Lisboa – Novembro 1967/ Madeira – Fevereiro 2010

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AINDA A PROPÓSITO DA CATÁSTROFE DE 20 DE FEVEREIRO DE 2010:

Na noite de 25 para 26 de Novembro de 1967, uma chuva intensa e repentina que se abateu sobre a região de Lisboa fez subir anormalmente o caudal do rio Tejo, inundando zonas ribeirinhas, densamente povoadas, de modo especial Loures, Odivelas e Pontinha, causando 462 mortos, segundo dados oficiais, pouco fiáveis, e desalojando cerca de 1.100 pessoas. Para além das causas naturais do desastre, chuva repentina e fora do normal, coincidindo com a praia-mar da foz do Tejo, erros humanos contribuem também para explicar o sucedido: construção de habitações e infraestruturas transversais aos cursos de água, dificultando a drenagem das águas, e falta de limpeza dos mesmos. Foi notória a incapacidade do Governo para acudir atempadamente às vítimas e se não fora o apoio solidário da sociedade civil, o número de vítimas, que dados não oficiais apontam para sete centenas, seria muito maior. Nesse apoio, salientaram-se a Associação de Estudantes da Universidade de Lisboa e a Juventude Universitária Católica, organismo especializado da Acção Católica.

A Junta Central da Acção Católica, desde o ano anterior liderada por um leigo, curiosamente neto de Sidónio Pais – de 1934 a 1966 fora sempre dirigida por um dos bispos auxiliares do Patriarcado de Lisboa -, envia, três dias após a catástrofe, uma circular para todos os organismos daquele movimento de leigos, apelando à solidariedade, em face da “gritante e angustiosa situação” de “miséria existente à nossa volta e que permitiu que a catástrofe atingisse as proporções que teve”. Mas não se fica por aqui. Um pouco mais à frente, diz: “Sem negar o valor de todo o auxílio prestado, afigura-se-nos importante revermos o que representam os outros na nossa vida, o que por eles concretamente fazemos e a forma como respondemos ao convite a uma reestruturação da nossa sociedade, em Verdade, Justiça, Amor e Liberdade”. Apela, de seguida, aos filiados na Acção Católica para que analisem este acontecimento e a medida em que nele estão implicados, “procurando, não apenas formas práticas e concretas de expressão da sua solidariedade para com as vítimas mas também a maneira de, a seu modo, contribuírem para uma reforma da nossa sociedade que permita evitar, tanto quanto dos homens depende, a repetição de situações como a actual”, sugerindo várias pistas de reflexão.

É importante recordar que se vivia então em Portugal num regime de ditadura.

Limito-me a concluir com as palavras do Evangelho: “quem tem ouvidos para ouvir, que oiça”!