Partidos não poupam críticas ao Executivo camarário por “propaganda”, “demagogia” e “caciquismo”

Fotos: Rui Marote

As críticas à gestão municipal do Executivo de Paulo Cafôfo prosseguiram nas cerimónias de hoje, Dia em que a cidade do Funchal comemora a bonita idade de 510 anos, pela voz dos representantes de partidos como o PTP ou o Movimento Partido da Terra. Em alguns casos, como foi o caso do discurso do representante deste último partido, motivaram mesmo reacções adversas da assistência que se concentrou no Largo do Município. Ou seja, Roberto Silva, que não poupou nas críticas, entre outras situações, denunciando a deficiente recolha de lixo, aspecto fundamental da cidade, foi mesmo apupado por alguns. Uma atitude que mereceria reparos da representante da CDU, Herlanda Amado, que explicou, de forma pedagógica, que em democracia é preciso saber ouvir as críticas – chamada de atenção que, por seu turno, mereceu aplausos.

Raquel Coelho, do PTP, disse por outro lado que “de nada servem palavras bonitas e discursos de circunstância se não somos consequentes no nosso trabalho e fiéis aquilo que nos propusemos a fazer pela população, na qualidade de autarcas eleitos”.

“Fazer a mudança política na cidade do Funchal, não foi tarefa fácil. Conseguir o acordo de seis partidos para retirar a hegemonia do PSD, na Câmara Municipal, só foi possível com o labor de muita gente. Não foi fruto do trabalho de UM HOMEM SÓ, muito pelo contrário, deveu-se ao esforço de um conjunto de democratas e autonomistas, que durante anos lutaram, com muitas derrotas pelo meio! Mas finalmente em 2013, fomos bem-sucedidos na nossa missão: conseguimos alterar a correlação de forças, graças ao espírito de unidade dos democratas de vários matizes”, congratulou-se.

Porém, acrescentou, “o problema é que pouco tempo depois a ambição desmedida do Partido Socialista deitou tudo a perder, os recém-eleitos depressa se esqueceram que a vitória foi fruto de um trabalho colectivo e usurparam para si próprios, o projecto Mudança. Afastando sem qualquer pudor, alguns dos seus ideólogos que estiveram na sua génese. Infelizmente, a história repete-se sempre: em todas as revoluções há contra-revoluções. Como bem ilustrou em 1945, o jornalista, George Orwell, no seu, livro o Triunfo dos Porcos. Uma sátira intemporal, que relata a derrota dos idealismos e a transformação progressiva dos revolucionários “libertadores” nos novos privilegiados e opressores”, denunciou.

Os trabalhistas “encontram um paralelismo na história da Coligação Mudança, hoje rebaptizada de Coligação Confiança. Conseguimos uma vitória revolucionária, mas os seus dirigentes foram incapazes de congregar as vontades e respeitar os partidos do projecto inicial, a governação pouco diverge da do PSD e é propagada como o projecto revolucionário de um homem só”, acusou.

Quanto aos principais ideólogos da coligação, “foram defenestrados”.

“A grande obra do regime era, no “Triunfo dos Porcos” original, um moinho. Na Quinta Cafofiana, célebre a Loja do Munícipe, que prometia modernizar os serviços camarários e acabar com toda a burocracia. Mas contradição das contradições: um cidadão que remeta algum processo na Câmara não o consegue agilizar em menos de um ano. Digamos que montanha pariu um rato!”, ironizou.

“Quando o PTP e outros partidos se uniram em torno da Coligação Mudança não pretendíamos só derrotar o PSD, mas sobretudo, pôr termo às políticas que levaram à ruína financeira e económica do nosso município (…)  Todavia, mesmo com alteração da correlação de forças na Câmara do Funchal, esse sonho de transformação da sociedade, pouco avançou. Os vícios do passado subsistem a olhos vistos. É alianças com os grupos económicos que dominam e subjugam a Madeira, é o controlo da imprensa, é negociatas e nomeações para pagar favores e apoios políticos”

“No final de contas, a cidade que temos no presente não é substancialmente diferente daquela que herdamos em 2013. Ficamos muito aquém dos objectivos pretendidos. O executivo camarário só foi praticamente bem-sucedido na vertente da propaganda”, e exerce uma governação “à base da demagogia e do caciquismo”.

A CDU, por seu turno, sublinhou que não quer “um rumo ditado apenas pelos empreiteiros do regime”, e denunciou também o “abate selvático” das árvores no Funchal pela CMF.

“Não queremos o rumo que destrói a identidade, chame-se esse rumo “Dubai” ou “Singapura”, disse Herlanda Amado. O Funchal, salientou, não é a “coutada de alguém”. Por outro lado, denunciou que oito anos depois da aluvião de 2010, “há ainda muito por resolver”. Também na sequência dos incêndios que chegaram a ameaçar até a baixa funchalense, disse, “as plantas infestantes continuam a crescer e a tomar conta da nossa paisagem, sem que haja uma linha de intervenção concreta de combate ao eucalipto”.

Denunciando as “quezílias políticas” que prejudicam o bom governo dos cidadãos, Herlanda Amado referiu ainda o problema da habitação, “um flagelo social que atinge cerca de 3 mil famílias”.

Denunciou ainda a adiada e tão prometida requalificação das zonas altas, uma melhor gestão dos bairros sociais e a valorização dos trabalhadores da autarquia, cujo subsídio de insularidade foi recentemente aprovado em Assembleia Municipal, “com os votos contra dos partidos que suportam esta Câmara”.