O ‘Funchal Notícias’ pediu ao director da delegação regional da Madeira do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Victor Prior para explicar o fenómeno que ontem à tarde ocorreu sobre a cidade do Funchal.

Victor Prior explicou que se tratam de nuvens lenticulares por vezes confundíveis ou sobrepostas aos auto-cúmulos.

Um fenómeno atmosférico que é recorrente na Madeira e que acontece quando os ventos e a temperatura se conjugam para que as ondas estacionárias se formem face ao encontro de massas de ar vindas do mar com a montanha.

Quando as massas de ar quente vindas do mar encontram as massas frias das montanhas formam-se ondas atmosféricas no topo das quais nascem as núvens lenticulares.

Tudo leva a crer que tenha sido isso que ontem aconteceu uma vez que o vento estava de norte e a temperatura do ar era a ideal para a formação deste tipo de nuvens.

Sobre a forma de ‘zeppelin’ da nuvem, Victor Prior disse que depende do ângulo da qual é observada. Contudo, a observação deste tipo de fenómenos em várias partes do planeta mostra que as núvens lenticulares são quase todas de forma oval.

A forma de ‘zeppelin’ ocorre quando há a sobreposição de duas nuvens lenticulares, no caso uma maior e uma mais pequena.

Então o que são nuvens lenticulares?

Nuvens Lenticulares são formações estacionárias de nuvens, com formato análogo a fogo e lentes, que se formam em altitude. Normalmente alinhadas com a perpendicular da direcção do vento, elas podem ser separadas em altos-cúmulos lenticulares estacionários (ACSL), estrato-cúmulos lenticulares estacionários (SCSL), e Cirrocumulus lenticulares estacionários (CCSL).

Quando ar estável e húmido flui sobre uma montanha ou cadeia de montanhas, uma série de ondas estacionárias podem se formar à sotavento da mesma. Se a temperatura na crista da onda descer abaixo do ponto de orvalho, o vapor de água em suspensão condensa-se formando a nuvem lenticular.

Na continuação do fluxo de ar, ao descer em direção à depressão da onda, a nuvem pode evaporar-se, razão que explica a suas bordas características, ilumidas, alaranjadas.

E o que são ondas estacionárias e alto-cúmulos?

Ondas estacionárias são ondulações de um fluxo de ar na atmosfera.

Alto-cúmulos ou, em latim, altocumulus são lençóis ou camadas de nuvens brancas ou cinzentas, tendo geralmente sombras próprias.

Sob certas condições, longas cadeias de nuvens lenticulares podem-se formar próximo da crista de cada onda subsequente formando um padrão repetitivo de nuvens que podem-se estender por centenas ou até milhares de quilómetros.

Algumas dessas sequêncoas podem ser visíveis em imagens de satélites como “costelas” de nuvens paralelas a uma cadeia inicial de montanhas. Tal formação revela a presença do sistema de onda.

Os sistemas de ondas causam grandes movimentações verticais de ar, pelo que, se grande quantidade de vapor d’água se condensar, pode ocorrer precipitação.

OVNIs ou esconderijos de OVNIs?

As nuvens lenticulares já foram confundidas com OVNIs (ou com “esconderijo” de OVNIs) devido à sua aparência discóide.

As cores fortes (chamada irização) são, quase todas as vezes, vistas nos contornos dessas nuvens. No caso de ontem, no Funchal, a cor era alaranjada.

São perigosas para a aviação?

Os pilotos de aviões tendem a evitar o voo próximo a nuvens lenticulares devido a turbulência dos rotores que as acompanham, porém os pilotos de planadores procuram-nas deliberadamente.

A localização exacta do ar ascendente é relativamente fácil de prever pela orientação das nuvens.

A “ascensão em ondas” desse tipo de nuvens é normalmente muito forte e suave, permitindo aos planadores subirem a altitudes notáveis e cobrirem grandes distâncias.

Os actuais recordes mundiais de distância em planadores (mais de 3.000 km; 1.864 mi) e altitude (15.460 m; 50.721 ft) foram estabelecidos nesse tipo de voo.