Liberdade e qualidade de vida

Icon-Gaudencio-Figueira

Se há conceitos que evoluíram no tempo, estes dois estarão entre os primeiros. Vou ater-me ao conceito de Liberdade na perspectiva judaico-cristã que, a partir da Europa, alastrou ao Planeta.

Ela assenta em regras, nem sempre escritas, mas em todos os casos sempre impostas pela força. A Liberdade, como a concebemos hoje, nasceu com a Magna Carta. Oito séculos depois, a semelhança entre as estruturas do poder de antanho e o actual são poucas. Porém, não podemos parar, e admitir que hoje tudo aquilo que almejamos em termos de Liberdade e bem-estar está conseguido. As convulsões no interior dos Estados – Venezuela, Brasil, Síria – e entre Estados – Turquia-Rússia, Israel-Palestina – põem-nos em alerta, pois não anunciam nada de bom.

Diz-se, eu concordo, que no Ocidente vivemos no primado da lei. Já repararam que Estaline e Hitler também tinham regras e Tribunais? Cumpriam o Primado da Lei! À moda deles, é certo. A Coreia do Norte também tem regras por muito que nos desagradem. A minha utopia leva-me a desejar que no Mundo impere o PRIMADO DA JUSTIÇA. Aí o legislador não mais conceberá leis a favor, ou contra ninguém. O MEDO desaparecerá das relações cidadãos-poder. Parece-me uma boa causa como foi a de imporem a Magna Carta ao João Sem Terra. Só teremos LIBERDADE quando os que mandam, a JUSTIÇA proibir prisões por motivos políticos e, aos guardas dessas prisões, a JUSTIÇA garantir o direito de recusar o cumprimento dessa ordem ilegítima. Oito séculos nos separam de João sem Terra. Desta minha utopia, espero que sejam menos.

O Mundo viu cair o Império do Mal, em 1989. O terror que imperara na Europa imposto pelo comunismo – seguindo as peugadas de Ivan IV e, esquecendo João sem Terra – desaparecia com o aplauso generalizado dos Seres Humanos. A Liberdade de que se falou na Europa do pós-guerra, compreendemo-lo bem agora, era exclusivamente a liberdade económica. Importante sem dúvida, mas curta para os anseios Humanos. Os Estados, internamente, criam legislação à medida dos poderosos. No relacionamento entre Estados não é diferente. A anos-luz daquilo que se conhece sobre o comunismo, vou narrar-vos um episódio, descrito em livro por um Embaixador Português em Venezuela, homem assumidamente de direita. Tendo sido convidado para almoçar, numa exploração agrícola fora de Caracas, assistiu, depois de almoço, ao espectáculo indecoroso do fazendeiro, muito bem bebido, a disparar sobre os seus trabalhadores, que fugiam como coelhos. Interrogava-se o Embaixador se esta gente se revoltar, podemo-nos admirar? Liberdade, em sentido económico, há em toda a América e, hoje, também na Cortina de Ferro.

O Ser Humano quer muito mais que isso! Não quer apenas o fim das masmorras e das “leis”, comunistas ou fascistas, tanto faz. Quer também erradicar todas as outras formas de medo que ainda existem nas sociedades politicamente organizadas. Quando os SERES HUMANOS, na sua individualidade, sejam Europeus, Refugiados, Russos Brasileiros, Americanos, Venezuelanos, Árabes, Asiáticos ou Africanos, fiéis àquilo que foi consagrado em Nuremberga, recusarem cumprir ordens ilegitimamente dadas, mostrarão aos poderosos que aquilo que os une, é pouco e muito simples: PAZ, TRABALHO, SAÚDE, HABITAÇÃO e EDUCAÇÃO. Dispensam os jaguares e os aviões particulares de todos os Trumps deste Mundo. Porém, lutarão para que ninguém ganhe Poder (Económico e/ou Político) fomentando guerras e recusando coisas tão simples aos que, manipulando a informação, fazem acreditar em mentiras.