
Tem 88 anos de idade mas fala do ambiente, nomeadamente da riqueza das florestas, com a paixão e entusiasmo de um jovem. O professor doutor Jorge Paiva foi o orador de uma palestra, hoje, na Escola Secundária Jaime Moniz sobre “a devastação das florestas e a perda da biodiversidade no planeta Terra, uma ilha do universo”, que não deixou os alunos e os professores indiferentes. A frescura dos 88 anos do professor e a forma apaixonada com que defende as florestas face aos constantes abusos da ação humana foi uma das lições deste encontro.
Nascido em 1993, em Angola, licenciado em Biologia e doutorado em Recursos Naturais e Meio Ambiente, o professor doutor Jorge Paiva foi investigador principal na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra onde lecionou algumas disciplinas. Está hoje aposentado, mas sempre ativo em defesa da questões ambientais e procura falar claro às plateias, com um saber feito de experiência, particularmente nas florestas tropicais.

Ana Isabel Freitas, presidente do conselho executivo da ESJM, deu as boas vindas ao professor, enquadrando esta palestra no âmbito da aposta da instituição em estimular o pensamento crítico dos alunos e de toda a comunidade educativa, através da reflexão sobre as questões ambientais emergentes.
Com uma linguagem concreta e fazendo da sua experiência de homem no terreno a matéria-prima das suas abordagens, o investigador discorreu sobre as implicações da devastação florestal na perda da biodiversidade dos ecossistemas terrestres, projetando vários diapositivos das suas missões de investigação, através dos quais procurou demonstrar o efeito corrosivo para os ecossistemas resultante do corte insano das florestas. Importante foi o repto que lançou aos jovens presentes no sentido de dizer “não” a estas agressões ao ambiente, convidando-os a agirem em defesa de uma desenvolvimento terrestre sustentável.
Deixando as teorias nos gabinetes, o professor Paiva começou a sua alocução com a simples história de quem tem um passarinho e o que deve fazer em termos de cuidados, desde a alimentação, a água e a própria limpeza da gaiola. Depois do exemplo básico, o salto para os pulmões do mundo, as florestas. “Uma floresta é um ecossistema de uma riqueza brutal”, insistiu. Desde miúdo, o professor Paiva tem trocado o comodismo das habitações para estar em comunhão com a natureza, estabelecendo com ela uma relação de admiração e respeito mútuo. Infelizmente, nos últimos anos, “o homem anda a brincar com estes ecossistemas”. Por isso, deu o exemplo da ilha de Páscoa, no Chile, onde o número de habitantes decresceu significativamente porque derrubaram a floresta, permanecendo apenas as estátuas de pedra como atração turística. O mesmo está a acontecer com a Islândia.
A “fobia às árvores”, situação que também acontece em Portugal, por razões economicistas, determina a deflorestação: corta-se tudo, sem sequer deixar o tronco, aniquilando as hipóteses de recuperação, passando o homem a ser autor de um desenvolvimento não sustentável. O mesmo acontece na Amazónia. “Os europeus são muito culpados porque compram essa madeira, sem sequer questionar a sua origem”, alertou o orador.
Como consequências deste corte desequilibrado da florestas, surgem os incêndios, como acontece em Portugal, “porque enchemos o país de eucaliptos e pinheiros que não servem para nada”.
Com firmeza, o orador-convidado alertou os jovens para a gravidade de se estar “a transformar o globo terrestre num deserto de rochas ou de areias”. Consequentemente, “os jovens têm de lutar, porque somos hoje uma espécie muito vulnerável a vários perigos”.
Recorde-se que esta conferência foi destinada à comunidade educativa da instituição e foi promovida pela coordenação do Projeto Erasmus KA2-Island Diversity for Science Education (IDverSE), da ESJM. Integrada no plano de atividades do Projeto Erasmus 2017-1-PT01-KA201-035919 (IDverSE), para o ano letivo de 2020/2021, pretendeu sensibilizar os jovens alunos para uma participação e cidadania ativas em questões de natureza e interesse global, nas quais se incluem as implicações da devastação florestal na perda da biodiversidade dos ecossistemas terrestres.
O programa da vinda do Professor Jorge Paiva à Madeira foi organizado pelas docentes Cecília Ferreira e Fernanda Freitas, contando, igualmente, com a colaboração da docente Celina Pereira, da Escola Secundária Francisco Franco, e outros ex-alunos do professor.