Coro da Casa do Povo da Camacha celebra 25 anos

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O Grupo Coral da Casa do Povo da Camacha celebra este ano 25 anos de actividade ininterrupta. E tem já previstas várias actividades comemorativas. A primeira realiza-se já hoje: trata-se da solenização da missa das 19 horas, na igreja paroquial da Camacha. Segue-se um convívio destinado apenas aos coralistas. Mas haverá outras iniciativas.

25 anos é um número respeitável, e foi para nós pretexto para entrevistar a maestrina do grupo, Maria dos Anjos, sobre a actual situação do mesmo, num período negro para as associações culturais, por falta de apoios.

Segundo esta responsável, a verdade é que a situação do grupo neste momento não difere grandemente da habitual, na medida em que o mesmo “nunca foi muito abonado”.

“Fomos vivendo sempre mais ou menos em crise, por isso não achamos que a crise que existe agora nos esteja a afectar muito mais do que sempre fomos afectados ao longo dos anos”, declara.

O grupo tem existido de forma ininterrupta ao longo deste quarto de século porque no mesmo se conjugam várias vontades, de forma desinteressada, que o mantiveram e não permitiram que alguma vez desmembrasse, sublinhou. Porque, ao longo da sua história desde que foi fundado pelo compositor e maestro madeirense João Victor Costa, houve situações de dúvida quanto à sua continuidade, admite. Porém, esta acabou por nunca ser posta em causa graças à “carolice” e voluntariado de um um grupo coeso.

“Se estamos à espera de compensações financeiras e outras coisas, ficaríamos desiludidos”, frisou.

Maria dos Anjos referiu que o grupo “nunca se meteu em grandes aventuras”, e é também por causa disso que se conseguido manter apesar da actual conjuntura desfavorável.

Pelo menos o reconhecimento por parte do público é uma realidade que constata, apesar de alguns altos e baixos.

“De vez em quando sentimo-nos reconhecidos”, admite. “Se calhar nos últimos anos temo-nos sentido mais reconhecidos que anteriormente, quer a nível da própria instituição, quer da própria freguesia”. A este respeito, sublinha o apoio do padre, que os valoriza e apoia bastante.

“São pequenas coisas que nos fazem manter”, refere.

O interesse pela música coral, por outro lado, não é muito grande na Camacha, constata. Ainda não há uma grande apetência. “Nos concertos que fazemos na Camacha temos pouca gente”, diz. “Quando fazemos concertos no Funchal ou noutros sítios, geralmente temos mais público”. Embora essa situação possa depender das circunstâncias e da organização do evento.

“É preciso conhecer a música coral para gostar dela”, realça Maria dos Anjos. “O que às vezes noto é que se começa a banalizar um pouco  a música coral, a modernizá-la, numa tentativa de atrair público, de uma forma que eu acho pouco conveniente. Tudo para se agradar à população. Pessoalmente, acho que isso não funciona muito bem, e tento evitar que isso aconteça. Prefiro ter um público mais reduzido, mas que aprecie verdadeiramente a música coral e nos faça sentir que vale a pena cantar para eles”.

O 25º aniversário do grupo prossegue com outras actividades. O concerto de aniversário propriamente dito realizar-se-á a 23 de Maio, às 20 horas, no auditório da Casa do Povo da Camacha. O objectivo é convidar antigos coralistas a participarem na interpretação de pelo menos uma peça, ampliando assim significativamente o coro habitual para esta ocasião. O repto será agora lançado, para tentar obter o máximo de adesão. Até agora, as pessoas que já foram contactadas, e que já pertenceram ao coro ao longo destes 25 anos de história, mostraram-se receptivas.

Em Junho, o Coro efectuará uma digressão fora da Região, “porque já há algum tempo que não saímos e porque temos recebido outros grupos no evento ‘Polifonias’, que organizamos anualmente”.

“Este ano vamos ao encontro de um desses grupos, que fez muita questão de que nos deslocássemos ao seu ‘terreno’, em Gouveia; deslocar-nos-emos lá na última semana de Junho”, informa.

Depois, provavelmente será também realizado um concerto de associação aos 500 anos do concelho, em Santa Cruz, no Salão Nobre da Câmara, mas com data ainda indefinida.

25anos

25 anos depois de ter iniciado actividade no coro, a maestrina Maria dos Anjos diz que sim, que foi compensador. “Caso contrário, não estaria ainda aqui. Mas devo ser sincera: também passei por momentos de algum desencanto, e de pensar abandonar as coisas. Mas sou persistente e positiva e, como acredito sempre que virão dias melhores, fui ultrapassando esses obstáculos e desencantos, também por admiração e respeito por pessoas que estão lá desde o primeiro dia”. A verdade é que, como maestrina, a nossa interlocutora não aufere qualquer pagamento da Casa do Povo. Nunca auferiu. E ainda teve de ouvir quem lhe dissesse, sem mais nem menos, que deveria trabalhar “apenas por amor à Camacha”. Simplesmente, a partir de determinada altura, a Secretaria Regional da Educação passou a conceder-lhe uma redução de horário na sua componente lectiva na escola para continuar com o trabalho que vem desenvolvendo. E foi tudo. “Obviamente que dou muito mais horas ao coro do que aquelas que a escola me concede, e obviamente que também dou muito mais horas à escola do que aquelas que realmente tenho em termos de horário. Portanto, acabo por não ter qualquer compensação. Mas sim, não é por aí. Se fosse só para fazer as coisas por dinheiro, já não havia nada. O Coro durou 25 anos com muito carinho e dedicação de pessoas que o desenvolveram e foram aguentando”, conclui.