Daniel Sampaio: a prevenção do bullying passa por uma ética relacional na escola

Funchal, 04-03-2016 Entregade premios Teatro Carlos Varela no Liceu Jaime Moniz (Rui Silva/Aspress)Funchal, 04-03-2016 Conferencia sobre Bulling e Cyberbuling na escola Jaime Moniz com Daniel Sampaio (Rui Silva/Aspress)

“A defesa de uma ética relacional na Escola é a chave da prevenção do Bullying”. A sugestão parte do professor Daniel Sampaio durante uma conferência que fez esta tarde, na Escola Secundária de Jaime Moniz, sobre “O Bullyng na Escola”.

A proposta deste professor catedrático de psiquiatria e saúde mental da Faculdade de Medicina na Universidade de Lisboa assenta na defesa de uma dimensão ética que urge ter nas instituições ecolares. “A escola não está melhor ou pior, está diferente. Os problemas têm fundamentalmente a ver com questões éticas”.

O também diretor do Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital de Santa Maria esteve no Liceu, graças a um protocolo entre esta instituição e a CRIAMAR- Associação de Solidariedade Social para o Desenvolvimento e Apoio a Crianças e Jovens.

 

Raiva sistemática

Com a sala de conferências cheia de alunos, professores e demais comunidade educativa, Daniel Sampaio procurou primeiro definir a problemática em foco, para desfazer alguns equívocos sobre o assunto: não se trata de uma brincadeira pontual mas de um comportamento reiterado, premeditado e deliberado. “O bullying é um compportamento de humilhação/ provocação intencional e sistemático, que ocorre na escola quando um aluno (ou um grupo de estudantes) exerce ações agressivas continuadas com o intuito de provocar mal-estar e sofrimento, sendo visível a desproporção de poder entre a(s) agressor(es) e a(s) vítima(s).”

Após salientar que se está perante uma atitude de “raiva sistemática utilizada com intenção”, Daniel Sampaio identificou os autores: “os agressores são em regra fortes, ocupam lugar de destaque no grupo juvenil, movimentam-se bem no território escolar, não receiam os professores e não respeitam as auxiliares”. Já as vítimas “são em regra frágeis, submissas, tímidas, gordas ou muito magras; podem ter sido identificadas como homossexuais ou sinalizados por deficiência física ou intelectual; por vezes, têm dificuldade em educação física e no desporto”.

Para esclarecer enganos que por vezes prevalecem, “é fundamental distingui bullying das brincadeiras e pequenos gozos que são típicos da interação entre adolescentes. Estas brincadeiras não pretendem humilhar nem provocar. São feitas para que todos se riam. Não são o centro da preocupação dos protagonistas, que têm outras interações e atividades”.

Funchal, 04-03-2016 Entregade premios Teatro Carlos Varela no Liceu Jaime Moniz (Rui Silva/Aspress)Funchal, 04-03-2016 Conferencia sobre Bulling e Cyberbuling na escola Jaime Moniz com Daniel Sampaio (Rui Silva/Aspress)

Cyberbullying é outro problema

Outro problema abordado por Daniel Sampaio foi o Cyberbullying ou “o uso indevido das tecnologias digitais para, deliberada e repetidamente, agir de forma hostil (provocação/humilhação) com intuito de causar dano”. Esta prática asume as seguintes formas: “mensagens inflamadas, assédio, perseguição, difamação, personificação, exposição e exclusão”.

Daniel Sampaio não descreveu apenas estes problemas mas apontou caminhos às escolas no sentido de os combater: “Reconhecimento de que o problema existe; discussão generalizada e envolvimento de todos na resolução do problema”.

Outro dado novo introduzido pelo orador prende-se com o facto de “as afiguras essencais no combate ao bullying serem os alunos, sendo fundamental recolher informações junto deles, nomeadamente dos alunos-testemunha.

Funchal, 04-03-2016 Entregade premios Teatro Carlos Varela no Liceu Jaime Moniz (Rui Silva/Aspress)Funchal, 04-03-2016 Conferencia sobre Bulling e Cyberbuling na escola Jaime Moniz com Daniel Sampaio (Rui Silva/Aspress)

Este especialista em lidar com os jovens quer na consulta quer na ligação que tem às escolas defendeu ainda “a necessidade de ser criada uma comissão anti-bullying com estudantes, professores, auxiliares e, sobretudo, a presença dos estudantes-testemunha”.

A terminar a sua intervenção, o orador afirmou: “A defesa da ética relacional na escola é a chave da prevenção do bullying”.

Professores da ESJM e de outras escolas, bem como os estudantes, colocaram diversas questões a Daniel Sampaio, numa conferência muito participada.