro está, do coelho e da cenoura sempre bem perto mas nunca suficientemente perto para lá chegar. E o novo ano, também neste domínio, traz aquele pensamento que “vai ser desta”. Será? Pode ser que sim, pode ser que não.
Na generalidade, os políticos atuam de uma forma antes das eleições, então como candidatos, e de outra forma depois das eleições, já como governantes, com este intervalo temporal pelo meio, 2020, para digerir resultados de 2019 , com as legislativas, nacionais e regionais, e preparar o voto em 2021, com as autárquicas. Os candidatos garantem a “pés juntos”, como diz o povo, que é Deus no Céu e eles na Terra, antes das eleições haverá ferry todas as semanas, se a eleição estiver “tremida” podem até prometer a ligação duas vezes por semana com paragem em todas as “estações”. Subsídio de mobilidade também, é coisa fácil de resolver, paga-se 86 euros e não se fala mais nisso, é promessa boa para os madeirenses, vão pagar mesmo 86 euros já em 2020 (e acreditam mesmo nisso), boa para os Governos que garantem votos que pareciam “voar” com avanços e recuos ao longo dos tempos. Assim, à mão de semear, conseguem o “milagre” da unanimidade em termos de vencedores. Ficava tudo a ganhar antes do voto. Isso era antes…
Claro que, depois, não é nada assim. Mas já está feito, agora é empurrar com a barriga, constituir uma comissão de estudo, formar orçamentos sem saber o que colocar para o “ferry”, e porque não se sabe não se coloca nada, o contrato foi à vida e a culpa é de lá, é de cá e é de quem a apanhar. Enquanto se faz o estudo, mais um, enquanto se discute que a ligação não é viável, se terá carga ou não, se é por dois anos ou não, se vale a pena ou não, o povo aguarda até 2021, altura em que, previsivelmente, por ocasião das eleições autárquicas, teremos cada candidato a presidente de Câmara numa potencial corrida por aquilo que pode dar votos, um “ferry” de ligação a cada concelho e um subsídio de mobilidade que as Autarquias, de acordo com as suas cores políticas, podem negociar diretamente com Lisboa, como se estivessemos perante pequenos governos locais a tratar de assuntos regionais. Não seria a primeira nem a última vez.
Não sabemos o que nos trará 2020 nestes domínios daquilo que parecia uma certeza e que está mais indefinido do que nunca. A manter-se assim, dado que a alteração do modelo de mobilidade parece ser uma miragem, continuaremos a ter aumentos nas passagens, preços vergonhosos em “picos” de procura e, de forma sistemática, protestos que duram alguns momentos e que só se renovam até ao próximo aumento, como aconteceu com a última taxa aplicada pela “criativa” TAP. Tudo isto de forma inconsequente, estamos hoje como estávamos há um ano, salvaguardando a decisão do Governo Regional, e neste caso bem, de aplicar uma medida para os estudantes, pelo menos fez alguma coisa que se veja. Falta o resto, nesta tentativa desarticulada de articular posições com o Governo da República, aguardando-se que em matéria de taxas de juro e hospital, a situação seja cumprida na medida da dimensão pensada, se bem que daqui a uns dias lá pode vir uma outra qualquer discussão que, afinal, Lisboa não paga 50% mas muito menos fazendo bem as contas. E andamos nisto o tempo todo. Votamos e somos embrulhados em papel de oferta. Gostamos tanto que voltamos a votar e voltamos a ser embrulhados.
Vamos ser otimistas e acreditar em 2020, até porque é importante ter em conta que além do ferry e do modelo de mobilidade, do hospital e das taxas, há muita coisa para tratar, os governos estão a governar e ainda por estes dias estão a sair nomeações e orgânicas. Não será preciso muito esforço para compreendermos que este “puzzle” dá trabalho a muita gente.
Não é para brincadeiras, primeiro é preciso arrumar a casa e depois logo se vê o tempo que fica para o ferry e para a mobilidade. E para o resto. Depois de tudo devidamente colocado.
O povo, entretanto, daqui até lá já nem se lembra de metade…
Feliz Ano Novo.