Dez pinturas restauradas regressam à Igreja do Arco da Calheta

 

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Pinturas do século XVI, XVIII e XX, que foram recentemente alvo de restauro, vão regressar no dia 7 de fevereiro à Igreja de São Brás, no Arco da Calheta. A apresentação das obras aos paroquianos decorrerá pelas 18h30, antes da celebração da Eucaristia.

Do conjunto de obras intervencionadas, que vão regressar à Igreja do Arco da Calheta, três datam século XVIII, do pintor madeirense Nicolau Ferreira, e uma do alemão Max Römer.

O núcleo mais antigo, relativo ao século XVI, é composto por seis pinturas: São Brás e os doadores, Ressurreição, Descida da Cruz, Apresentação do Menino Jesus no Templo, São Tiago Maior e Santa Catarina.

As obras, que brevemente poderão ser observadas com o brilho de outrora, têm um longo percurso histórico embora subsistam ainda algumas lacunas. A proveniência destas pinturas não está “claramente documentada”, conforme refere a propósito Isabel Santa Clara, professora aposentada da UMa. A investigadora, que tem realizado estudos sobre o tema, adianta ainda que as mesmas terão feito parte de um “desmembrado retábulo, talvez o que foi oferecido pelo rei à matriz do Arco da Calheta em 1577”.

A autoria das pinturas é atribuída ao Mestre de Abrantes, pintor português que segundo alguns historiadores é identificado como Cristóvão Lopes, filho de Gregório Lopes, ambos pintores régios.

Trata-se, conforme refere a investigadora, “de um núcleo de pinturas de muita qualidade dentro do melhor que ao tempo se fazia em Portugal. A documentação escrita é escassa e lacunar e persistem muitas perguntas por responder. Isso justificaria um trabalho aprofundado de investigação de uma equipa multidisciplinar de modo a integrar estas peças na produção nacional e rever o corpus de obras atribuídas ao Mestre de Abrantes”.

Marília

Quanto à qualidade destas peças diz que “há muito que tinha sido notada, apesar da camada de sujidade da superfície pictórica e em boa hora foram restauradas”. Na sua opinião, o restauro foi consciencioso e correto, feito “com o maior respeito pela integridade das peças e optando sempre pela reversibilidade das intervenções. Nas condições ideais, teria sido acompanhado por exames laboratoriais e fotográficos que permitissem mais informação acerca do suporte, desenho subjacente, tipo de pigmentos, etc. e por uma equipa de historiadores de arte”.

Todos os trabalhos de restauro foram da responsabilidade do Atelier  Isopo. Marília Carvalheira, técnica responsável, diz que as pinturas quinhentistas, a óleo sobre madeira, apresentavam um adiantado estado de degradação. “Apesar de não existirem repintes, tinham sofrido algumas intervenções com massas antigas. Foram fixadas, efetuou-se a reconstituição de lacunas e uma reintegração cromática, dentro do que se exige em restauro, sem interferências na pintura original. A madeira de suporte encontrava-se também bastante danificada por insetos xilófagos. Procedeu-se à desinfestação e consolidação, pelo verso, sem preenchimentos significativos”, acrescenta.

O restauro, agora realizado, permitiu um novo olhar. Conforme explica o padre João Carlos Gouveia, pároco da freguesia, haverá uma reorganização e as obras serão dispostas na igreja atendendo às escolas artísticas a que pertencem.

Em termos financeiros, a intervenção contou com um apoio variado. A paróquia custeou duas obras, o Millennium BCP outras duas, assim como o grupo empresarial AFA Vias. O custo de um restauro foi assumido por um particular, outro pela Câmara Municipal da Calheta e o mesmo aconteceu com a Junta de Freguesia do Arco da Calheta.

A Igreja do Arco da Calheta vai assim mostrar, por ocasião da festa ao padroeiro, um património revitalizado.

Descida da Cruz