
Com os vulcões adormecidos em volta, cheguei a Ternate. Esta é a ilha com a maior cidade das Molucas do Norte, na Indonésia, com uma população de cerca de 200 mil pessoas. Aqui chegaram os portugueses, tão cedo quanto 1511, contando-se entre os primeiros europeus a ali chegar. Integravam então uma expedição lusa liderada por Francisco Serrão, vindo de Malaca. Ali chegou o navegador numa nau que encalhou próximo de Ceram, sendo auxiliada pelos nativos. O então Sultão, Abu Lais, não perdeu tempo em estabelecer uma aliança com os portugueses, trazendo os tripulantes da nau para Ternate logo no ano seguinte e dando autorização aos portugueses para criar uma fortificação na cidade, que começou a ser edificada em 1522, o Forte de São João Baptista.

Porém, o relacionamento com os locais não se mostrou fácil, dado que para aquele longínquo entreposto só iam verdadeiros aventureiros sem escrúpulos, de ambição desmedida, pelo que houve tensão desde o princípio, apimentada pelas tentativas de cristianizar aquela que era uma população muçulmana.

Os espanhóis também cobiçaram aquela localização nas longínquas ilhas das especiarias: García Jofre de Loaísa ergueu um forte em Tidore, ilha vizinha, onde chegou em 1526, mas os portugueses atacaram-na a partir do seu forte em Ternate. Depuseram mais tarde o sultão Tabariji enviando-o para Goa, onde o converteram ao cristianismo. O então rebaptizado D. Manuel foi mandado de volta para reassumir o seu trono, uma vez inocentado das acusações que sobre ele pendiam. Porém, faleceu durante a viagem de volta. Mas tinha legado a ilha Amboina ao seu padrinho, que era, nada mais nada menos, do que madeirense, natural de Santa Cruz: Jordão de Freitas. O “mistério” de termos um madeirense rei de uma ilha nas Molucas está desfeito. Lanço daqui o meu alerta para as comemorações dos 600 anos da descoberta da Madeira poderem integrar uma justa homenagem a este ilustre ilhéu, conforme já referi.

António Galvão, chegado a Ternate em 1536, acabou por compensar os maus feitos dos duvidosos aventureiros que o antecederam. Organizando o governo das Molucas e empreendendo uma razoavelmente bem-sucedida reconciliação e cristianização, criando em Ternate estruturas como uma escola e um hospital, além de um muro de protecção envolvendo a cidade, acabou por ser conhecido como “O Apóstolo das Molucas”. No entanto e mais tarde, os portugueses acabariam por assassinar o sultão Hairun, com os habitantes a reagir furiosamente e a cercar em 1570 o forte português. Após cinco anos de cerco, os portugueses acabaram expulsos e a ilha Amboina tornou-se o novo centro das suas acitividades. Ternate acabou por se tornar uma potência regional islâmica e contrária aos portugueses, durante os reinados do sultão Baab Ullah (1570-1583) e do seu filho, Said.


Hoje, aqui se encontra ainda a zona de produção do cravinho e da noz-moscada, com plantações a perder de vista. Foi por estas especiarias que os portugueses demandaram estas longínquas paragens: os mercadores árabes vendiam estas então muito cobiçadas especiarias aos europeus, a preços exorbitantes. Também os espanhóis e os holandeses estiveram nas Molucas, procurando dividir para reinar.
Actualmente, o velho forte português encontra-se num estado distante do original, tendo sido, eventualmente, sujeito a destruição e dispersão de materiais.


Fomos a Tidore em lancha rápida: foi ir e vir, depois de permanecer algumas horas na Ilha. Levámos um dia e percebemos que a memória do português como língua franca ainda subsiste em várias centenas de palavras, de origem lusa. Por exemplo, sapato, diz-se Sepatu;
