Crónica de viagens: Bali, sacrifício, oferenda, culto e adoração

Templo Tirta Empul: os ocidentais procuram este destino em busca de oração e meditação a deuses representados em pedra e madeira.

Estou na recta final desta odisseia. Iniciei com um aperitivo, e vou encerrar com uma sobremesa, visitando a “ilha dos deuses”. “Comer, Rezar, Amar”, foi o título do filme rodado em Bali que teve como estrela Julia Roberts: depois disso o número de turistas não parou de crescer, estando este destino no imaginário de de 99% dos viajantes.
Alemães, espanhóis, franceses na sua maioria, oferecem autênticos manjares aos deuses.
Ajoelhar e rezar na companhia do guia
A História de Bali principia mais ou menos no ano 2500 a.C, quando um povo asiático emigrou para esta ilha. Os primeiros relatos da existência de Bali aparecem a partir do século VIII. Contudo, é sabido que ao final da pré-história, os hindus já haviam chegado à zona por meio da Península Industânica, Java e Sumatra, conhecendo-se ainda a presença da cultura chinesa no século VII. Documentos datados do século X falam sobre uma dinastia governante em Bali, independente de Java.
A religião Hindu é maioritária em Bali. E aqui os ocidentais pagam, e muito, para rezar
Desde então, as histórias de Java e Bali sempre se foram entrelaçando. Bali foi independente até o século XIII, quando passou a depender dos reis de Singhasari, um reino de Java .Em 1343, Bali, com a oposição dos balineses, passou a fazer parte do Império Javanês de Madjapahit, que havia substituído ao reino de Singhasari. No final do século XV, Bali tornou-se independente de Java. No século XVI, foi criado em Bali o reino de Gelgel.

O rei Dalem Waturenggong chegou inclusive a conquistar parte da ilha de Java. O século XVI é o Século de Ouro de Bali. A chegada do islamismo a Java contribuiu para isso, já que grande parte da aristocracia, dos intelectuais e artistas javaneses emigraram para Bali, de tal forma que seu peso e influência na região passou  a ser muito importante e a ilha torrnou-se o centro da cultura indojavanesa. No final do século XVI, começou uma época de instabilidade, com guerras internas que favoreceram o nascimento de diversos reinos em Bali.
Não faltam as cerimónias e os banhos purificadores

Em 1585, os portugueses chegaram à ilha e, em 1597, foi a vez dos holandeses. O holandês Cornelis Houtman reclamou Bali para a coroa holandesa e, seis anos mais tarde, a Companhia Holandesa das Índias Orientais chegou à ilha, onde se dedicou ao comércio do ópio e de escravos. Em 1743, o príncipe Surakarta de Java cedeu os seus direitos aos holandeses. Em meados do século XIX, os holandeses decidiram controlar a ilha pela força e iniciaram a sua conquista, com conflitos que não terminariam até 1908. Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, o exército japonês ocupou Bali, que foi libertada pelos aliados em 1945.
Os múltiplos vendedores nas proximidades dos templos fazem parte da máquina de facturar
A água de coco é muito procurada para aliviar o calor
Viajar é trocar a roupa da alma: esta frase de Mário Quintana ilustra na perfeição o propósito desta minha viagem. A vida é uma maravilhosa viagem, desde o primeiro ao último segundo. Uma viagem ao encontro de nós próprios, ao encontro de pessoas, lugares e experiências únicas. A viagem leva-nos a sair da nossa zona de conforto, da rotina e, muitas vezes essa viagem é feita quando viajamos pelos nossos pensamentos, pelas nossas preocupações. Esta viagem às Molucas foi constante e desafiante.
Para entrar nos templos é preciso usar um sarong, para cobrir as pernas
A viagem  que acabei de realizar levou-me ao contacto com a história, numa altura que se comemoram os 600 anos da descoberta da Madeira. Embora ilhéu, apreciei o contacto com a natureza na sua plenitude saindo de uma Ilha para outras ilhas. Montanhas, vulcões, lagos, ar puro, natureza virgem, tudo isto me faz rejuvesnecer a alma. Esta viagem está gravada no subconsciente para ser usada ao longo dos restantes anos da minha vida.

Templo Goa Gajah Bedulu: os turistas registam as suas visitas em imagens.
Acabei de ler um estudo interessante acerca do acto de viajar: Será que algumas pessoas estão geneticamente predispostas para viajar? A ciência diz que sim. Segundo alguns estudos, há um componente genético por trás da vontade de algumas pessoas de viajar – é a síndrome PPP – Permanent Passaport in Pocket (Síndrome Passaporte Permanente no Bolso). Em 2016, uma série de artigos revelaram a presença de um gene da “sede de viagens” (wanderlust) – DRD4-7R, mais precisamente. Um blogue de psicologia sugeriu que 7R, uma variação do gene  DRD4 – que actua  nos níveis de dopamina no cérebro e acaba por resultar em motivação e comportamento – existe em 20% da população humana. A variante 7R, segundo os pesquisadores, traduz-se em “inquietação e curiosidade”.
Ilhas Gili, um paraíso procurado, na sua maioria, por asiáticos, como chineses e coreanos

Essa inquietação pode impulsionar as pessoas a assumirem riscos maiores, que incluem explorar novos lugares. A dopamina funciona no cérebro como se estivesse a gritar :”Novo! Mais! Novidade!” Dawn Maslar, uma bióloga da Universidade de Kaplan  nos Estados Unidos, estudou o efeito que hormonas como a dopamina podem ter no cérebro. Dawn acredita que há uma relação directa entre este gene e o número de carimbos no passaporte. A dopamina é o gene do gostar, e quando se quer mais, não se fica saciado – acaba-se viciado, disse à revista Condé Nast Traveller.
Os visitantes são aos magotes para ver o espectáculo natural do mar a bater nas rochas

“Vemos uma maior percentagem de gene DRD4-7R em sul e norte-americanos. A palavra wanderlust, claro é um empréstimo da palavra alemã wanderlust que significa “paixão por viagens”. Há quem pense que esta vontade é contagiante em vez de ser inata. Glória Mc Coy, directora do traveller´s Century Club – organização que representa viajantes que já tenham ido a mais de 100 países – considera que a “sede de viajar” vem das relações pessoais a que uma pessoa está exposta . Aqui interrogo-me se faço parte dessa família!! Quaisquer que sejam as origens deste impulso Wanderlust – sejam genes presentes no ADN ou uma tendência psicológica
desencadeada por certas condições – há uma verdade que parece incontestável: a melhor maneira de tratar esta vontade louca de viajar é render-se a ela. O estudo revela que ir de férias pode ser o segredo para viver mais.
Lanchas rápidas transportam as pessoas para as ilhas Gili, num trajecto de 45 minutos.
Embora tivesse passado apenas cinco dias em Bali, foi o tempo suficiente para me familiarizar com a cultura local. Visitei alguns lugares deslumbrantes e turísticos desta ilha. Seleccionei sete lugares imperdíveis para visitar.

1- Templo Uluwatu (Pura Luhur Uluwatu)

O templo é considerado um dos pilares espirituais de Bali, e devido à sua localização espectacular, é um dos melhores lugares para ver o pôr-do-sol. Mas, mesmo sem pôr-do-sol, a vista do templo é de tirar o fôlego! Definitivamente é um dos melhores lugares para visitar em Bali.
2 – Templo das Fontes Sagradas (Tirta Empulu)
De acordo com o meu guia Balinês, há mais de um milhão de templos em Bali. O povo balinês é muito religioso,e quase todas as casa tem o seu próprio templo. Com tantos templos para escolher, eu diria que o Templo das Fontes Sagradas teve de ter prioridade na minha lista a visitar. Uma visita a este templo hindu é uma grande oportunidade para admirar a sua beleza, aprender sobre a cultura balinesa e, particularmente testemunhar a devoção do povo.
Nome do português no memorial às vítimas do atentado terrorista de 2002.
O memorial
3 – Jatiluwih: Terraços de Arroz
Bali tem uma paisagem diversificada que vai das montanhas a bosques fechados, e rios que correm para as zonas costeiras, belas praias e campos de cultivo impressionantes. Em muitas partes ,particularmente no sul, Bali é cheia de terraços de arroz, e alguns deles tornaram-se grandes atracções turísticas. Para ver tive de me deslocar a Jatlluwih.
Cortejo religioso.
4-Plantação de Café Luwak
Se gosta de café, Bali é o lugar perfeito. O saboroso café de Bali é muito diverso e há diferentes tipos para agradar a todos os paladares. As primeiras mudas de café chegaram a Bali no inicio do século XX e, por causa do solo fértil vulcânico e clima temperado, as plantações de café expandiram-se rapidamente. Não só a espécie robusta é encontrada na ilha ,mas também a arábica que de facto é agora a mais comum. A grande diferença entre o café balinês e o produzido noutras partes da Indónesia é o método de processamento.Em Bali, eles usam o processamento por via húmida, enquanto o resto do país usa o processo seco. Isso configura um sabor muito especial,que faz que o café balinês seja considerado um dos melhores  do mundo.
Não podia faltar a vaca, animal sagrado.
Desfile
5- Praia de Uluwatu
Uma praia linda, muito frequentada por turistas .Fica em frente de um enorme paredão de pedras onde estão instalados alguns bares e restaurantes que têm uma bela vista. A praia tem uma espécie de gruta ao chegar ao mar, é um lugar diferente e muito bonito.
6-Tanah Lot
O templo foi construído em pedras que ficam “no meio do mar “. Quando a maré está baixa é possível ir até o local, mas quando está alta o templo fica isolado. O pôr do sol visto dali é um dos mais lindos da ilha.
Música não falta, e estes pratos são um instrumento muito utilizado

7- Ilhas Gili
A viagem entre os dois destinos demora aproximadamente 1h30 de barco. As três ilhas são tranquilas e nem há carros. Tudo é feito a pé, de bicicleta ou carroça. São lugares excelentes para relaxar na praia, mergulhar e descansar.