O aviário do Carlos Peixoto

Carlos Fino

Um jovenzinho da geração do Carlos Peixoto atirou-me à cara a seguinte pérola:

— O sistema de pensões da segurança social é um esquema em pirâmide.

Estão a ver, não estão? Assim uma aldrabice tipo D. Branca, a banqueira do povo. Ou um esquema Ponzi, para os mais entendidos no economês de aviário em que se exprimem os clones do Carlos Peixoto. A Judiciária costuma investigar os autores desses esquemas, como sabemos. E os tribunais costumam condenar os espertalhões que os engendram. Pelo meio, ficam depenados os incautos que chegaram tarde, ou que não saíram a tempo. Ou todos, se o esquema estiver montado à maneira.

Portanto, se é um esquema piramidal, os jovenzinhos da geração do Carlos Peixoto não têm nada de contribuir para pagar as pensões da peste grisalha, porque, para eles, quando dela fizerem parte, não existirão incautos suficientes para lhas pagar. Estão a seguir a lógica da coisa, não estão? Nem lhes interessa saber quantas décadas contribuiu para a Segurança Social a geração que se prepara para se aposentar. Nem para que serviu e serve o dinheiro que descontaram e continuam a descontar. Nem, muito menos, a lógica de solidariedade intergeracional que sempre presidiu ao sistema: cada um descontando de acordo com os seus rendimentos e servindo a coleta para financiar todas as pensões em pagamento, os subsídios de desemprego e toda uma série de prestações sociais aos cidadãos mais necessitados. Coisas que a geração Carlos Peixoto, cuja educação, com falhas óbvias no que tange ao valor da solidariedade e ao reconhecimento de que o mundo não começou quando se viram pela primeira vez ao espelho e ficaram apaixonados, foi paga pela atual peste grisalha.

É esta a lógica da política de Passos Coelho, produzido pela mesma incubadora ideológica que gerou o Carlos Peixoto, e líder da coligação PAF. Consiste no esbulho que já fez, e se prepara sonsamente para voltar a fazer, às pensões, caso não seja parado pelos eleitores ou, em última instância, pelo Tribunal Constitucional, se este se mantiver fiel à sua jurisprudência. A lógica de querer herdar o mundo inteiro sem passivo. Apenas o fillet mignon, estão a seguir? O mundo bom, sem osso, ficando todos os ativos, que considerem tóxicos, reunidos no mundo mau, a ser entregue aos acionistas grisalhos, para que se danem.