Rui Marote
O FN regressou à Sé do Funchal no dia seguinte a noticiar que caiu do tecto manuelino em obras um balde de tinta branca atingindo os fiéis que assistiam á liturgia diária. Sabemos que uma senhora ficou totalmente pintada da cabeça aos pés, sendo porém prontamente socorrida; e que para sair do templo foi necessária uma muda de roupa.
Mais tarde recebeu do pároco um telefonema lamentando o sucedido e que apresentasse as despesas. Ninguém, claro, está livre destes acidentes, mesmo na casa de Deus.
Aproveitámos no entanto para percorrer toda a nave do lado esquerdo e direito e nos inteirarmos do andamento dos trabalhos. Há uns meses atrás, alertámos para os novos confessionários instalados a despropósito, estilo “guarda-fatos”. Só nos faltou do indignado pároco a excomunhão, por informar…
Hoje chamou-nos a atenção a colocação no lado esquerdo de um novo “altar” com uma imagem de Nossa Senhora das Dores, que fazia parte da procissão do enterro do Senhor, para adoração e angariação de umas moedas em troca de uma luzinha que se acende por alguns minutos.
Na nave lateral do lado sul, temos por sua vez o altar de S. Miguel Arcanjo, tendo a imagem do arcanjo sido adquirida pela antiga confraria de S. Miguel, nos fins do século XVII. A seu lado, estão as imagens dos princípios do século XVII de S. Crispim e S. Crispiniano, dois irmãos mártires e padroeiros dos sapateiros.
Aqui surge entretanto uma alteração: uma nova imagem, bem no centro, de uma santa sentada: trata-se da Virgem de Coromoto, padroeira da Venezuela não faltando a caixa de luz.
Achamos que a Sé, a nossa jóia da coroa não pode estar à mercê de renovação de mobiliário e substituição de imagens como fosse uma galeria.
Visitei a Índia por cinco vezes e não conheço no mundo país mais idólatra. Há centenas de deuses, um para cada solicitação. Já não falando na vaca ou no búfalo.
Quando estive em Eféso percorri o teatro onde o apóstolo Paulo alegadamente pregou para 25.000 pessoas. Ali estava o templo de Diana.
Vivia nesta cidade um artesão riquíssimo de nome Demitros que fabricava e vendia estátuas de Diana. Paulo denunciou esses falsos deuses. Conclusão: teve que fugir para as montanhas.
Imagens são coisas criadas por homens, sem poder algum. Uma imagem não ganha o poder de uma divindade nem pode fazer nada pela pessoa que a adora. Pôr sua confiança em uma imagem é um grande erro, alertam-nos os críticos da idolatria. Que ainda é aparentemente bastante seguida na Igreja Católica.
Outra coisa que se pode criticar é, também, o eventual mau gosto decorativo, numa igreja manuelina emblemática da nossa História…