O “enterro” da chamada “extrema esquerda”

A chamada “extrema esquerda” portuguesa, cujas posições, diga-se em abono da verdade, nem são, na sua maioria, extremistas por aí além na sociedade de hoje, sofreu inequívocamente nestas eleições regionais uma pesada derrota. Bloco de Esquerda e CDU saem do parlamento regional, onde passam a não contar com nenhum deputado. Uma situação que gera menos diversidade política e opinativa, mas que foi determinada pelos eleitores, pelo que não há, portanto, que chorar sobre o leite derramado. Assim pensam, pelas suas declarações públicas, os candidatos de BE e CDU, nas palavras de quem, todavia, é possível discernir alguma dificilmente contida amargura.

Da parte do Bloco, Roberto Almada procurou demonstrar naturalidade e visão de futuro, apontando já para as próximas eleições europeias.

“Reagimos com um misto de tristeza, naturalmente, mentiríamos se não disséssemos isto, mas também com alguma naturalidade. Este foi o resultado que os madeirenses e porto-santenses escolheram (…) E desse ponto de vista, só temos que respeitar, mesmo discordando dessa decisão”, respondeu, interpelado pelos jornalistas a respeito destes resultados eleitorais.

Agradecendo às mais de duas mil pessoas que votaram no BE, Almada garantiu porém que o partido, não estando no parlamento, estará nas ruas, junto das pessoas.

“Esta saída do parlamento, já é a terceira vez que nos acontece, mas nós das duas outras vezes, voltámos sempre, pelo que haveremos de voltar. Agora temos a partir de terça-feira uma campanha para as europeias, para colocar na rua”, declarou. Tudo para levar as preocupações da Madeira “a esse importante palco, que é o parlamento europeu”.

Por seu turno, Edgar Silva, nesta noite desmoralizante, considerou acima de tudo que esta é uma derrota do povo.

“Não é novo o facto de a CDU perder a sua representação parlamentar. Mas é um factor muito desfavorável, um factor adverso para o povo, para dar voz aos direitos de quem trabalha”, constatou.

“O que vai acontecer à CDU a partir de hoje? Vamos trabalhar”, prometeu. “Vamos trabalhar, é verdade que com menos meios, de intervenção política, institucional, a capacidade propositiva… não é a CDU que fica mais limitada; os direitos de quem trabalha, o povo, ficam mais condicionados, mais limitados”.

“Mas é com esta força que o povo nos deu, que nós vamos para o combate”, acrescentou.

“O parlamento perde a voz da CDU, que é a voz do compromisso com a justiça social, a única força política que faz do combate às desigualdades, do combate à exploração, o primeiro e maior compromisso”, concluiu.