Um bananal na Avenida Sá Carneiro

Rui Marote

Como todos sabem,  a Avenida Sá Carneiro tem dois senhorios. O calçadão está sob a alçada da APRAM e a Avenida sob a tutela da Câmara.
Esta manhã fomos surpreendidos com um extenso bananal plantado desde as ‘Vespas’ até aos extintos silos à entrada do Porto do Funchal.
Recordemos que em 2015 uma derrocada na escarpa do Casino levou a que a edilidade recorresse a uma limpeza da escarpa. Hoje o visual junto à estrada é diferente; o verde contrasta com a pedra desse rochedo.
Resolveu a edilidade plantar ao longo da avenida um extenso bananal com maçarocos intercalados.

Quem agradece é o secretario da Agricultura, que vê os poios descer à cidade, e em especial o da Economia e Turismo, com as boas vindas dadas logo no desembarque de turistas a terra das bananas.
Quanto ao fruto, podemos garantir que não chega a luzir e a sua colheita já está encomendada.
Os turistas já começam a fotografar, não necessitando de efectuar excursões para apreciar o bananal.
Falta um mês para a realização da Festa da Flor, um cartaz turístico que podemos considerar como de maior importâcia para o turismo desta terra, em que os jardins, os parques e demais recantos deveriam transbordar de um colorido próprio da floricultura, como fosse o nosso cartão de visita. Infelizmente substituímos as flores pelas bananeiras.
Tudo isto faz-me lembrar quando era bebé e as minhas tias cantavam uma canção de embalar após as refeições, no chamamento a uma boa soneca.
Na altura não existia nos dicionários, muito menos no Torrinha, a palavra xenofobia. Vamos recordar a canção:

A jogar às cartas
O preto mais a preta
Por detrás da bananeira
Disse o preto para a preta
Oh que linda brincadeira

Nos anos 50, ao redor do edifício do Liceu Jaime Moniz, existia uma plantação de laranjeiras e tangerineiras. Era o fruto proibido. Todos anos o saudoso reitor Ângelo Augusto da Silva proferia um discurso na abertura do ano lectivo no ginásio, o único dia no ano em que raparigas e rapazes se juntavam. Não esqueço as palavras do reitor que, após a entrega de livros aos alunos que se haviam distinguido no ano lectivo anterior, dizia:
– Alunos e alunas deste estabelecimento de ensino: – De quem são as laranjas…? As laranjas não são do reitor, as laranjas não são dos professores, as laranjas não são dos contínuos, as laranjas não são dos alunos. De quem são as laranjas…? As laranjas são do Estado.
O aviso à”navegação” estava lançado. O jardim do Éden era somente desejado mas o fruto era proibido.
Estamos mesmo a ver as bananas desaparecerem num ápice. Os pretendentes são muitos: os sem abrigo, os frequentadores das “Vespas” e os vândalos irão fazer marcação cerrada. Banana não tem caroço… não tem… não tem !
Cafôfo já tem uma tarefa para a Polícia Municipal: vigiar o bananal. No quadro de pessoal da Câmara haverá a vertente de cavador, para substituir a de jardineiro.