Crónica de viagem: Em Istambul, meditando sobre a “era do medo”

Todas as portas do famoso Grande Bazar têm polícias armados de metralhadoras
Rui Marote
O canal História exibiu no passado sábado o ultimo episódio de “A Era do Medo” uma série de dois eposódios que apresentava a luta contra o terrorismo e o modo como o mundo está enfrentar a ameaça que é cada vez mais presente no dia-a-dia das sociedades.
12 de Setembro de 2001 foi o primeiro dia de uma nova era na História da Humanidade: a era do terror. Os atentados do 11 de Setembro lançaram os EUA para a linha da frente de uma batalha sem regras nem tácticas convencionais, onde a vitória só dependia de saber ou não descodificar o ADN de um tipo de guerra totalmente novo. Passados 16a nos e milhares de vidas perdidas, o mundo viu-se transformado pela luta contra o terrorismo. Estaremos aprisionados numa guerra sem fim? “A Era do Terror”? Vivemos de novo o temor da destruição nuclear nas tensões Coreia do Norte…
Onde  eu estava  no dia 11 de Setembro de 2011? A bordo do “Voyager of the Seas” na ilha de Labadeeum, porto localizado na costa norte do Haiti. É um resort privado, alugado à Royal Caribbean Cruises até 2050, e que tem contribuído com a maior proporção de turistas para a receita para o Haiti desde 1986 empregando trezentos moradores, permitindo que outras duzentas pessoas possam vender os seus produtos no local mediante uma taxa e pagando ao governo haitiano 12 dólares por turista. O resort é guardado por uma força privada de segurança, o acesso é vedado a partir da área circundante e os passageiros não estão autorizados a deixar a propriedade. A alimentação para os turistas é trazida dos navios. Alguns grupos de haitianos podem estabelecer os seus negócios no resort de forma controlada. Foram algumas horas bem passadas numa praia paradisíaca, e regressei a bordo desta nave na altura crucial e no meu camarote assisti em directo ao ataque às Torres Gémeas. Nem queria acreditar: tinham sido quatro dias antes que as tinha fotografado. Seguiu-se a partir desse momento uma série de interrogações. O desembarque em Miami, o aeroporto encerrado. O barco chegou a anunciar que permaneceríamos a bordo até que o aeroporto reabrisse. Gerou-se uma certa confusão, onde o medo começou a instalar-se.
Tudo isto para dizer-vos que a partir dessa tragédia muitos riscaram do dicionário a palavra viajar.
Comigo isso não se passou: pelo contrário, viajar enriquece a alma, mesmo empobrecendo os bolsos temporiariamente.
Gastamos dinheiro, mas ganhamos conhecimentos, renovamos energias, interagimos com o mundo, matamos saudades de lugares que já visitámos, saboreamos novas gastronomias, conhecemos novas culturas e voltamos melhores do que fomos.
Tenho o privilégio de ter dado duas voltas ao mundo e conhecer mais de 80 países. Nos últimos anos viajei para países que muitos consideram de loucura e de risco. O Mundo para mim está à distância de um bilhete, sendo as viagens o meu “vício…” Por brincadeira digo que caixão não tem gaveta. Se existe algo que podemos levar connosco, são as viagens que realizámos e as experiências que tivemos na nossa vida. Essas ninguém nos tira. Casa, carro, iate, piscina, conta bancária recheada, dinheiro em paraísos fiscais etc… Tudo fica cá !!! A nossa passagem pela terra é tão curta, que sofrer é uma perda de tempo. Verdadeiramente estou a correr de uma parte para outra exactamente como Deus disse que se faria no
“tempo do fim”.
As minhas ultimas viagens foram ao Líbano, Qatar, Kuwait, Azerbaijão, Cazaquistão, Bielorrúsia, Ucrânia, Macedónia, Albânia e Bangladesh. Tenho outras projectadas, mas não as divulgo porque de louco todos temos um pouco… E já questionam suficientemente os meus destinos.
Mas a verdade é que hoje ninguém está a salvo do perigo, esteja onde estiver. Não passava pela cabeça de ninguém que os atentados terroristas chegassem nesta época à Europa… A Paris, Londres, Barcelona, Bruxelas… Temos de esquecer o medo e pensar em arrojo, audácia, emoção, sangue frio. Na Bíblia, que gosto de citar, encontramos  366 vezes a citação “Não temas”. Deus diz-nos para não termos medo.
Escrevo de Istambul, na Turquia, cidade que não me canso de visitar. É a quinta vez. Uma bela urbe de uma grande nação, aguardando calmamente a sua entrada na Europa, tendo à porta curdos e sírios. Todos os dias percorro quilómetros, contemplo o Bósforo e misturo-me com milhares de pessoas naquela azafama cosmopolita do Grande Bazar. Aqui também houve lamentáveis atentados, ainda por cima com estrangeiros como alvo. Mas Deus está comigo e o medo não vencerá. E é isso que todos temos de dizer a nós próprios, nestes tempos conturbados.