
Há mais de duas décadas, quando os dinheiros eram mais escassos do que hoje, as sedes eram o local privilegiado de reunião dos militantes. Nada de convívios nos hotéis ou outros luxos mais recentes. A sede de um partido era o verdadeiro “quartel general” de reunião, debate, receção dos líderes nacionais e até de realização dos seus congressos.
As imagens das sedes que hoje divulgamos reportam-se desde logo ao CDS, num tempo em que não era partido popular mas apenas Centro Democrático Social, situado na Rua 31 de janeiro, junto à não menos emblemática loja Faria, onde tantos madeirenses arranjaram as suas malas. Ali, o partido fundado por Freitas do Amaral, Lucas Pires, Baltasar Gonçalves, Cabral Fernandes e tantos outros, recebeu líderes e mobilizou os militantes em tempos conturbados e com verbas muito escassas. Depoois, foi a mudança para a Rua da Mouraria onde permanece.


O PSD revela maior estabilidade em matéria de escolha de sedes. Sempre permaneceu na Rua dos Netos, no mesmo edifício onde foi construída a renovada sede do partido, hoje propriedade da Fundação Social Democrata. Uma sede cujo presidente do partido governou a Madeira durante cerca de 40 anos, logo com muito por contar, nomeadamente as controversas, demoradas e noturnas reuniões da comissão política, presididas por Alberto João Jardim e o seu estilo implacável. Hoje, reúne-se mais cedo e é tudo mais politicamente correto.
Vem-nos também à memória a antiga sede da UDP e depois do BE, na Rua do Castanheiro, num imóvel antigo da cidade, hoje totalmente em ruínas e onde as máquinas anunciam uma nova construção privada. Mais uma ala de combate da esquerda ao poder dominante pelo punho de Paulo Martins. Ainda hoje, as históricas militantes Guida Vieira, Conceição Pereira e Assunção Bachahim contam histórias reais, quando faziam turnos para guardar a sua sede dos ataques bombistas da Flama, nos tempos quentes da revolução. Militantes ainda hoje no ativo da política que arriscaram a vida para salvaguardar as sedes dos partidos em nome de ideais.
Os tempos passaram e eis que o BE transferiu a sua sede para a Rua Brigadeiro Oudinot, onde continua a defender com garra os seus ideais de esquerda.
Outras sedes partidárias formam o xadrez político regional, não referidas neste artigo. Algumas abriram portas apenas porque se avizinhava eleições e, terminado o ato eleitoral e os resultados inexpressivos, fechavam logo de seguida, como que se esfumando no ar.
