O BE na parade

 

 

*Em Nova Iorque

Apesar das notícias, dos julgamentos apressados e dos exageros, os EUA continuam a ser a terra da diversidade e da oportunidade. O que chega de Trump à Europa não é capaz de alterar a visão geral de uma Nação que se construiu no sonho dos que aqui chegaram e da capacidade que teve de os integrar. Certa visão europeia, normalmente de esquerda, é de uma sombranceria, nascida da ignorância e de “dor de cotovelo”, que se revela normalmente injusta e desfocada.

Aprecio este País, sem esquecer os seus defeitos e os seus erros. E a minha apreciação nasce nessa capacidade indesmentível de renascer, de dar oportunidade à invenção, de apostar no progresso e no investimento. Gosto do brio da sua gente, do equilibrio politico, da organização subtil mas eficaz, do realce à vontade em vez do lamento.

Mas a América hoje exagera. Há algumas regras, fruto do terrorismo e da imigração desregrada, que nos parecem excessivas, embora compreensíveis. Mas onde o exagero é mais visível é no “totalitarismo” da não discriminação. Os partidos tradicionais transformaram-se em corporações de minorias, arauto de expressões radicais e destemperadas. Tudo é sujeito a uma lupa de desconfiança que assusta.

Em frente do celebre touro na parte sul de Nova Iorque, colocou-se uma figura feminina para não a discriminar face à virilidade masculina. Na parada de primavera (cherry blosson) em Washington, ao lado do tradicional descapotável com a alourada miss qualquer coisa, desfila um outro descapotável, em tudo idêntico, mas com uma linda jovem negra, para que não haja discriminação. Nas universidades americanas, pergunta-se aos alunos como desejam ser tratados, se por he, she, it or they, para além de se proibir o termo “guys” aos professores quando chamam os alunos!

O desaparecimento das grandes clivagens entre direita e esquerda e o pressing dos media enclausurou os partidos nas reivindicações minoritárias e radicais. Faltam politicas de visão para a maioria silenciosa. Dos dois lados do atlântico, em abono da verdade!

O estranho é que na parada americana, onde todas as minorias, independentemente da causa que as leva a considerar-se minoritárias, têm de estar representadas, desfila o ideário dos bloquistas portugueses. O paradoxo é que os politicamente mais críticos dos EUA são os que mais os imitam no fundamentalismo da não-discriminação. O odiado liberalismo americano, nas questões cívicas, impregnou-se no discurso das Catarinas e Mortáguas europeias que, sem o reconhecer, são as verdadeiras herdeiras desse ideário.