Crónica Urbana: Deus é dos vivos e não dos mortos

Rui Marote
O nosso colaborador, Padre José Luís, deu hoje resposta apropriada a uma recente polémica que envolve a Igreja, num acto louvável a que chamou “Bem Aventurados os Pobres de Deus”, uma iniciativa no Largo da Restauração, na qual reuniu cerca de 40 pobres num almoço naquele espaço.

Muitos dos presentes eram sem-abrigo. Que estão bem vivos, ao contrário dos mortos mencionados numa notícia que correu hoje em diversos órgãos de comunicação social, de que a Igreja Católica aufere 20 milhões por ano em serviços religiosos aos mortos. Deus é dos vivos e não dos mortos, dizemos nós. Para que o leitor seja esclarecido, com a devida vénia, publicamos a notícia que está a chocar a comunidade:

“Todos os anos os católicos portugueses gastam mais de 20 milhões de euros em intenções de missa pelas almas dos familiares falecidos. Os dados mais recentes indicam que, em 2016, foram celebradas mais de um milhão e 90 mil missas, cada uma com pelo menos duas intenções – são mais de dois milhões por ano. Ao que o CM apurou, a crise não afetou esta forma de contribuição dos fiéis para com a Igreja, tendo os valores de 2016 sido semelhantes aos dos anos anteriores ao período da Troika. Isto ao contrário do que aconteceu com a côngrua ou com os ofertórios, que registaram quebras na ordem dos 25 por cento. Cada um dos cerca de 1900 padres que curam as mais de 4300 paróquias portuguesas celebrou, no ano passado, uma média de seis missas por semana, auferindo qualquer coisa como 220 euros (10 euros por cada intenção). O padre tem direito a apenas um estipêndio, sendo obrigado a entregar o restante ao bispo da diocese. Por estes dias, de Todos-os-Santos (hoje) e fiéis defuntos (amanhã), regista-se um acréscimo das intenções de missas, embora a maioria das pessoas mande celebrar no aniversário da morte do familiar. E porque os padres são poucos e as intenções são muitas, todos os anos as dioceses portuguesas encomendam mais de 150 mil intenções de missa (1,5 milhões de euros) a ordens religiosas de outros países lusófonos”.

Alguns dos convidados ao almoço faltaram à chamada, talvez por esconderem uma pobreza envergonhada, como o almoço decorria no coração da cidade, numa praça ao ar livre, rodeado de restaurantes de luxo. Todos são, porém, filhos de Deus…

Como o leitor sabe, gosto de citar versículos da Bíblia, e este, de Mateus 6:2, refere:
“Por essa razão, quando deres um donativo, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Com toda a certeza vos afirmo que eles já receberam o seu galardão. Tu, porém, quando deres uma esmola ou ajuda, não deixes tua mão esquerda saber o que faz a direita. Para que a tua obra de caridade fique em secreto: e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”.