Estepilha: O Sr. Campanella do Bazar do Povo bem ajudaria quem precisa…

Rui Marote

O Estepilha empenha-se em não prejudicar nenhuma candidatura, sem deixar de comentar um “fait divers” curioso. Trata-se de um líder ambicioso em campanha, que deixou bem clara, num programa de TV, a sua ambição. Não sabe quantos votos terá nas urnas, nem quantos deputados elegerá. Até arrisca eleger um, ou nenhum. Mas já diz querer ser Ministro da Defesa.
O pior cego é aquele que não quer ver, já diz o provérbio.
A citação de hoje, a respeito: “Fazei sair o povo que tem olhos, mas não consegue enxergar; e os que têm ouvidos, mas que perderam a capacidade de escutar” (Isaías 43:8)…
D. Luísa de Gusmão, a espanhola rainha de Portugal, esposa de D. João IV, celebrizou a frase: “Antes rainha por um dia que duquesa toda a vida”… Mas D. Luísa retirou-se da vida pública para clausura no Convento dos Agostinhos Descalços…
Tudo isto faz ao Estepilha recordar uma história engraçada, a do Sr. Campanella, do Bazar do Povo.
Era  jovem e saía do colégio do Caroço de regresso a casa. Em tempos chuvosos entrava na porta do velho e tradicional Bazar do Povo no largo do Chafariz, e permanecia no seu interior ate que a chuva parasse. Ficava extasiado com os olhos fixos no vaivém das caixinhas aéreas, sistema de transporte e pagamento sofisticado para a época. Logo à entrada, do lado esquerdo, existia a secção de óptica, chefiada por um homem de estatura baixa, chamado Campanella, de origem espanhola.
A secção era muito procurada pelas nossas bordadeiras, que recorriam à mesma devido à falta de vista para o perto.
Na maioria eram mulheres que não sabiam ler nem reconheciam as letras. Campanella tinha um método eficaz a que recorria para acertar na graduação exacta. Colocava nas mãos das clientes uma agulha e uma linha. Exclamava: “Tenta enfiar a linha no buraco da agulha…” O Campanella lá ia colocando óculos de diversas graduações, e quando a velha bordadeira conseguia enfiar a linha,  exclamava: “São estes! Nunca falha!”.
Este episódio faz-nos pensar em alguém que não consegue enxergar a sua verdadeira dimensão… E que bem precisaria da ajuda do Sr. Campanella.
Encerramos ironicamente este Estepilha com a letra da canção do filme datado de 1933, “Canção de Lisboa”:
“Ai chega, chega, chega

Chega, chega ó minha agulha
Afasta, afasta afasta
Afasta o meu dedal
Brejeira, não sejas trafulha
Ó linda vem coser o avental!”