Ele disse: “Em democracia as coisas debatem-se”

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Quarenta anos depois, o Dr. Alberto João Jardim, em artigo de opinião, assumiu: “(…) Em Democracia as coisas debatem-se”. Tanto tempo para chegar a esta conclusão. Foram anos de desprezo pela Assembleia Legislativa da Madeira, sucessivas legislaturas que registaram a sua presença apenas no debate do “Programa de Governo” e “Orçamentos da Região”, discursando sempre a solo, sem qualquer hipótese de debate com os vários grupos parlamentares, quarenta anos de Jornal da Madeira, pago pelos contribuintes, mas sem articulistas da oposição, quatro décadas que fugiu ao debate na rádio e na televisão, anos a fio a utilizar os palcos das inaugurações e das festas, desde a da cebola até à da pecuária, quarenta anos de ofensas aos cidadãos, universitários, investigadores e especialistas de vários sectores por terem opinião e desejarem o debate e, depois de todo este sumário percurso, escreve que “em Democracia as coisas debatem-se”! Um quadro destes não revolta o cidadão mais atento, porque sabe o que a casa gasta, mas diz muito da degradação do exercício da política e do cansaço dos cidadãos. Hoje, “refugiado” no alto do “quebra-costas”, controlando à distância as suas tropas, ainda se atreve, tal como Frei Tomás, a atirar mas com pólvora seca. Não faz mossa, apenas gera lamentos em catadupa. Até eu estou aqui a gastar tempo e espaço. O problema é que deixou descendência. Esse é que é o drama!

O comportamento político do actual elenco que governa a Região também apresenta tiques de incompreensão no quadro do debate em democracia. Tentou passar a imagem da “renovação”, também comportamental, mas os traços marcantes de uma aprendizagem feita ao longo da história, estão lá. Passemos os olhos de relance sobre as secretarias regionais, atentemos no que se passou e passa na Saúde, fixemo-nos um pouco no sistema educativo que é uma espécie de máquina velha, com falta de peças e de inteligência para colocá-la a produzir para o futuro, a da Economia que, entre outras, ignorou a Assembleia, ao pedir aos deputados que se deslocassem à secretaria para uma sessão de esclarecimento sobre o polémico subsídio de mobilidade, a dos Assuntos Sociais e Inclusão de onde não se vê sair qualquer projecto estruturante face ao dramatismo de muitas famílias, antes se assiste, diariamente, à política do penso rápido. Por aí fora até ao presidente, que, tentando falar grosso, se manifestou “chocado” com comentários “xenófobos”, “maldosos”, “egoístas” e “imbecis”, como se não tivesse de conviver com outras opiniões não convergentes com a sua. Mesmo tendo razão, a forma como se dirigiu evidencia que a marca está lá, talvez mais besuntada de um creme de frescura, todavia, de qualidade não recomendável. O acto de governar envolve bom senso no relacionamento com o povo e implica saber contornar as dificuldades, por um lado, sem hipocrisia, por outro, com as palavras da sensatez. No essencial, sem margem para aquilo que possa ser considerado ofensa. É peça a peça, pedra a pedra, facto a facto, que vamos percebendo que é impossível mudar quando a matriz está marcada por princípios e por valores que vêm de muito longe!