Antonio Sánchez apresenta “romance musical”

Fotos: Rui Marote

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Pergaminhos não faltam certamente a Antonio Sánchez. O baterista, conhecido pelas suas longas colaborações com nomes grandes da cena jazzística internacional como Chick Corea ou Pat Metheny, viu-se galardoado no ano transacto pelo JazzTimes Critics Poll e como baterista de jazz do ano pelo Modern Drummer Reader’s Poll. Obteve um Grammy de Melhor Banda Sonora Original, pelo trabalho realizado para o oscarizado filme ‘Birdman’, com Michael Keaton. E, enquanto compositor, o seu disco ‘The Meridian Suite’ granjeou particular aplauso.

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Foi este trabalho que Antonio Sánchez & Migration vieram apresentar no Funchal Jazz, e que o próprio, após elogios à Madeira, à sua beleza e à forma simpática como disse ter sido recebido, declarou ao público constituir a sua tentativa de criar um “romance musical”. Um romance, sim, para contrastar com as “short stories”, os contos. “Por isso, não se admirem se tocarmos muito tempo”, avisou.

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Foi o que fez na companhia de competentes músicos, nomeadamente da vocalista Thana Alexa, do saxofonista Seamus Blake, do pianista John Escreet, e de Matt Brewer no contrabaixo e baixo eléctrico. Percorrendo longos territórios musicais, a expressividade de Sánchez e dos seus deteve-se em momentos mais meditativos e alcançou, noutros, um psicadelismo curioso e a lembrar, por exemplo, alguns trabalhos de John McLaughlin. Teve situações exaltantes e outras mais calmas e quietas; e a complexa textura da narrativa tornou-se, pouco a pouco, evidente no entrecruzar de inúmeros motivos e pormenores. Thana Alexa usou a sua voz como mais um instrumento a juntar ao coro e Sánchez não deixou os seus dotes de baterista por mãos alheias. Mas, precisamente como um romance de Lobo Antunes, Saramago ou outros, esta literatura feita de notas não será para todos, principalmente os mais tradicionalistas e menos experimentalistas do jazz. Talvez isso justifique de algum modo o ainda algo fraco público que se registou neste primeiro dia de festival, com ainda uma boa quantidade de lugares sentados vagos e amplo espaço vago no Parque de Santa Catarina mesmo na segunda parte do concerto.

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Quando Antonio Sánchez & Migration começaram a tocar, ainda se verificou um significativo aumento de público. Muita gente veio para a segunda parte, não se entusiasmando com o Fred Hersch Trio, que tocara na primeira. Esse era, de facto, um tipo de formação e de música para gostos mais ‘convencionais’, se assim se pode dizer, dentro do vasto panorama com fronteiras dificilmente definíveis que é o jazz.

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Sánchez levou a sua proposta mais longe. O público aderiu, mas talvez ainda de forma pouco expansiva e com alguma perplexidade. De qualquer forma, tenha-se ou não gostado da música, a qualidade dos intérpretes é indiscutível. O tipo de composição (e de improviso associado a uma actuação ao vivo) é que pode ter sido mais, ou menos, do agrado de quem viu. Por enquanto, o Funchal Jazz acolheu bem, mais não ‘aqueceu’ muito. Mas não por falta de esforço dos artistas.

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