Idosos surdos ou com demência e as difíceis visitas nos lares; excesso de zelo?

Uma foto publicada pela cidadã nas redes sociais, documentando as condições da visita.
Uma publicação nas redes sociais, nomeadamente no site “Ocorrências na Madeira”, narra a experiência de uma cidadã ao visitar um familiar e interroga o seguinte, nomeadamente ao “Sr. Presidente do Governo, ao Sr. Director da Saúde e à direcção do Atalaia Living Care”; nomeadamente, se “estas são condições HUMANAS para visitar um doente com mobilidade reduzida, com problemas de surdez (..,)”. Reputamos a publicação como de interesse público. A mesma vai ao encontro de dúvidas que o FN já colocou às entidades oficiais há mais tempo.
A cidadã que fez a publicação refere que para efectuar uma visita na supracitada instituição é necessário estar do outro lado de uma divisão acrílica com algumas aberturas, de máscara e, naturalmente, ter teste negativo e vacinação em dia.
O problema é que a comunicação torna-se muito difícil nestas condições, e ao lado “estava outra visita a outro utente na mesma situação (aos gritos)”, uma vez que o diálogo entre visitado e visitante, assim, se torna quase inviável.
“Dizem que vozes de burro não chegam ao Céu!! Eu sinceramente só queria que a minha chegasse (…), diz a cidadã, dirigindo-se às supracitadas entidades. E deixa a interrogação: “Isto são as condições que nos apresentam por uma vida inteira de descontos e de luta?”
A questão levantada é relevante e vai ao encontro de uma descrição de situação similar colocada há meses ao presidente do Governo Regional e ao secretário regional da Saúde, pelo jornalista do FN. Questionámos, na altura, se seria aceitável visitar pessoas que sofrem de patologias como surdez ou demência, a dois metros de distância (no caso de certos lares) e com este tipo de separação, noutros.
Na altura Miguel Albuquerque respondeu-nos que os familiares de pessoas que estivessem nos lares nestas condições específicas deveriam expor a situação a Pedro Ramos, para análise caso a caso, e que a prioridade tinha, no entanto, de ser a preservação da vida humana face à pandemia de Covid-19.
Porém o jornalista do FN apresentou por escrito um caso concreto e sugeriu a adopção de medidas diferenciadas e generalizadas para estas patologias por motivos humanitários, pois a solidão dos idosos que sofrem de problemas como demência ou surdez acentua-se com o distanciamento dos familiares. Familiares esses que, para visitar os seus idosos, já têm de estar devidamente vacinados e testados e cumprir uma série de medidas profilácticas.
Porém não recebemos qualquer resposta de Pedro Ramos. Voltámos a interrogar Albuquerque sobre o procedimento caso a caso que antes mencionara, mas o presidente limitou-se a dizer que o secretário “responde” de facto aos cidadãos (o que não aconteceu ao jornalista) e seguiu adiante.
A questão é relevante numa altura de Inverno em que os idosos são novamente trancados, quiçá durante meses, nos lares sem poderem sair, por medida de segurança, e em que as visitas são reduzidas a um familiar, meia hora por semana.
Para certos idosos, isto poderá eventualmente significar não morrer de Covid-19, mas sim de solidão e tristeza, se não houver atenção a determinadas condições clínicas dos mesmos.
Aspectos a ponderar, achamos nós, sempre equilibrando a razoabilidade das medidas de cuidado a tomar.