Rui Marote (texto e fotos)
Durante vinte dias percorrerei o Sul da Índia de autocarro, sempre com o objectivo de visitar todas as gorupas, templos com um tipo peculiar de arquitectura. Uma aventura da qual já venci a primeira etapa. Existe um plano que só é posto no terreno nos dias em que deixo uma cidade para deslocar-me para outra. Não sei previamente onde fica a central de autocarros, as horas aque essas viagens se realizam, o preço dos bilhetes… tudo isso é descoberto na hora.
Hoje vou contar-vos como decorreu o trajecto Chennai -Kanchipuram.
Bem cedo fiz o trajecto entre o hotel e o autocarro em Tuk-tuk, com emoção. Ao meu lado a minha mala, nada fácil, uma vez que estou num lado da cidade, e vou para o lado oposto. São 17 km de Tuk-tuk.
Procurar o cais de embarque e o autocarro com centenas deles ali estacionados não é tarefa fácil, uma vez que os cartazes estão em lingua hindu. Tenho de fazer a mesma pergunta uma dezena de vezes.
Finalmente no local vejo um homem vestido de caqui, exibindo uma bolsa e na boca um apito, dando indicações de estacionamento e coordenando a marcha atrás do autocarro.
Aqui não há gritos e as palavras “venha sempre” e “alto” não existem, sendo substituídas pelo concerto de apito.
Sou obrigado a fazer novas perguntas, pois o autocarro tem o destino em hindu. “É este o bus para Kanchipuram? Resposta imediata, pode entrar. Como fui o primeiro, tive a oportunidade de escolher o lugar, bem à frente, junto à porta de saída. Até tinha direito a um espaço para a mala.
Os autocarros aqui não têm vidros, somente um gradeamento. São aquilo que chamo “autocarro da galinha”.
Mais um concerto de apitos e iniciamos esta curta maratona de 112 km.
Mudei o meu chip e revivi os anos Sessenta, dos “autocarros do Batata” para a costa norte da Madeira, via Ribeira Brava. O carro do Batata era de cinco estrelas! Este não tem quaisquer estrelas; o corredor e os bancos davam-me a sensação de que o veículo já não era varrido e lavado há meses. A terra acumulada dava para plantar uma bananeira. Por outro lado, foi uma delícia ver o homem do apito com funções de bilheteiro, profissão há muito extinta na Madeira. Na mão direita as notas entre os dedos, a bolsa a chocalhar com as moedas. Recebi o meu bilhete: 47 rupias, que em euros ao câmbio actual dá 48 cêntimos: só na Índia.
O meu parceiro de banco, entretanto, conjugava o verbo dormir. Sempre atento, vou contemplando a paisagem e todos os obstáculos que possam surgir.
Os indianos têm o costume de cuspir para o chão a todo o momento. Penso que seja um vício, uma vez que estão sempre mascar. Já tive uma experiência na minha última visita à Índia de Jotepur para Udaipur, com o autocarro em velocidade. As pessoas lançam escarros para o exterior e geralmente os passageiros que vão atrás arriscam-se a receber o que o vizinho da frente lançou. Eis o motivo porque gosto de ir à frente…
Já no final da viagem, entra o revisor, vestido de branco e com uma toalhinha no pescoço para reter a transpiração e para que a camisa não fique encardida.
Já em Kanchipuram o meu transporte aguardava-me: outra vez o Tuk-tuk. Para o hotel, pois precisava de um banho para retemperar forças e para retomar o plano de visitar as gorupas.